Enel Green Power, subsidiária de geração renovável da Enel Brasil, está concluindo a segunda ampliação do parque eólico Lagoa dos Ventos, maior do gênero atualmente em operação na América do Sul. Batizado de Lagoa dos Ventos V, a nova etapa do projeto situa-se no município de Dom Inocêncio e terá potência instalada de 399 MW. Para construção desta fase do empreendimento, que deverá ser concluída em novembro, a empresa investiu R$ 2,5 bilhões. O complexo Lagoa dos Ventos está situado nos municípios de Lagoa do Barro do Piauí, Queimada Nova e Dom Inocêncio, no Piauí.

A primeira etapa do projeto – Lagoa dos Ventos I e II – iniciou as operações em 2021 e tem capacidade instalada de 726 MW. Ela possui torres de concreto de 120 m somando mais de 5 mil dovelas e turbinas fornecidas pela Acciona. Na primeira ampliação do complexo, foi construída o Lagoa dos Ventos III, com 396 MW de potência instalada, modelo de pás bipartidas e turbinas fornecidas pela GE. Essa etapa foi inaugurada em maio deste ano. Já o Lagoa dos Ventos V utiliza aerogeradores N163 (5,7 MW) do fabricante Nordex Acciona, com torres em concreto de 120 m de altura.
No total, ele terá 70 aerogeradores. A construção desta etapa está a cargo do Consórcio Elastri Cesbe, sendo que as obras civis estão sob a responsabilidade da Construtora A.Gaspar e Iberobras; a rede MT, pela TS Infra e STN; a subestação elevadora e bay de interconexão, via Siemens e Enind; e a linha de transmissão é compartilhada com Lagoa dos Ventos III. Já Nordex Acciona é responsável pela entrega e montagem de WTG.
As torres de concreto são produzidas a 30 quilômetros do parque, na fábrica da Nordex. Cada torre é composta por 25 dovelas de concreto, sendo transportada individualmente até a plataforma. Uma vez na plataforma, ela é montada diretamente para conformar as seções da torre. A energia gerada no complexo é conectada a uma subestação da Enel e depois retransmitida para uma linha de 500 kW para as redes da Chesf e da Cymi, entrando no Sistema Interligado Nacional (SIN).
Durante o Fórum Infra 2025, o diretor de B2B da Enel, Nelson Assumpção Neto, destacou alguns números da construção do Lagoa dos Ventos V. “Como curiosidade, para que as pessoas possam entender as dimensões de um projeto como esse, vamos a algumas comparações. Com a quantidade de aço empregada na obra – 21 milhões t – daria para construir três torres Eiffel. Já com a quantidade de concreto usada nas fundações – 225 km2 – daria para construir 173 Cristo Rendentor, e com a movimentação de terra – 5,4 milhões t – seria possível erguer quatro pirâmides de Gizé.
Sem contar que a capacidade instalada da planta permite fornecer energia para 13,4 milhões de pessoas, o que corresponde a toda população da cidade de São Paulo, a maior do País.” Com a conclusão dessa expansão do Lagoa dos Ventos, a capacidade instalada total do complexo atingirá mais de 1,5 GW, com 372 aerogeradores capazes de gerar mais de 6,7 TWh por ano e, segundo a empresa, evitar a emissão de mais de 3,6 milhões t de CO2 na atmosfera a cada ano.
O grupo Enel possui no Brasil uma capacidade total instalada renovável de cerca de 5 GW, dos quais mais de 2,5 GW são de fonte eólica. No Brasil, a Região Nordeste é a mais abundante em ventos de qualidade e vem se aproveitando dessa característica natural. Ela concentra 80% dos projetos eólicos brasileiros. “O País possui regiões com algumas das melhores condições de geração eólica do mundo, incluindo muitas áreas do Nordeste com ventos mais constantes, com velocidade estável e que não mudam de direção com frequência”, afirma Bruno Riga, responsável pela Enel Green Power Brasil. De acordo com Riga, a eficiência na qualidade da geração de energia eólica no País pode ser medida pelo fator de capacidade, um indicador que define o volume de energia que uma usina gera efetivamente em relação ao máximo que ela poderia gerar. “O Brasil é um dos países com o maior fator de capacidade do mundo. Dados do International Renewable Energy Agency mostram que o fator de capacidade médio alcançado pelas eólicas no Brasil, em 2021, foi de 52%, enquanto o mesmo índice mundial é de 39%”, revela.
