Pelo menos 2 mil operários trabalham nas obras da Linha 1, que deverá ter mais duas estações entregues no início de 2015
Depois de mais de uma década, sistema metroviário da capital baiana é finalmente inaugurado, agora sob administração privada, com cinco estações — até 2017 serão abertas mais 14; a concessionária responsável pela rede já construiu
2,2 km de via permanenteAugusto Diniz – Salvador (BA)
A empresa explica que a operação assistida é padrão nos sistemas metroviários e serve para “realizar ajustes finos no sistema, trens e vias para otimizar o serviço”. Na operação comercial, a previsão é de que pelo menos 50 mil pessoas/dia usem a linha.
“Assinamos o contrato em outubro de 2013 e, em oito meses, tornamos o desejo dos soteropolitanos realidade, iniciando a operação assistida do metrô em 11 de junho de 2014. Tanto montar as equipes de trabalho como treiná-las, e entregar as obras e o serviço no mais alto padrão de qualidade, nos exigiu muito em curto prazo”, afirma Harald Peter Zwetkoff, diretor-presidente da CCR Metrô Bahia.
Obras em andamento
O consórcio construtor do metrô de Salvador (composto das empresas CCR – líder -, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa) executou até este mês (agosto) cerca de 2,2 km de vias permanentes (aproximadamente 1,1 km construído na superfície e 550 m em elevação), a partir do pátio de manobras perto da estação Acesso Norte até a estação Retiro, recém-aberta. Dos 7,3 km da Linha 1 em funcionamento hoje, 5,1 km do trecho foi construído no passado, mas que não chegou a entrar em operação, exigindo que o grupo concessionário atual o reformasse para colocá-lo em funcionamento. A mobilização desta obra começou em dezembro de 2013.
No primeiro trecho construído, o método adotado para o obra da via foi o LVT (Low Vibration Line) em que se concreta o dormente alinhado em bibloco na laje – nos 5,1 km de linhas que existiam no metrô de Salvador os dormentes de concreto estão sobre brita. A construção da via permanente se processa em solo argiloso expansivo, característico da capital baiana. No restante da obra da via estuda-se a continuidade ou não da adoção do método LVT.
A estação Retiro, construída em elevado, é toda metálica e segue o padrão das outras que serão construídas na linha. Ela possui 5,8 mil m². De acordo com o consórcio construtor, a sua estrutura foi executada de forma independente da via permanente, o que otimizou o prazo de entrega. Um terminal de integração de ônibus urbano também foi erguido em área contigua à estação, assim como uma subestação de energia (mais sete subestações serão construídas em todo o sistema).
No elevado que dá acesso da via à estação Retiro, vigas remanescentes da antiga obra do metrô foram aproveitadas.
A estação Retiro dá início a atendimento a uma área populosa da capital baiana. Desta estação, vê-se em progresso, em um de seus extremos, a construção de um viaduto e, na sequência, obras de terraplenagem para dar prosseguimento às execuções da Linha 1. Mais à frente, também está em progresso obra de mais uma travessia. Um desmonte de 9 mil m³ de rocha foi feito nesse caminho.
Um complexo de operação e manutenção está sendo construído no bairro Pirajá e atenderá todo o sistema metroviário de Salvador. O local já passa por trabalhos de terraplenagem e fundações. O complexo, previsto para ser inaugurado em abril em 2015, terá oficina, centro de operações e de administração da empresa.
Atualmente, seis trens da marca Rotem (que pertence ao grupo sulcoreano Hyundai) rodam nos 7,3 km da Linha 1. Mais 28 trens da empresa já foram comprados para ser usados no sistema e até 2017 mais seis serão adquiridos, perfazendo um total de 40 para atender a rede. Cada um tem capacidade de transportar 1 mil passageiros.
O sistema de sinalização é da Thales. Já o sistema de telecomunicações e elétrico (rede aérea), da Siemens. As subestações estão sendo montadas pela ABB.
A Linha 2 que será construída no metrô de Salvador, prevista em contrato, percorrerá boa parte do canteiro central da avenida Luís Viana, mais conhecida como avenida Paralela, com 18 km de extensão, e corta a cidade de Salvador até a divisa com o município de Lauro de Freitas. Atualmente, processa-se trabalhos de sondagens de solo no trecho.
