Renato Brandão
O paulistano comum deve se acostumar nos próximos anos com a palavra monotrilho quando o assunto for transporte coletivo. Com duas obras em curso (Linha 15-Prata e Linha 17-Ouro – esta última com extensão total de 17,7 km), São Paulo entra com tudo no grupo de cidades a investir no sistema.
*Na década de 1980, Poços de Caldas investiu nosistema de monotrilho, mas depois desativou
Embora haja mais de 50 monotrilhos em funcionamento no mundo, o modelo serve em sua grande maioria para atender áreas específicas, como aeroportos. Como sistema de transporte coletivo de massa, porém, o monotrilho quase sempre foi descartado como opção para metrópoles desenvolvidas.
Para o Metrô de São Paulo, o monotrilho tem um custo menor, pode ser construído com mais rapidez que o metrô convencional e atenderá plenamente sua demanda. A companhia também contesta a interferência do modelo em termos de impacto urbanístico, ressaltando que a utilização de via elevada evita a necessidade de escavação de túnel, assim, sua obra não causará interferência no sistema viário. Ainda destaca que, com estruturas de concreto pré-moldado, fixadas em canteiros centrais de avenidas, as obras do monotrilho eliminam o número de desapropriações que ocorreriam no caso do trem subterrâneo.
Mas o engenheiro Sergio Ejzemberg discorda do modelo adotado como uma alternativa para o transporte público de massa na cidade. “O custo por km do monotrilho é aproximadamente a metade do custo do metrô, mas considerando as diferentes capacidades de transporte, o passageiro do monotrilho custa o dobro do que custa o do metrô. Então, o investimento em monotrilhos não é razoável, quando a cidade carece de transporte de alta capacidade e tem o metrô mais lotado do mundo”, aponta o especialista.
Ejzemberg também critica as limitações de integração do sistema. “Enquanto existe uma flexibilidade garantida na integração dos sistemas de ônibus ou metrô, a integração de linhas de monotrilho é impraticável, porque essas linhas se sobrepõem com rampas e passarelas.“
Sobre o impacto visual do monotrilho, o especialista acredita que é inevitável uma deteriorização nas áreas do entorno da linha, mas frisa que “qualquer sistema elevado causa impacto e deterioração urbana”, como o Minhocão e a Linha 1-Azul do Metrô, em trecho da avenida Cruzeiro do Sul, na Zona Norte de São Paulo.
A opção paulistana não é inédita mesmo no Brasil. A cidade de Poços de Caldas (MG) investiu em uma linha de cerca de 7 km de extensão, conectando com trilhos elevados o terminal rodoviário poço-caldense ao centro do município.
Inaugurada em 1981, jamais funcionou adequadamente e, rejeitada pela população, acabou desativada em 2000. Três anos depois, uma parte das torres desmoronou e praticamente selou projetos para reativar o modelo.
Fonte: Padrão