Na grande recessão dos anos de 1930, diversas corporações investiram fortemente em pesquisa e desenvolvimento. De 1929 a 1936, só nos Estados Unidos, foram criados cerca de 90 novos laboratórios próprios de empresas a cada ano. Entre os que apostaram nesta estratégia estão a Du Pont, que desenvolveu o neoprene e o náilon, a Hewlett-Packard, Polaroid e RCA. Estes exemplos mostram que a inovação tem uma importância estruturante e perene nas empresas como meio de alavancar ganhos de produtividade, reduzir custos e pavimentar um procedimento sustentável de geração de produtos ou serviços inovadores. É difícil, por essas razões, vislumbrar uma saída para a crise atual que não priorize a inovação e o conhecimento. Neste momento de incertezas e aperto de crédito, contudo, as empresas estão avessas ao risco, e isso tende a conspirar contra a inovação. É natural que as atenções se voltem para ações incrementais para manter as vendas, propiciar o lançamento rápido de novas versões de produtos e amenizar a pressão pelo corte de custos. De outra parte, as políticas públicas se voltam para os grandes empregadores, como a construção civil e a indústria automotiva. Mas é preciso olhar além deste horizonte. Não há dúvida de que outro modelo econômico vai nascer após a crise, que será longa no sentido de que uma nova onda de crescimento global demorará a ser restabelecida. Quando esse novo ciclo se fizer presente, muitas das pesquisas e das inovações que têm frequentado os laboratórios nos últimos anos se tornarão uma realidade. Pela importância sistêmica que têm, os setores relacionados a conectividade, energia renovável e saúde, assim como a pesquisa e desenvolvimento em nanotecnologia, biotecnologia, design e tecnologia social, ocuparão um papel central na nova ordem econômica. Também há um enorme potencial para empreendimentos inovadores na área de crédito para micro e pequenas empresas, em serviços e em tecnologia da informação, conhecimento e comunicação. A inovação pode, deve e precisa ser apoiada pelo governo, em todas as suas instâncias. Mas, antes de tudo, a tarefa que se coloca é de mobilizar o setor privado para a relevância da inovação. Inovar pode significar coisas distintas. Muitas vezes pode ser um novo processo produtivo, outras um produto novo. Pode ser também a reformulação de um produto ou um modelo de negócio distinto. Mas, em síntese, inovar é transformar idéias em valor. Na última reunião do G20 houve uma clara sinalização em promover uma economia mais limpa e inovadora. Por isso, devemos ficar especialmente atentos ao surgimento de novas atividades econômicas e oportunidades de negócios. Trata-se de apostar nos eixos de inovação capazes de se antecipar às múltiplas atividades, múltiplos negócios, emergência de setores socioprodutivos – e não apenas produtivos – e novas formas de produção, como peer-production, crowdsourcing e outros. Neste ambiente, os setores de base tecnológica são fundamentais tanto para a continuidade da atividade produtiva como para dar suporte à dinâmica dos cidadãos conectados, que tende a substituir velhas formas de emprego. Entenda-se aquia base tecnológica em um sentido amplo, que envolve novas tecnologias do conhecimento, da gestão e da produção, além de tecnologias sociais e de redes, tecnologias de transição para as novas formas organizacionais e de governança sistêmica. Nesta reestruturação econômica, é importante destacar também que a pressão que será posta no tema energia fará avançar de forma muita rápida a agenda da sustentabilidade, que não se resume à temática ambiental. Ela tem a ver com uma nova forma – sistêmica – de encarar e promover o desenvolvimento. Tem a ver, acima de tudo, com a construção da sustentabilidade da cultura das organizações e da sociedade humana. Para validar qualquer inovação será preciso introduzir o critério de sustentabilidade. Isso trará impacto direto na vida das empresas, uma vez que inovação sustentável é aquela que cria valor a todos os stakeholders, ao meio ambiente e às gerações futuras. Isso nem sempre foi relevante no desenvolvimento dos nossos negócios, mas agora é, e será cobrado pelos consumidores.
Fonte: Estadão