Hora de consolidar melhorias

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Uma das novas estruturas prontas, píer Sul melhora conforto do passageiro

 

Primeiro grande conjunto de obras, entregue em maio, entra na fase de avaliação e, se necessário, de ajustes

 

Guilherme Azevedo – Brasília (DF)

O homem de calva acentuada interrompe o passo, se agacha e recolhe o papel de embrulho inadvertidamente jogado ao chão. Repetirá o ato mais duas vezes, nesta manhã ensolarada no Planalto Central do Brasil, durante o percurso para apresentar as instalações locais, ­recém-inauguradas, como quem apresenta a casa nova. “Olha, o carpete já está manchado, puxa…”, lamenta, passando a mão sobre a mácula escura no piso claro novo. O gesto sugere cuidado e apreço.

 

O homem se chama Armando Schneider Filho, é diretor de obras do Consórcio Inframérica. O local? O sítio do Aeroporto Internacional de Brasília Presidente Juscelino Kubitschek. Esse engenheiro coordena a execução que culminou com o primeiro conjunto de grandes intervenções para ampliar e modernizar a infraestrutura do aeroporto, essencial para o Centro-Oeste, Norte e Nordeste do Brasil. O Juscelino Kubitschek é, afinal, origem e destino de múltiplas conexões aéreas com o interior do País.

 

Armando Schneider, diretor de obras, mostra a “casa nova”

 

Novos píeres

A primeira fase de obras, que Schneider apresenta nesta quarta-feira de fim de julho, foi concluída para a Copa do Mundo de futebol. Levou 18 meses, contados a partir da data de início da concessão, em dezembro de 2012. O Consórcio Inframérica, formado pela Infravix (do grupo Engevix) e pela Corporación América (grupo argentino), conquistou o direito de administrar e explorar comercialmente o aeroporto por 25 anos, em leilão realizado no dia 6 de fevereiro de 2012, com lance de R$ 4,5 bilhões.

 

O investimento até a Copa foi de R$ 900 milhões e deverá somar R$ 1,5 bilhão até o fim do ano. Duas das principais obras foram as dos píeres Sul e Norte, conectados ao corpo central do aeroporto. Eles se assemelham na estrutura e diferem no tamanho: o píer Sul é um pouco maior, com 35 mil m2, e dez pontes de embarque e cinco conjuntos de esteiras rolantes; e o píer Norte se estende por 23 mil m2, com oito pontes de embarque e três conjuntos de esteiras rolantes. A edificação do píer Sul consumiu 17 meses e foi concluída em abril deste ano; a do píer Norte levou 12 meses e foi entregue em maio último.

 

À esquerda e à direita, os novos píeres do JK

 

Os píeres são edificações retangulares, com piso de granito, em que despontam longas fachadas de vidros duplos, nas laterais, e claraboias, que dispensam a iluminação artificial durante o dia e possibilitam a visão panorâmica das operações aeroportuárias nos pátios e pistas. A estrutura foi inteiramente executada com pilares, lajes e vigas pré-moldados de concreto, para dar velocidade à obra. A cobertura é montada com estrutura metálica. Suas telhas metálicas são duplas e têm uma camada de lã que se interpõe entre elas, para proteger o ambiente do ruído da operação aeroportuária externa e também favorecer o conforto térmico. Os píeres são, portanto, estruturas fechadas, com sistema de ventilação por ar-condicionado, distribuído pelas instalações mediante totens metálicos com orifícios, no chão. O projeto arquitetônico é do argentino Gerardo Pucciarello, com a contribuição de arquitetos brasileiros. “Nosso projeto acompanha o que se observa no mundo, de utilizar mais a energia natural. E isso foi muito bem aproveitado aqui, em função da qualidade dos dias em Brasília, de muito sol. Tem realmente condição de economizar bastante energia”, pontua Schneider.

 

Com a entrada em operação dos píeres, o número de pontes de embarque no aeroporto subiu de 13 para 29. Uma série de outras melhorias também já se efetivou no aeroporto, tanto do ponto de vista da aviação civil quanto do passageiro: aumento do número de posições remotas de embarque de 27 para 41; expansão do pátio de aeronaves em cerca de 300 mil m²; revitalização e implantação de pistas e taxiways; reforma geral do terminal 2 de passageiros; execução de sala VIP de 1.500 m², com capacidade para 300 passageiros; ampliação do estacionamento para 3.100 vagas (antes eram 1.234); e disponibilidade, em todo o sítio, de acesso gratuito à internet, entre outras.

