Necessária uma pausa para falar de Guilherme Estrella, o geólogo que nas atuais mudanças na Petrobras, acabou deixando a diretoria de Exploração e Produção, um cargo que assumiu em 2003. Ele diz que saiu porque estava na hora de sair. Simples assim. Ele vem de uma carreira construída na estatal desde 1964, quando ali ingressou para colocar em prática a sua profunda profissão: a geologia. Tanto fez em favor da Petrobras, da geologia e da engenharia, que se destacou no campo social e econômico e, segundo os seus colegas, ajudou a colocar a empresa dentre as mais avançadas até no campo da geoquímica orgânica do petróleo.
Há algum tempo estranhei que o Clube de Engenharia articulasse uma sessão, com o peso de seus membros e convidados, e sob a presidência do engenheiro Francis Bogossian, unicamente para prestar-lhe uma homenagem. Nessa homenagem, a saudação a Guilherme Estrella foi feita pelo almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, presidente da Eletronuclear. Entre esses dois homens, a saudação e a resposta constituíram um desses raros momentos em que a engenharia deixa de ser uma matéria, uma profissão, ou uma ciência, para se converter na razão mais efetiva para um diálogo sobre o Brasil.
Coube ao almirante desenhar o perfil do homenageado com cores simples, possivelmente preto e branco, mas de qualquer modo, definitivas.
Guilherme Estrella entrou na Petrobras tão logo se graduou em geologia pela UFRJ. Talvez tenha tido sorte. Talvez tenha sido apenas um predestinado. Mas o fato é que logo nos primeiros anos de trabalho pode participar das descobertas dos campos petrolíferos de Miranga e Fazenda da Onça, na bacia do Recôncavo Baiano, conforme lembrou apropriadamente o almirante.
Depois, seguiu em frente e acompanhou a perfuração do primeiro poço na Bacia do Espírito Santo. Sua evolução foi rápida. Ganhou a confiança e a admiração dos colegas. Sabia colocar no alto o significado da geologia. E, como geólogo-chefe da Braspetro, assumiu a gerência de operação desta operadora, no Iraque, onde viu e assistiu à descoberta do campo de Majnoo, que registrava reservas superiores a 10 bilhões de barris de petróleo. Diz o almirante: “… foi o maior campo descoberto pela Braspetro em toda a sua história!”.
Guilherme Estrella retornou ao Brasil em 1978, trabalhou na identificação dos dados prospectados para a exploração das bacias da Costa Leste e mais tarde chefiaria o Laboratório de Geooquímica Orgânica do Cenpes, este centro de pesquisa da Petrobras considerado de Primeiro Mundo. Fez um amplo trabalho nessa área. Seu nome está registrado como um dos responsáveis pelo desenvolvimento da Petrobrás em segmento de tal especificidade. Diz o almirante Othon que a trajetória do geólogo dentro da estatal se caracterizou “pela criação de uma elite de pesquisadores, pensadores e técnicos, uma verdadeira ‘escola de pensamento’ com capacidade para enfrentar e desenvolver os grandes desafios tecnológicos.”
Finalmente, em 2003, Estrella é convidado a integrar o conselho de administração da empresa, quando assumiu a diretoria de Exploração e Produção.
A homenagem que o Clube de Engenharia prestou ao geólogo torna-se válida agora para lembrar, quando ele deixa a Petrobras, as iniciativas que assumiu em favor da empresa – no fundo, foram iniciativas em favor do País. O almirante tem razão quando diz que a engenharia como um todo, e a geologia, em particular, procuram entender o que a natureza “nos proporciona do ponto de vista das transformações para melhorar e tornar digna a nossa condição de vida”. Guilherme Estrella sai; o seu legado, fica.
Fonte: Padrão