Como um dos estados mais desérticos dos EUA enfrenta o abastecimento crítico de água a longo prazo — num exemplo que deve inspirar cidades brasileiras, engolfadas no ciclo atual de seca
O consórcio escolhido pela SNWA — Southern Nevada Water Authority para a implementação do túnel que funciona como tomada d’água no lago Mead, na modalidade projeto mais construção, reúne nomes de peso da engenharia global: Salini Impregilo, sua subsidiária americana S.A. Healy, e a Arup — sendo esta última a projetista do túnel subaquático mais profundo do mundo, de 4,6 km de extensão e 6,8 m de diâmetro, escavado com TBM.
A tomada d’água nº 3 desse complexo de abastecimento de Las Vegas (EUA) tornou-se vital diante das secas severas que vem se repetindo na região nos anos recentes, o que provocou a queda continua do nível do próprio lago. Ele é a principal fonte de abastecimento de Las Vegas, cidade antes conhecida pelos cassinos, mas que hoje depende do turismo familiar, a ponto de os mega hotéis terem montanha russa, parque de diversões, museus e diversos espetáculos permanentes do Cirque du Soleil.
O lago Mead, formado pela barragem de Hoover, tem 96 km². Ele atende a região conhecida como Nevada Sul, onde vivem 2 milhões de habitantes, em torno de Las Vegas e Henderson. O nível atual do lago está em 360 m.
Há duas tomadas d’água mais rasas que sofrem risco sério de se tornar inoperantes, perante a queda continua do nível d’água. Se o nível d’agua descer para abaixo de 350 m, a tomada nº 1 já deixa de operar; e abaixo de 333 m a tomada nº 2 fica ameaçada. Daí a solução radical de um túnel subaquático, cuja tomada d’água nº 3 está no nível de 286 m.
O contrato foi assinado em março de 2008, no então valor de US$ 447 milhões, com o consórcio chamado Vegas Tunnel Contractors (VTC).
Este novo sistema se compõe de uma tomada d’água vertical em águas profundas; o túnel subaquático escavado no leito do lago Mead e parte da ilha Saddle, onde fica também uma nova estação de bombeamento; uma tubulação de descarga ligando o sistema à rede de abastecimento; e um túnel de conexão entre as instalações da nova tomada d’água com a tomada nº 2 existente.
A profundidade escolhida para captação seguiu um modelamento de qualidade d’água, realizado em conjunto com uma ONG. A tomada em si já foi projetada para receber conexões no futuro que permitam captar água a profundidades maiores, ainda através de uma tubulação subaquática.
O desafio da obra se resumia em construir uma tomada d’água no fundo do lago Mead e, a seguir, a 200 m de profundidade, escavar um túnel de 4,5 km da ilha até ela (a tomada d’água).
O tatuzão mecanizado teve que enfrentar pressões hidrostáticas de até 15 bar – considerado um recorde na época, o que exigiu uma série de soluções técnicas complexas. Mais de mil betoneiras de caminhão foram mobilizadas para a execução da tomada d’água, através de 143 viagens sobre balsas.
Uma vez pronto, o túnel demorou duas semanas para ser preenchido com água e começar a abastecer as estações de tratamento da região, em setembro de 2015.
Fonte: Redação OE