Falha geológica é superada na construção de túnel na zona portuária

Compartilhe esse conteúdo

Fundsolo resolve em 20 dias problema que emperrava obra havia oito meses; a solução credencia a empresa para outros trabalhos complexos na região

José Carlos Videira

 

Os 27 anos de experiência da Fundsolo foram decisivos para que a empresa resolvesse um problema que atrasava o andamento de um dos túneis do Porto Maravilha, na região central da cidade do Rio de Janeiro. Uma falha geológica de mais ou menos 20 m comprometia todo o cronograma da obra do túnel de 3 km de extensão, que faz parte do projeto de revitalização da zona portuária da capital fluminense, que deve estar concluída por ocasião dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.
 

Quando a Fundsolo foi acionada, já haviam sido feitas diversas tentativas para superar a falha, que segurava a escavação do túnel por oito meses. Segundo o engenheiro civil e empresário Márcio dos Santos, fundador da Fundsolo, já haviam sido tentados todos os processos existentes de tratamento de túnel. “Jet grounting horizontal e vertical e até uma técnica autoperfurante recém-trazida do exterior”, todas sem sucesso, lembra Márcio.

 

Ele conta que a falha apresentava “um alto índice de rejeito, com um gradiente hidráulico muito forte”, sob a Praça Mauá, no coração do Rio, bem próximo do Museu do Mar. A empresa, com experiência em obras de hidrelétricas, metrôs e estradas pelo Brasil afora, topou o desafio de resolver o impasse.

 

“Reunimos nossos melhores profissionais, nossas melhores máquinas e toda a tecnologia que acumulamos ao longo de todos esses anos de operação da empresa”, relata o empresário. Márcio diz que foi acionado por um engenheiro da Odebrecht, para quem a Fundsolo já havia solucionado problemas semelhantes. “Levei meu encarregado, que tem 40 anos de experiência, meu geólogo e o meu melhor operador de máquinas”, ressaltou. Segundo ele, em menos de 30 dias, a falha foi vencida por sua equipe.

 

Márcio dos Santos, fundador da Fundsolo: “Reunimos os melhores profissionais”

 

“Durante uma semana, estudamos o problema e preparamos um laudo técnico para nos orientar nos trabalhos de campo”, relata o engenheiro, que participou pessoalmente do desafio proposto. Ao todo, cerca de 35 profissionais da Fundsolo participaram diretamente da operação para solucionar o problema. “Nossa equipe trabalhou durante 20 dias ininterruptos, em dois turnos de 10h (8h mais 2h extras)”, destaca.

 

Água no túnel

O trabalho começou com uma pré-consolidação da falha, ou pré-grounting. Na primeira perfuração, nos 20 m de falha, Márcio lembra que houve uma enorme vazão de água, de aproximadamente 150 litros por minuto. “E não poderíamos deixar essa água escorrer, porque se corria o risco de um recalque sensível do túnel que poderia comprometer a sua estabilidade”, relata o engenheiro.

 

Ele explica que não daria para fazer o jet grouting por cima, “porque pararíamos a praça Mauá”. Ele diz que a opção foi por colunas horizontais. “Por isso, era necessário fazer a pré-consolidação da área.”

 

Para vencer a falha geológica, a Fundsolo levou ao local seus equipamentos mais modernos e técnicos mais experientes
 

Márcio conta que foram usados todos os tipos de equipamentos de perfuração, tais como rotatores hidráulicos, com martelos de fundo. “Nos setores circulares dessa falha, funcionou”, lembra o engenheiro. Ele ressalta que, em outros lugares, a rocha apresentava características geológicas e geotécnicas diferenciadas. “Tivemos de usar outros tipos de perfuração, que foram martelos de superfície com bites e guias especiais, minimizando os desvios nas perfurações, para que os trabalhos fossem feitos onde tinham de ser feitos”, explica.

 

Detalhe do trabalho dos profissionais da empresa no setor onde havia a falha

 

“Como existia um alto gradiente hidráulico sob o teto do túnel, obturamos em vários pontos para fazer a retenção da água, para que o recalque não aumentasse”, informou.

 

Patente

Quando conseguiram sanar o vazamento, na primeira etapa de pré-consolidação dessa seção de túnel, entre a abóboda e as hasteais do túnel, Márcio diz que entraram com a enfilagem tubular, com tubo de aço. “Atravessamos a falha, e fomos embora.”

Trecho finalizado do túnel com o problema solucionado

 

Ele guarda a sete chaves a técnica que possibilitou resolver um problema que ninguém havia conseguido. Tanto é que a Fundsolo está tentando patentear a solução encontrada, revela. “Há 27 anos, começamos a trabalhar em barragens, onde se depara com todo tipo de formação geológica”, frisa. E esse tipo de obra “forma grandes profissionais”, afirma Márcio.

 

Solução vira passaporte para novas obras

O trabalho bem-sucedido para a Odebrecht na solução da falha geológica do túnel do Porto Maravilha acabou credenciando a Fundsolo para outras obras, relata Márcio. “Primeiramente, depois de surpreender a todos com o resultado positivo, continuamos na obra, e estamos lá até hoje”, diz. Ele explica que, até então, não atuavam no Porto Maravilha, mas foram convidados a permanecer na obra.

 

A partir dessa solução, conquistaram outros empreendimentos, como a obra da Nova Subida da Serra de Petrópolis. “Quiseram saber quem havia vencido a falha”, diz, referindo-se aos responsáveis pelo consórcio que vai construir o maior túnel rodoviário do País.

 

O bom desempenho no Porto Maravilha, segundo Márcio, também tem contribuído para ampliar o portfólio de obras da Fundsolo. “Atualmente, estamos em cinco obras de túneis, incluindo os do Rio de Janeiro”, frisa o diretor. Segundo ele, todas as obras vieram depois da notoriedade conquistada com a solução da falha
, entre elas, no Rodoanel Oeste e no Centro-Seco, obra contra enchentes em São Bernardo do Campo (SP).

 

Laudo geológico é peça fundamental

 

Importante peça no quebra-cabeça em busca de uma resposta ao desafio imposto, o laudo geológico da Fundsolo foi fundamental para subsidiar a estratégia de como atravessariam a zona da falha, afirma Márcio. “Em todos os nossos trabalhos procuramos integrar a geotecnia e a geologia”, explica. Segundo ele, nas obras em que atuam, há sempre o acompanhamento de engenheiros e geólogos.

 

Laudo: “A falha apresenta coluna extratigráfica típica, composta em sua base por rochas do embasamento cristalino, sobreposta por uma camada de rocha alterada, seguindo em direção ao topo por solos residuais e sedimentos quaternários e aterros de materiais diversos realizados por ações antrópicas.” Departamento de Geologia da Fundsolo.

Fonte: Revista O Empreiteiro


Compartilhe esse conteúdo

Deixe um comentário