Falta gestão, sobram obras paradas e não há anúncios de novos projetos

Num passe de mágica, de repente, não mais que de repente, eles,os governantes, percebem que seus discursos “de palanque” caducara me já não convencem mais ninguém. Onde está aquele eleitorado que eles supunham feliz e de bem com a vida, que seria levado ao delírio com os jogos-teste da Copa das Confederações e, em seguida, poderia ir à loucura com a Copa do Mundo de 2014 – um ano de eleições? E onde está aquele povo todo, beneficiado com o bolsa-família, que, aliás, já existia no governo FHC e apenas acabou turbinado no governo Lula?

Os governantes em Brasília, nas sedes dos governos estaduais e nas prefeituras, viram, provavelmente sem entender, que os 20 centavos no transporte público em São Paulo e em outras capitais serviram de estopim para um movimento gigantesco de protesto de uma população cansada de ser alijada do processo político, enquanto eles, governantes e integrantes do Legislativo, se fartavam na farra com os recursos públicos.

O governo, nas três instâncias, diz não poder subsidiar integralmente o custo do transporte de massa, enquanto cada deputado federal e seu gabinete têm custado, ao menos até o ano passado, perto de R$ 130 mil mensais; cada parlamentar estadual, em São Paulo, mais de R$ 100 mil;e cada vereador paulistano, R$ 115 mil. As viagens internacionais, de 2011 e 2012, do governo federal, custaram aos cofres públicos, segundo apurou a imprensa, US$ 3,897 milhões (ou quase R$ 9 milhões).

Enquanto isso, o Hospital das Clínicas de São Paulo, considerado um modelo de excelência em medicina, continua funcionando com um Pronto-Socorro em que os pacientes ficam em macas nos corredores devido à lotação dos ambulatórios e apartamentos. Exames demoram um dia inteiro para ser feitos. E, caso o paciente não corra risco de morte, provavelmente será medicado e mandado para casa. E, para novos exames marcados, terá de enfrentar novamente um dia inteiro na fila de espera. Não é desleixo do corpo clínico, mas faltam instalações, médicos,enfermeiros e atendentes.

Os metrôs das capitais brasileiras estão muito aquém da demanda reprimida, que são os passageiros dos ônibus superlotados, micros e vans. O recordista é a cidade de Salvador, que ao longo de mais de 13 anos só conseguiu construir 6 km de linha e ainda não funciona.Guardadas as proporções, o metrô paulistano também não tem de que se vangloriar. Começou a surgir na mesma época da construção do metrô da Cidade do México, que hoje opera com 202 km de linhas, contra 74km da rede paulistana.

Os estádios da Copa do Mundo foram inaugurados, para felicidade dos dirigentes da Federação Internacional de Futebol (Fifa), mas o entorno,as obras de transporte de massa para o público, sofrem com os atrasos. O Brasil vai realizar a Copa do Mundo mais cara da história. Mas qual vai ser o legado pós-Copa para a população? A cada dia, os governantes,nas instâncias federal, estadual e municipal, anunciam novos planos e projetos, mas sem nenhuma novidade, uma vez que repetem promessas feitas a cada eleição. Eles ainda não se convenceram de que o que falta é capacidade de gestão desses projetos e programas, que se arrastam anos a fio, senão há décadas, e sempre inconclusos.

E como se gere? Ora, com profissionais treinados, sejam funcionários públicos, sejam técnicos de empresas contratadas via concorrência, que fazem as obras, projetos ou programas avançarem dia após dia, superando carências e dificuldades, inclusive interferências políticas. Uma atividade suada, mas indispensável, que está longe dos conchavos e acordos a portas fechadas, nos gabinetes de ar refrigerado, onde cada sentença pronunciada representa um fato consumado. Até que os protestos de rua apareçam e escancarem a dura realidade.

Fonte: Revista O Empreiteiro

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