O Brasil ocupa o sexto lugar no ranking mundial da produção de energia eólica, segundo a Global Wind Energy Report, publicação do Global Wind Energy Council (GWEC) – Conselho Global de Energia Eólica. Com 27,4 GW de capacidade instalada, a energia eólica já representa quase 14% da matriz elétrica brasileira e tem crescido exponencialmente nos últimos dez anos, devendo permanecer assim por algum tempo, segundo especialistas do setor.
TECNOLOGIAS DIGITAIS DÃO SUPORTE ÀS OBRAS
Tendo em vista a escala do projeto, a Enel Green Power informa que desenhou um layout de planta inovador e baseado numa avaliação precisa dos recursos eólicos para otimizar a produção de energia em Lagoa dos Ventos.
A empresa está utilizando uma variedade de ferramentas e métodos inovadores na construção do parque, como drones para levantamento topográfico, rastreamento inteligente de componentes de turbinas eólicas e plataformas digitais e soluções de software para monitorar e apoiar remotamente as atividades nos canteiros de obra, além de ferramentas de para projetos e acompanhamento da obra em 3D, 4D e 5D. “Todas essas soluções possibilitam uma coleta de dados mais rápida, precisa e confiável, aumentando a qualidade da construção e facilitando a comunicação entre os times dentro e fora da obra”, diz a companhia, em comunicado.
De acordo com a empresa, as inovações se estendem à segurança na execução do projeto, “reforçando o principal compromisso da Enel”. Em Lagoa dos Ventos, a empresa utiliza, por exemplo, sensores de proximidade em máquinas para aumentar a segurança dos trabalhadores. “Chegamos a ter no canteiro de obras, nos momentos de pico, cerca de 2.700 funcionários trabalhando. E tivemos o registro de apenas um acidente no Lagoa dos Ventos V. O número deveria ser zero, mas pela magnitude do projeto o índice de acidente por hora trabalhada é bem baixo”, afirmou durante o Fórum Infra 2025 o diretor de B2B da Enel, Nelson Assumpção Neto.
Êle lembrou também dos desafios para a conclusão das primeiras etapas e dos avanços das obras do Lagoa dos Ventos V. “Passamos por momentos delicados. A questão da Covid foi um deles. A empresa é italiana e a pandemia foi forte na Itália. Isso nos afetou bastante. A operação teve muitas restrições”, revelou Assumpção Neto, apontando outros contratempos. “Logo depois da pandemia o Paiuí sofreu com um período de fortes chuvas, impactando na infraestrutura, principalmente nas rodovias.
Não dava para transitar. Tivemos que apoiar o governo na reconstrução de algumas estradas, para que pudéssemos transportar os materiais até o canteiro de obras. E as distâncias são muito grandes. Para se ter ideia, dentro da nossa área, há trechos de mais de 200 km de distância.
Para se locomover de um ponto ao outro do parque se gasta de três a quatro horas”, afirmou o diretor. Superados esses desafios, a empresa se ateve a reorganizar o orçamento, tendo em visa o aumento dos custos dos insumos, impactados pelo aumento das commodities e do petróleo, sob influência da guerra da Ucrânia. “Apesar dessas adversidades, conseguimos restabelecer o cronograma próximo do que prevíamos. Entregamos a primeira etapa em março de 2021, como estava calculado; a primeira ampliação, prevista para dezembro de 2022, foi entregue em maio deste ano; e a atual fase, prevista para outubro, vamos entregar em novembro deste ano”, salientou .
Assumpção Neto também comentou sobre as particularidades do licenciamento. Além da questão ambiental em si, há na região do complexo comunidades tradicionais. “Tivemos que elaborar um licenciamento diferenciado, por conta dos quilombolas. Criamos também um sistema de reaproveitamento de madeira para que as pessoas da comunidade pudessem usar para outras coisas. Também houve uma preocupação com a questão da água. Fizemos um projeto para reuso da água de chuva.
A ideia sempre foi montar um canteiro sustentável”, destacou, fazendo referência ao modelo “Sustainable Construction Site” da Enel, que inclui ações de economia de água e reaproveitamento de água da chuva, bem como medidas de eficiência na iluminação.
Todas essas ações fazem parte do compromisso de Criação de Valor Compartilhado (CSV) do grupo Enel. Nele, “a Enel Green Power desenvolve, desde o início da construção do complexo eólico, diversas ações de sustentabilidade, a partir do diálogo permanente com a comunidade local. Ao todo, foram desenvolvidos mais de 75 projetos de educação ambiental, cidadania, saúde, diversidade, cultura e formação profissional, com cerca de 80 mil pessoas beneficiados”, disse.