Inspirando-se na "PRIMAVERA ÁRABE"

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Joseph Young

Apopulação brasileira, de índole pacífica, está saturada de tanta corrupção e de ver os seus direitos ignorados. Pode estar aí, germinando, a semente de uma “primavera verde-amarela”.

Um paralelo sintomático: demonstrações de rua articuladas por celular derrubaram os regimes arcaicos da Tunísia e do Egito e ameaçam repetir o feito na Líbia e na Síria. Esses regimes aparentavam-se sólidos como rocha, mas o clamor popular os derrubou como se fossem castelos de areia.

No Chile, estudantes enfrentam a policia nas ruas. A presidente da coalizão socialista, Michelle Brachelet, parecia ter consolidado as conquistas da democracia chilena. Ledo engano. Sobrou para o presidente Sebastián Piñera, de centro-direita, que ganhou as eleições. Eles reivindicam uma “nova democracia”.

No Brasil, depois de duas gestões do presidente Luís Inácio Lula da Silva, cujas conquistas de distribuição de renda são indiscutíveis, a ponto de deixar os partidos da oposição desnorteados, assume a presidente Dilma Rousseff, disposta a capitalizar um ciclo virtuoso de crescimento – e quem sabe? – mais uma década de poder.

Entretanto, uma série de denúncias de corrupção, que começou no Ministério dos Transportes e se alastrou para os ministérios da Agricultura, e mais recentemente, do Turismo, mostrou as conseqüências do fenômeno do aparelhamento da máquina administrativa pelos partidos no poder, deixando paralisados os quadros técnicos dos órgãos públicos, que foram colocados a reboque dos interesses políticos.

Aquilo que se lê na imprensa diária, de que tal ministério foi entregue ao partido x ou ao partido y, mostra agora como a corrupção tornou-se arraigada nos órgãos governamentais, cuja história deveria estar vinculada à aplicação de recursos públicos para atender às necessidades da população.

Ao contrário do que se noticia, não são esses órgãos púbicos os responsáveis pelo desvio do dinheiro público, mas seus dirigentes, nomeados para justificar o apoio político dos partidos da base governamental. A presidente Dilma Rousseff ficou sem o plano B para sair da crise e teve que recorrer ao Exército para comandar a rearrumação no Ministério dos Transportes.

Os batalhões de Construção e Engenharia do Exército possuem um currículo invejável de obras executadas em condições adversas, nas fronteiras mais remotas do País. Mas, lembramos à presidente Dilma, que não esqueça os quadros técnicos desses órgãos públicos, que têm experiência e competência, e que devem possuir também autonomia para atuação técnica e gerencial.

Na ilha de fantasia de Brasília, os políticos continuam dormindo placidamente, como se estivessem sem culpa, convencidos de que certa percentagem dos recursos públicos lhes pertence por direito “adquirido”. Para cada mil denúncias, dentre os investigados pela PF, apenas 0,5% chegam a ser condenados.

A população brasileira parece anestesiada pela avalancha de denúncias de corrupção. Isso pode ser, ainda, um resquício do propalado “rouba mas faz”. Mas as novas gerações podem não ter a mesma paciência ou tolerância. Elas, que adoram twitar, podem, de um momento para outro, articular movimentos de protesto, inspirados pela ”primavera árabe”, e resolver mudar a ordem das coisas com as próprias mãos. Os políticos podem não acreditar, mas a indignação popular ainda deverá criar uma pressão tamanha, capaz de desaguar em uma nova era para o País!

Fonte: Estadão


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