Por quase seis anos na presidência da maior empresa petroquímica do País, o engenheiro químico José Carlos Grubisich deixou a Braskem em julho deste ano para tomar a frente da ETH Bionergia, também controlada pelo Grupo Odebrecht. Desde julho deste ano, ele ocupa o cargo de presidente da ETH que tem metas ambiciosas de estar entre as líderes do setor sucroalcooleiro. Nesta safra, a empresa vai moer 3,8 milhões de toneladas, volume que vai dobrar ano a ano até 2012.
Em entrevista concedida a este jornal, o executivo fala das oportunidades trazidas pela crise, das mudanças que observa na estrutura financeira do setor e anuncia que a ETH se prepara para abrir capital em 2012. “O nível de exigência do mercado daqui em diante será muito maior.
Acreditamos que em 2012 já teremos um histórico de competitividade para apresentar”.
Gazeta Mercantil – Estamos diante de uma crise grave no mercado internacional que, não se sabe ainda em que proporção começa a afetar o Brasil. Como o senhor avalia o momento para o País e para o setor sucroalcooleiro?
José Carlos Grubisich – É, a crise chegou. É óbvio que essa situação vai levar a uma concentração no setor sucroalcooleiro. Esse movimento já havia sido iniciado, mas ficou meio paralisado nos últimos 12 a 18 meses. Acredito que essa movimentação retornará com força nessa crise.
Gazeta Mercantil – A ETH tem plano de investimentos que inclui a implantação de dez usinas até 2015. Se essa crise trouxer oportunidades de compra de outras usinas, a ETH pode ampliar seu plano?
José Carlos Grubisich – Já há negociações na mesa. Obviamente, não podemos revelar nomes. Mas, apesar de estarmos abertos a oportunidades, elas devem se encaixar no perfil dos projetos da empresa, como por exemplo, estar integrada ao conceito de pólos de produção. Hoje, nossos projetos estão distribuídos em três clusters (São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás). Para nós, uma usina de localização isolada, não é uma oportunidade, mesmo que seu preço seja atrativo. Além disso, nossa visão estratégica é crescer em projetos greenfields, com alta eficiência industrial. Nosso conceito é que estamos produzindo commodities. E commodity é custo.
Gazeta Mercantil – Mas entre as oportunidades não há também projetos de usinas novas que atendam aos quesitos de alta tecnologia industrial?
José Carlos Grubisich – Sim. Há projetos novos, já concebidos, cujos proprietários estão sem capital para continuar investindo ou buscando parceiros para injetar capital em troca de participação no negócio. Estamos sendo convidados a ver esses projetos. Mas avaliar um ativo no setor sucroalcooleiro é uma tarefa muito complexa. Não adianta uma usina ser boa do ponto de vista industrial, se está localizada em uma região onde a terra não é adequada ao cultivo da cana. Você não terá um bom rendimento agrícola, que representa 65% do custo de produção de uma usina.
Gazeta Mercantil – Houve um erro estratégico dos novos entrantes do setor?
José Carlos Grubisich – Os fundamentos continuam positivos. O negócio de energia sustentável vem crescendo em todo o mundo. Até 2015 esse mercado vai duplicar.
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O erro foi que os empresários financiaram projetos de usinas, cujo retorno é de longo prazo, com linhas de financiamento de curto prazo.
Gazeta Mercantil – Qual o limite financeiro da ETH para aproveitar essas oportunidades?
José Carlos Grubisich – Em sua estrutura, a ETH é financiada em 40% por seus acionistas (sendo que 33% são a parcela da empresa japonesa Sojitz Corporation) e 60% de dívidas de longo prazo, que estamos buscando junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) e a outros bancos de desenvolvimento internacionais, entre os quais, o japonês JBIC. Já temos uma linha de crédito de R$ 1,2 bilhão no BNDES que deve ser aprovada nos próximos meses.
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Além disso a ETH tem capacidade própria de geração de caixa e está olhando oportunidades com responsabilidade. Estamos muito atentos à nossa estrutura de capital e aos nossos programas de endividamento.
Nessas informações é que está nosso limite.
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Gazeta Mercantil – Quanto a empresa investiu até agora no País?
José Carlos Grubisich – O plano todo, até 2015, é de R$ 6 bilhões de investimentos. Desse total, R$ 3,5 bilhões serão aplicados até 2012 para implantar a capacidade de moagem entre 25 milhões e 30 milhões de toneladas de cana. Estimamos que até junho do ano que vem teremos investido R$ 2,5 bilhões, o que inclui a aquisição e ampliação das usinas Alcídia (SP) e Eldorado (MS) e da construção de outras três plantas que começam a operar em julho do ano que vem.
Gazeta Mercantil – Até 2015, a meta é de ter dez usinas e produzir 3 bilhões de litros de etanol. Como a empresa se financiará até lá?
José Carlos Grubisich – A ETH tem em seu projeto a intenção de abrir capital. Mas isso vai acontecer a partir de 2012, quando haverá condições de medir o valor da empresa. Qualquer projeto de abertura de capital daqui em diante vai exigir um histórico de competitividade e eficiência. E estaremos preparados para atender essa expectativa em quatro anos.
Gazeta Mercantil – Com que produção a ETH vai encerrar a safra 2008/09 e qual o plano de comercialização de etanol para os próximos anos?
José Carlos Grubisich – Vamos moer 3,8 milhões de toneladas de cana nas duas usinas que estão em operação, a Alcídia (SP) e a Eldorado. Outras três vão entrar em operação em julho de 2009 e o processamento saltará para 8 milhões de toneladas (também com a ampliação das outras duas). A nossa produção de açúcar está sendo toda exportada e a de álcool, comercializada no mercado interno. Até 2015, o mercado de etanol será interno. Avaliamos que a abertura externa, de forma sistêmica, só começará a partir de 2012, quando o mercado negociará contratos de longo prazo, os países terão energia renovável integrando de forma mais sólida as políticas de segurança energética, além do amadurecimento da logística no Brasil.
Gazeta Mercantil – E como o senhor. avalia as conseqüências para o Brasil da vitória democrata nos EUA?
José Carlos Grubisich – Eu acredito que o Obama vai se mostrar mais positivo do que muitos imaginam. Ele é do Meio Oeste americano, a região de maior produção de milho do país, e, com certeza, apoiará a produção local desse grão e a de etanol. E isso é muito positivo ao Brasil na medida em que o programa mundial de etanol iria para o espaço se houvesse quebra do programa americano.
Fonte: Estadão