Com pouco mais de cinco anos de existência, a Gás Natural Açu (GNA) caminha para se tornar uma das maiores geradoras de energia termelétrica da América Latina. Estabelecida no Porto do Açu, em São João da Barra, norte do Rio de Janeiro, a empresa opera desde 2021 a UTE GNA I, com 1,3 GW de potência instalada, e está concluindo a UTE GNA II, que irá gerar 1,7 GW de energia. No total, a empresa está investindo R$ 12 bilhões, sendo R$ 5 bilhões aplicados na GNA I e o restante na GNA II.
Combinadas, as duas usinas irão gerar 3 GW, formando o maior parque termelétrico da América Latina, com capacidade para atender 14 milhões de residências. “Isso equivale a mais ou menos três estados do Sudeste, a região mais populosa do País”, revelou Julio Marcante, diretor de Implantação e Operação da GNA, durante o Fórum Infra 2025.
Segundo ele, com o complexo, a empresa responderá por 19% de toda a geração termelétrica do País. “O que é extremamente significativo, considerando que somos uma empresa ainda muito nova. Mas revela que estamos no caminho certo.” Ele completa destacando a importância da geração térmica para oferta de energia do País.
“A geração hidrelétrica no Brasil gira em torno de 65% a 75% da matriz energética brasileira. Contudo, a termelétrica tem uma função muito importante, de suprir em um momento de escassez, quando não há energia hidráulica suficiente, ou quando ocorre um aumento repentino da demanda, como na forte onda de calor ocorrida no final do inverno, concomitantemente com uma redução nos ventos no Nordeste”, explicou. “Todos querem e precisam ter energia disponível, para questões básicas, principalmente indústrias, hospitais. Porém, se não há energia hidrelétrica, solar ou eólica disponível, a termelétrica está lá para suprir”, frisou.
A UTE GNA I é composta por três turbinas a gás e uma turbina a vapor que, juntas, são responsáveis por gerar 1,3 GW em ciclo combinado, o que contribui para o aumento da eficiência na geração de energia, segundo a empresa. A energia gerada pela GNA I é conectada ao Sistema Interligado Nacional (SIN) por meio de uma linha de transmissão de 345 kV de aproximadamente 52 km de extensão, até a subestação de Campos dos Goytacazes (RJ).
Assim como a primeira térmica, a GNA II também será composta por três turbinas a gás e uma turbina a vapor, todas fornecidas pela Siemens, além de quatro geradores e três caldeiras de recuperação de calor. Com capacidade instalada de 1,7 GW – o suficiente para abastecer cerca de 8 milhões de residências – a GNA II também funcionará em ciclo combinado. A subestação da usina se conectará com o SIN por meio de uma linha de transmissão de 500 kV.
As obras da GNA II foram iniciadas no final de 2021 e estão com 85% dos trabalhos concluídos, com previsão de finalização total em dezembro de 2024 e início da operação em janeiro do ano seguinte. As obras civis, de infraestrutura e montagem estão a cargo da Andrade Gutierrez.
O projeto encontra-se na fase de montagem eletromecânica e preparação das áreas para receber os equipamentos principais. As turbinas a gás já estão chegando da Alemanha e são consideradas as mais modernas da atualidade. Segundo a GNA, elas são da classe HL e oferecem cerca de 60% a mais de eficiência e geram menos emissões de carbono e enxofre se comparadas às em operação atualmente no País.
Cada turbina tem capacidade nominal de 350 MW, pesa cerca de 310 toneladas e tem 12 m de comprimento e 5,3 m de altura. “A usina termelétrica de ciclo combinado é uma das tecnologias de maior eficiência hoje no mundo nesse segmento”, assinalou Marcante. Segundo ele, esse tipo de geração gasta menos combustível, gera menos resíduos ao meio ambiente, com ganhos significativos de eficiência. “Há uma combinação da geração com combustível e aproveitamento de calor com caldeiras para geração de energia sem uso adicional de combustível. De 1,3 GW, 466 MW são gerados sem o uso de nenhum combustível, somente com o reaproveitamento dos gases de exaustão.
Isso faz com que o projeto seja um dos mais eficientes.” Êle lembra ainda que a tecnologia empregada já vem pronta para operação com 50% de hidrogênio – as turbinas a gás da GNA II já estão preparadas para queimar hidrogênio. “Futuramente, além da geração termelétrica a gás, vamos utilizar hidrogênio para aumentar tanto a eficiência como diminuir qualquer tipo de impacto ao meio ambiente”, afirmou Marcante. Para abastecer as duas usinas, a GNA construiu e colocou em operação o terminal de regaseificação de GNL, o primeiro de uso privado do Brasil.
O processo de regaseificação é realizado em uma Unidade Flutuante de Armazenamento e Regaseificação (FSRU, na sigla em inglês) construída especialmente para atender ao projeto. O terminal tem capacidade de movimentar até 28 milhões de m³/ dia de gás natural.
Além do terminal, as usinas tem à disposição uma planta de dessalinização, permitindo que elas operem usando apenas água do mar, tornando-as independente da captação de água doce, evitando impactar no abastecimento da região e contribuindo para proteção dos recursos hídricos. Marcante também salientou os impactos positivos socioeconômicos e ambientais do empreendimento na região. “Temos um programa robusto de ESG, com foco no meio ambiente e nas ações locais. Um dos projetos envolve o fornecimento de telhados de energia solar para estimular a economia local. Na parte inferior dos telhados, é possível desenvolver projetos de agricultura. Temos também plantas eólicas e solares no Porto do Açu para fornecer energia às comunidades locais.”
Na construção do complexo termelétrico no Porto do Açu, a GNA informa a geração de cerca de 30 mil empregos diretos e indiretos, além de fomento de fornecedores locais e treinamento e contratação de mão de obra da região. No total, são mais de 16 mil equipamentos, material, concreto, sistemas prontos e outros a serem montados no sítio, sendo uma parte adquirida na região. A segurança do trabalho também foi priorizado. Apesar do cronograma agressivo de 40 meses para a construção de GNA II, não foram registrados acidentes graves. “Passamos de 34 milhões de homens/ hora trabalhados sem acidentes com afastamento.
Algo que a gente se orgulha muito”, pontuou Marcante. 3,4 GW ADICIONAIS LICENCIADOS Para o futuro, o executivo informou que a empresa já tem mais 3,4 GW licenciados para geração termelétrica. Também estão previstos novos gasodutos e terminais on shore de regaseificação ou liquefação no Porto do Açu, tornando-o um hub de gás natural. “Vai depender da demanda do mercado. Dependendo da necessidade, estaremos prontos”, sublinhou. A GNA é uma joint venture entre a Prumo Logística – proprietária do Porto do Açu, BP, Siemens e Spic Brasil, um dos cinco principais grupos geradores de energia da China e a maior geradora de energia solar do mundo.