 

Interior do píer Sul: Estrutura aproveita luz natural

 

Uma das mudanças mais esperadas está marcada para tomar lugar em outubro: a entrada em atividade do novo sistema informatizado de bagagem, que substituirá o atual. Adquirido da empresa holandesa Vanderlande, o sistema automatiza o processo de encaminhamento das bagagens e reduz o manuseio. Funciona com o auxílio de leitores óticos, que destinam diretamente as malas conforme as informações das etiquetas. O sistema vem acompanhado de 12 novas esteiras, sendo sete delas com carrosséis inclinados, ergonomicamente mais amigáveis ao passageiro, na hora de retirar a bagagem. Outra mudança que se consolida pouco a pouco é a transformação dos balcões tradicionais de check-in em balcões compartilhados. Significa que tudo será dividido entre as companhias aéreas segundo a demanda, maior ou menor, de movimento, indicada pelo sistema comum a todas as companhias, chamado Sita. Hoje são 74 posições de check-in, número que deverá subir, ao fim das obras locais, para 95.

 

Avaliação

Depois da entrega das primeiras grandes intervenções contratuais e do teste com o elevado movimento da Copa do Mundo de futebol (o JK recebeu, de 10 de junho a 13 de julho, 1,66 milhão de passageiros; Brasília foi sede de sete partidas, duas delas da seleção brasileira), é chegada a hora de avaliar o executado, com serenidade. “Estamos numa fase de confirmação. Se o que foi feito era para ser feito daquele jeito; o que não foi feito e precisa ser feito; e o que precisa ser refeito”, contextualiza o diretor de obras do Inframérica. Parte da interlocução
desse processo é com o órgão regulador do setor, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em suas visitas regulares para avaliar e fiscalizar as operações e instalações locais.

 

Uma prática, entretanto, deverá ser contínua daqui por diante: a de acompanhar a evolução da movimentação, com vistas a se antecipar ao crescimento esperado, sem ser surpreendido. “Não adianta dizer ‘Em 2016 preciso do aeroporto com 50 mil m2 a mais’, se eu não começar a me preocupar com isso agora. Caso contrário, volto à situação antiga, de aperto”, alerta Schneider. O JK vinha operando no limite de sua capacidade e, nos momentos de pico, com longas filas e atrasos. Em 2013, 16,5 milhões de passageiros viajaram pelo aeroporto; dez anos atrás, em 2003, foram 6,8 milhões de passageiros.

 

Com a nova estrutura disponível e outras obras em andamento, o JK deve chegar ao fim do ano com capacidade para 25 milhões de passageiros/ano e ao final da concessão para 41 milhões de passageiros/ano. “O que manda é a demanda: observar os índices de crescimento e se estruturar para fazer as ampliações de acordo com sua necessidade”, objetiva o engenheiro.

 

À noite, à minha partida, flanando pelas estruturas, os píeres todo iluminados, as pistas com a característica luz amarela, fico com a impressão de que é um meio do processo, um meio do caminho, ainda. Um aeroporto que se estrutura, se amplia e vai paulatinamente aprendendo a unir e coordenar os seus novos membros, como alguém que começasse a descobrir o mundo com outras pernas, com outros olhos.

 

Evolução do movimento de passageiros no JK

Ano

Total de passageiros embarcados

2013

16,5 milhões

2012

15,8 milhões

2011

15,3 milhões

2010

14,3 milhões

2009

12,2 milhões

2008

10,4 milhões

2007

11,1 milhões

2006

9,7 milhões

2005

9,4 milhões

2004

9,9 milhões

2003

6,8 milhões

 

Fonte: Infraero e Consórcio Inframérica (Agosto/2014)

 

Ficha Técnica – Aeroporto Internacional de Brasília (DF)

Nome: Presidente Juscelino Kubitschek

Inauguração: 3 de maio de 1957

Reforma, gestão e exploração: Consórcio Inframérica
(concessão de 25 anos)

Pistas: 2 (paralelas), de 3.200 m x 60 m e 3.100 m x 60 m

Pontes de embarque: 29

Posições de embarque remoto: 47

Pátio: 300 mil m2

Terminal de passageiros 1: 110 mil m2

Terminal de passageiros 2: 3.300 m2

Píer Sul: 35 mil m2

Píer Norte: 23 mil m2

Check-in: 74 balcões

Escadas rolantes: 21

Elevadores: 30

Esteiras de bagagem: 12 (7 inclinadas, 5 planas)

Estacionamento: 3.100 vagas

Fonte: Consórcio Inframérica (Agosto/2014)

 

O píer Norte interliga com oito pontes de embarque

Fonte: GTA


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