A propalada Lei da Ficha Limpa, que teve origem em ampla movimentação popular, e que se destinava a bloquear o ingresso de fichas sujas no Parlamento, está sendo, como se previa, empurrada para futuro incerto e não sabido.
Quando a iniciativa popular começou, o empenho era para que ela pudesse ser colocada em prática imediatamente. Os políticos notoriamente corruptos estavam ali, defronte de todos, fortalecendo suas posições para garantir permanência na vida pública nacional e não teria sentido jogá-la para as calendas. Por isso, ao ser promulgada em junho de 2010, houve uma sensação de dever cumprido. Até que enfim – imaginou-se – algumas daquelas figuras carimbadas da corrupção brasileira seriam extirpadas das chamadas "casas do povo".
Nada disso aconteceu. Ela começou a arrastar-se pelos escaninhos do poder e, hoje, prolata o ministro Luiz Fux, recém-empossado no Supremo: "… é a lei do futuro".
Jânio de Freitas, em sua coluna na FSP de hoje, reproduz frase da ministra Ellen Gracie, segundo o colunista, com um leve toque de humor: "A Lei da Ficha Limpa permanece, o STF não derrubou a lei. Pelo menos por enquanto".
Teoricamente ela só deverá ser válida para as eleições de 2012. Mas, corre-se o risco de, em 2012, dizerem que ela só deverá ser válida para o ano seguinte e, assim, com sua validade transferida de um ano para outro, o sentido daquela grande iniciativa popular pode ir perdendo força, até transformar-se em mais uma frustração de dimensão continental.
Fonte: Estadão