O prazo curto da obra e as interferências urbanas são considerados as maiores dificuldades do projeto pelo consórcio construtor.
Entrega das estações
No início do ano que vem, duas novas estações serão incorporadas ao sistema: Bom Juá e Pirajá. A linha passará a ter 11 km de extensão. Em outubro de 2015, prevê-se a entrega do primeiro trecho da Linha 2, com 2,2 km de extensão e que vai da estação Acesso Norte (que se conecta com a Linha 1) à estação Rodoviária – entre elas ficará ainda a estação Detran. Na mesma ocasião, a estação Bonocô será incorporada à Linha 1- ela funcionará entre as já inauguradas estações Brotas e Acesso Norte.
Em abril de 2016, haverá a entrega do segundo trecho da Linha 2 entre as estações Rodoviária e Pituaçu, incluindo quatro novas estações: Pernambués, Imbuí, CAB e Pituaçu.
Em outubro de 2016, será feita a entrega do terceiro trecho da Linha 2 entre as estações Pituaçu e Mussurunga, incluindo outras quatro novas estações: Flamboyant, Tamburugy, Bairro da Paz e Mussurunga.
Em abril de 2017, haverá a entrega da estação Aeroporto, completando as 19 estações previstas no contrato de concessão – nessa data, mais de 500 mil pessoas/dia estarão usando o sistema.
No total, a Linha 1 contará com oito estações e extensão de 12,2 km: 1,6 km em trecho subterrâneo, 4 km em elevados e 6,6 km em superfície. No trecho da Linha 1 já em operação, as estações Lapa e Campo da Pólvora são subterrâneas; Brotas é elevada; Acesso Norte foi construída na superfície e Retiro é também elevada.
Já a Linha 2 terá 12 estações, com 21,2 km de extensão, sendo trechos em elevados e em superfície. A CCR Metrô Bahia pretende apresentar ao governo um estudo de viabilidade técnico-económica para uma futura extensão da Linha 1, entre as estações Pirajá e Cajazeiras/Águas Claras. O contrato de concessão também prevê uma possível extensão da Linha 2, entre a estação Aeroporto e Lauro de Freitas.
Caso execute as extensões, o sistema metroviário somará 22 estações e 41,8 km de extensão, sendo 17,6 km da Linha 1 e 24,2 km da Linha 2.
A CCR Metrô Bahia também é responsável pela administração dos terminais de integração de ônibus de Mussurunga, Iguatemi, Pirajá e Rodoviária, que se interligam ao sistema metroviário e serão reformados e ampliados. Outros cinco terminais de integração serão construídos pelo consórcio, sendo que um já foi entregue – o de Retiro.
O sistema de metrô foi concedido por 30 anos (implantação e operação) pelo governo estadual à CCR por meio de parceria público-privada (PPP). O contrato prevê investimentos da ordem de R$ 3,6 bilhões. A CCR Metrô Bahia investirá R$ 1,4 bilhão, o governo do Estado da Bahia destinará recursos na ordem de R$ 1 bilhão e o Governo Federal irá repassar R$ 1,2 bilhão, com recursos oriundos do PAC.
Mais de 4 mil pessoas estão envolvidas hoje na construção e operação do sistema metroviário de Salvador.
Sonho antigo
O sonho de construir metrô em Salvador vem desde a década de 1980, mas somente nos anos 2000 é que a obra teve início. Mas uma sucessão de problemas, como suspeitas de corrupção e superfaturamento, além de falhas no projeto, atrasou os trabalhos.
A aquisição da frota de trens em 2008, mesmo com o trabalho inconcluso, foi mais um capítulo da longa crise que foi a implementação do sistema na capital baiana envolvendo os governos municipal e estadual.
Na medida em que era adiado o início da operação do sistema, a população protestava contra os sucessivos atrasos, chegando a níveis insuportáveis em 2012.
A partir daí, o Governo do Estado passou a controlar o sistema, processo quecom a concessão do metrô ao grupo CCR. O acordo previa a avaliação das obras que já tinham sido feitas e do material rodante. Os trens adquiridos no passado precisaram ser desmontados, revisados peça por peça e remontados.
