As notícias que chegam dão conta de que se eleva a cerca de 10 mil, o número de desabrigados por causa das chuvas na zona norte do Rio e na Baixada Fluminense. E há quatro óbitos. Nada que provoque espanto. Sabe-se que todos os anos, nessa época, as coisas ficam feias por lá e que as promessas de obras preventivas, contra inundações e de contenção em áreas de risco, não vão além do que elas sempre foram, repetidamente: promessas. A população está vacinada contra a posição do governo, seja ele municipal, estadual ou federal. Sabe que tudo é jogo de cena. E que, quanto mais promessas, menos é feito.
Mas, há um dado, nessa história atual das enchentes na cidade do Rio, que chama a atenção pela irresponsabilidade explícita. Refiro-me ao caso do alagamento ao longo de um trecho da Via Binário, que visitei há algum tempo, quando ela estava em construção. Projeto bom, obras tocadas, segundo os responsáveis, sob o melhor critério. Concluído o trecho, foi inaugurado como algo moderno, que aposentou a Perimetral, construída nos anos 70 com grandes peças metálicas. Trata-se de obra, dentre outras, para a redescoberta e revitalização da zona portuária. Tudo bonito.
Mas, eis que, com as primeiras chuvas, a Via Binário fica alagada. O prefeito Eduardo Paes fez a inauguração sabendo que a obra estava inconclusa. Que ela não possuía sistema de drenagem instalado. E, então, vem a pergunta: Como é possível uma autoridade inaugurar obra desse tipo, em plena estação das chuvas, sem sistema drenante? É confiar demais na natureza e desconsiderar demais a população.
A prefeitura do Rio sabe há décadas quais são os pontos de alagamento espalhados pela cidade. Alardeia o mapeamento desses pontos. Mas, para por aí. Hoje, a Via Binário soma-se aos 43 locais onde os alagamentos acontecem, com a circunstância de que a causa já foi anunciada. Apesar disso, o sistema drenante só será instalado ali por volta de 2016. Outra promessa. A irresponsabilidade pública não tem medidas.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira