Análises até aqui realizadas mostram que os deslizamentos de terra ocorridos na sexta-feira passada na rodovia dos Imigrantes, que provocaram a morte de uma mulher, danos em 23 veículos e o travamento da ligação Planalto-Baixada, por ali, durante 31 horas, aparentemente não afetaram as estruturas construídas pela engenharia.
Além da tragédia maior – o óbito – os prejuízos foram muitos e o medo não se dissipará tão cedo de corações e mentes dos usuários permanentes e eventuais da rodovia.
Contudo, embora as estruturas não tenham sido afetadas, as mudanças que vêm ocorrendo na natureza estão a exigir, ali e em outras regiões e obras de engenharia, no mundo, cuidados excepcionais de monitoramento. A Terra já não é o que era. E parece estar respondendo, à altura, aos constantes dos abusos da interferência de todo o tipo, em suas entranhas.
A Serra do Mar é reconhecidamente instável. A capa vegetal e o solo que a recobrem se movimentam. É, no todo e em parte, uma área de risco, imprópria à ocupação que ali vinha ocorrendo. Não é por outro motivo que, quando da execução dos tubulões para a construção das obras de arte, foram previstos dispositivos de detecção da movimentação da terra do entorno.
A ocorrência de sexta-feira última atesta a necessidade de um monitoramento ininterrupto dos cursos d´água que permeiam o subsolo a fim de que estes sejam desviados, mediante cuidadoso serviço de drenagem, para áreas que não sejam tão suscetíveis de desmoronamentos. E, sobretudo, devem ser conduzidos para longe dos emboques dos viadutos. Obviamente aquela ocorrência foi excepcional. O volume d´água extrapolou as probabilidades ali previstas.
Mas hoje, se sabendo que os fenômenos naturais já não são compatíveis com as previsões convencionais, os cuidados precisam ter caráter também excepcional.
O mundo mudou, a natureza mudou e, a engenharia, precisa acompanhar, nos mais extremos limites, essas mudanças.
Comentário
“Concordo plenamente com você, Nildo. As drenagens de boca de túnel devem ser dimensionadas para, eventualmente, também receber material de deslizamento, tendo o cuidado construtivo de bem direcionar águas e detritos para a drenagem natural mais próxima, evitando, assim, a descarga direta sobre a pista”. Geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos
Fonte: Nildo Carlos Oliveira