Os candidatos à Presidência da República têm falado de tudo. Há idéias, propósitos, um esforço em favor de continuidade de programas, uma visão, invariavelmente esquemática e apressada das prioridades na saúde, educação e transportes, mas tudo calcado em cima do imediatismo ditado pelas conveniências do marketing político. É como se o foco das eleições em nenhum momento considerasse o País como um grande conjunto, mas apenas seus fragmentos e, mesmo assim, à luz de promessas que podem se comprovar inviáveis, nos limites do quadro econômico, imediatamente depois que o candidato subir a rampa do palácio presidencial.
Pode-se até afirmar que sempre foi assim, e que um projeto estruturado, coerentemente amarrado, que espelhe as aspirações gerais, dificilmente seria absorvido pelas diferentes camadas da população. Daí se partir para o fragmentário, os temas facilmente assimiláveis e as promessas que são feitas mais para convencer do que para serem integralmente cumpridas.
Não se pode dizer que a operação do maior programa de privatizações já ocorrido no País, durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, haja constituído um projeto de Nação. E o Programa de Aceleração do Crescimento, deflagrado no segundo governo Lula da Silva, e que amarrou as pontas de um conjunto de projetos de governos anteriores, também não pode receber semelhante qualificação.
Curiosamente, na interpretação de importantes analistas das questões do desenvolvimento brasileiro, os projetos que mais se aproximaram daquilo que podemos considerar como a base de um projeto de Nação, foram o Plano de Metas do governo JK, elaborado a partir de estudos do economista e pensador Celso Furtado, prevendo que o Brasil poderia crescer 50 anos em cinco, e o I e o II Planos Nacional de Desenvolvimento Nacional (PND), elaborado no ciclo dos governos militares e mais fortemente cumprido ao longo do governo Geisel.
Anteriormente, o governo Getúlio Vargas também desenhara um projeto de Nação. Levado pelas circunstâncias internas e, sobretudo, externas, produzidas pela escalada da guerra contra o nazi-fascismo, ele induziu o Estado a realizar investimentos destinados a formar um capital produtivo, direcionado para a constituição de indústrias de base. No governo Vargas foram criadas a Companhia Siderúrgica Nacional, a Companhia Vale do Rio Doce, a Petrobras, a Eletrobrás e outras que permitiram, ao Brasil, capacitar-se para criar ou modernizar a infraestrutura que ainda hoje subsiste.
Os programas de desenvolvimento do governo Lula da Silva não podem ser considerados como uma inflexão significativa para uma política desenvolvimentista. Eles têm em vista mais o atendimento das exigências do mercado, do que o atendimento aos diversos vetores das atividades produtivas.
Um projeto de Nação, hoje, poderia ter como pano de fundo as perspectivas que se desenham para 2022, quando será celebrado o bicentenário da Independência do Brasil. Prever, por exemplo, um crescimento estruturado, sustentável, conduzido de modo a explorar as amplas riquezas, condições e peculiaridades regionais, inclusive a biodiversidade, de maneira a resolver, sem assistencialismo, mas com a oferta de empregos e trabalho produtivo, as questões dos bolsões de pobreza e miséria; aproveitar a consciência que aos poucos toma conta de grandes regiões do mundo, no que se refere ao respeito ao meio ambiente e à convicção da inevitabilidade das mudanças climáticas, para fortalecer políticas nesse campo; retomar o planejamento de longo prazo e envolver instituições, lideranças empresariais e o conjunto da sociedade em projetos que estimulem e aperfeiçoem o conhecimento. Viver de exportação de commodities tende a eternizar uma política que tem raízes na época da Colônia, quando o ouro do Brasil era levado para sustentar a Corte portuguesa.
A propósito, a OE e a Totvs estão programando para o dia 27 de outubro próximo, em São Paulo (SP), um fórum temático que considera essas análises e que pode constituir subsídio para projeto dessa natureza, dedicado aos presidentes das empresas de engenharia. O programa preliminar do fórum está publicado, junto com matéria específica, nesta edição.
Fonte: Estadão