Metrôs se expandem com PPP e capital global
Dados da Associação Internacional de Transporte Público mostram que há 148 redes de metrô no mundo, transportando todo dia 150 milhões de passageiros através de 11 mil km de trilhos, distribuídos por 540 linhas e atendendo a 9 mil estações no subsolo, ao nível do solo ou em elevação.
A história do metrô começou há mais de um século. Nos anos 60, São Petersburgo, na Rússia, inovou ao introduzir portas de vidro deslizantes nas bordas das plataformas, permitindo que as estações fossem climatizadas no inverno russo. Em 1987, Cingapura fez o mesmo porque o clima tropical exigia o ar refrigerado nas plataformas. Londres, na Inglaterra, também adotou-as na linha Jubilee, em 1997, e Copenhague, na Dinamarca, está acrescentando essa melhoria nas estações existentes.
Os metrôs mais antigos dão certa sensação de claustrofobia por causa do teto baixo, corredores estreitos e cores neutras. Projetos modernos ampliaram os espaços das estações, passando a utilizar cores e acabamentos diversos nas paredes e iluminação estética, além de permitir a propaganda que sempre traz o elemento humano.
Para o passageiro, talvez o advento do cartão magnético fosse a mudança mais agradável. Mas hoje ele também exige informação sobre o trajeto em tempo real, qual é a demora do próximo trem na estação etc. Isso impõe wi-fi de alta capacidade e conectividade móvel de celular, o que ainda pode ser problemático em túneis mais profundos.
Uma inovação tecnológica que se difunde é a operação automática dos trens, sem condutor humano. A Linha Victoria, em Londres, foi a pioneira ainda em 1967. O metrô de Paris, na França, está convertendo algumas linhas para esta operação automática, bem como o de Nuremberg, na Alemanha.
O de Honolulu, no Havaí, previsto para entrar em serviço em 2017, será inteiramente automático, assim como o de Doha, no Catar, programado para funcionar em 2020. Os trens poderão viajar a intervalos de 90 segundos, o que permite transportar maior número de passageiros.
Imposto sobre vendas financia metrô de Los Angeles
Nos Estados Unidos, diversas cidades estão ampliando suas redes de metrô, tendo à frente Nova York, Los Angeles, São Francisco e Baltimore. A primeira tem conduzido programas regulares de modernização ao longo dos anos, que poucas vezes foram interrompidos pelas sucessivas administrações na prefeitura, além de receber ainda verbas federais.
A população de Los Angeles aprovou a Medida R, criando um imposto sobre vendas para levantar US$ 20 bilhões ao longo de 30 anos, que está em vigor há cinco anos. A Medida R2 deverá se tornar efetiva em 2016, tornando este imposto permanente, de forma a gerar recursos para transporte de massa no período pós-2030.
Na Califórnia, o eleitorado aprova novos impostos nas eleições para fins específicos. A sueca Skanska, em consórcio com a Traylor Bros, trabalha na construção de uma linha.
Denver, também nos EUA, está se valendo de uma parceria público-privada (PPP) “chamada Eagle P3” para contratar na modalidade projeto-construção-operação-manutenção uma linha metroviária nova de 56 km, em três corredores. O projeto começou em 2010 e inaugura o serviço em 2016. Balfour Beatty em consórcio atua nesse empreendimento.
Em março passado, Lima, no Peru, assinou o contrato da linha 2, de 35 km, no subsolo, com o consórcio Nuevo Metro de Lima, formado pela ACS e Fomento de Construcciones, empresas da Espanha, e Salini Construttori e Finmeccanica, ambas da Itália. O projeto de US$ 5,7 bilhões vai receber US$ 3,7 bilhões do governo para as obras e os trens, além de US$ 490 milhões para desapropriações, enquanto o consórcio vai contribuir com US$ 1,47 bilhão.
A China tem superado os demais países no transporte metroviário das suas grandes cidades, todas com população entre um milhão e três milhões. Das 22 redes em operação, 17 delas foram comissionadas a partir de 2000. Mais 14 estão em obras, com início de serviço até 2020.
Fonte: Revista O Empreiteiro