A nova ordem geográfica da indústria mundial de celulose e papel

O cenário atual do mercado brasileiro de papel e celulose demonstra que nossa indústria está cada vez mais voltada à produção de celulose, deixando sua transformação em papel como uma atividade secundária, tendo em vista, principalmente, a maior rentabilidade proporcionada pela produção da primeira. Ao seguir este caminho, o Brasil, na realidade, segue sua natural vocação dentro dessa indústria, alinhando-se a uma tendência/movimento mundial que indica a especialização como um caminho para o futuro dos países/blocos econômicos regionais.

Isso vem acontecendo em vários setores da economia e não poderia ser diferente no segmento de papel e celulose, onde cada bloco econômico assumirá, mais dia, menos dia, um papel específico e atuante que contribuirá para a evolução da indústria.

Nesse cenário, caberá à América Latina, especialmente ao Brasil, líder incontestável da região, concentrar-se na produção de fibras, tornando-se um celeiro para a produção de celulose. Já os países da Europa, que historicamente posicionaram-se como um centro de desenvolvimento tecnológico do setor, se consolidarão como os principais fornecedores das cada vez mais modernas máquinas que viabilizam a transformação das fibras em celulose, e, desta em papel.

A América do Norte, em especial os Estados Unidos, por seu potencial financeiro – mesmo com a grave crise que enfrenta atualmente – se firmará como a grande financiadora da indústria, além de fornecedora dos softwares para todos os tipos de equipamentos do setor. Completando a nova ordem geográfica da indústria mundial de papel e celulose, temos a Ásia, que pelo enorme potencial de consumo da região e também por sua vocação fabril, se fortalecerá como a grande região produtora de papel, abastecendo todo o mundo.

Mas como é possível afirmar que o Brasil será essencialmente um produtor de celulose?

São vários fatores, entre os quais podemos destacar o perfil adequado de nosso solo e clima. Pegando emprestado um termo muito usado na produção de vinhos na Europa, o Brasil tem “terroir” para a produção de celulose, reunindo uma série de características – amplas áreas para cultivo, fertilidade do solo e bom índice pluviométrico – que outros países não tem. Portanto, não é por acaso que nosso País já se posiciona como um dos principais produtores mundiais dessa matéria-prima.

Em contraponto a esta vantagem que nos credencia à produção de celulose, também temos, infelizmente, alguns problemas e deficiências que apenas reforçam este “papel” que o Brasil deve assumir: baixa demanda interna e regional por papel em comparação ao mercado asiático, por exemplo; baixo potencial de crescimento do consumo de papel em toda América Latina; sérios problemas de infra-estrutura (portos, aeroportos, hidrovias, estradas…); e o chamado custo Brasil, representado por nossa estrutura tributária arcaica e pela grande burocracia que ainda enfrentamos.

Somados, esses pontos tornam inviável para nosso País, e mesmo para a América Latina, a ambição de ser um grande produtor de papel. Aliado a isso, vale reforçar novamente que, nos dias atuais, a celulose se mostra como um produto muito mais atrativo para a indústria local pela margem maior de lucro que proporciona em comparação com a produção de papel.

Além disso, tenho convicção de que a especialização será benéfica para a indústria brasileira e latino-americana, que passará a ter maior foco no negócio e se tornará cada vez mais importante no fornecimento ao mercado mundial.

Fonte: Estadão

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