Trabalho detalha montagem de passarela de 277 t e 71,8 m de extensão

*Thiago Henrique Makoto Oishi e Daniel Lepikson Oliveira

 

O Consorcio Línea 2, formado pela Construtora Norberto Odebrecht e FCC Construcción, concluiu em meados de janeiro de 2019 o primeiro trecho da Linha 2 do Metro do Panamá, que compreende cinco estações. A entrega antecipada permitiu a operação parcial da linha durante o evento religioso conhecido como Jornada Mundial da Juventude (JMJ), ocorrido entre 22 e 27 de janeiro na capital panamenha.

A Linha 2 do Metro do Panamá é parte integrante da rede mestra de transporte de massa que serve a área metropolitana da Cidade do Panamá. Quando o projeto estiver concluído, transportará cerca de 16 mil passageiros/h/sentido, com capacidade máxima de 40 mil passageiros/h/sentido durante os horários de pico. O novo trecho terá um comprimento de vinte e um quilômetros de via elevada e contará ao todo com dezesseis estações, conectando a estação de San Miguelito (Conexão com a Linha 1) à comunidade de Nuevo Tocumen, conforme ilustrado na Figura 1.

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Figura 1. Traçado previsto para a Linha 2 do Metro do Panamá. (Fonte: METRO de Panamá, www.elmetrodepanama.com).

O presente artigo é dedicado à estação Cincuentenario. Mais precisamente, este aborda a operação de montagem da passarela de acesso à estação que, na sua configuração final, se encontra suspensa sobre a movimentada Avenida Domingo Díaz, como se pode observar na Figura 2. Trata-se de uma operação complexa e delicada, em razão do porte da estrutura a ser transportada / movimentada / içada e das condições impostas pelo local de instalação, algo que exigiu muita criatividade, know-how e dedicação da equipe responsável pela montagem, como se descreve suscintamente na sequência deste texto.

Figura 2. Estação Cincuentenario, Metro do Panamá. (Fonte: Site ODEBRECHT em Ação, http://odebrechtemacao.com.br/pt-br).

Características principais da passarela Cincuentenario:

Projeto:             T.Y. Lin International Group

Fabricação:          BRAFER Construções Metálicas S.A.

Dimensões principais:

Comprimento     …………………………  71.8 m

Largura         …………………………  9.0 m

Altura          …………………………  3.9 m (Estrutura)

Elevação        …………………………  7.2 m (Cota do piso)

Pesos:

Estrutura metálica   …………………….  277 t

Peso de montagem (*) …………………….  314 t

(*)    Inclui: Steel Deck, reforços locais, conexões, pintura e olhais de içamento.

Conectores:     1030 parafusos, sendo 640 unidades ø7/8” de 7”, 336 unidades ø7/8” de 5 ¼” e 54 unidades ø1/4” de 5”.

Metodologia empregada na montagem

A metodologia construtiva empregada para a montagem da passarela Cincuentenario pode ser dividida em três etapas principais, a saber: (i) a fase de pré-montagem de módulos, (ii) o transporte da estrutura montada ao local de instalação, com a correspondente manobra para posicionar a passarela na orientação adequada ao posterior içamento e (iii) o içamento da estrutura da passarela para a sua instalação na posição final. Estas etapas estão ilustradas na Figura 3.

Figura 3. Fases de montagem da Passarela Cincuentenario, Metro do Panamá. (Foto de fundo: Google Maps).
  • Durante a Fase (i) de pré-montagem, as peças metálicas individuais pré-fabricadas são conectadas para formar a estrutura treliçada da passarela, montada ao nível do terreno sobre apoios provisórios constituídos por blocos de concreto (Figura 4);

Nesta etapa, os níveis dos apoios provisórios são ajustados para se chegar às cotas especificadas em projeto, obtendo-se assim as contra-flechas previstas para a estrutura (necessárias para se compensar os deslocamentos devidos às cargas permanentes – Ver Figura 5). As peças são então interligadas por meio de conexões parafusadas, formando um conjunto monolítico e auto-portante.

A estratégia de montar um único módulo de cerca de 70 m de comprimento permitiu prescindir de torres provisórias durante a montagem que seriam apoiadas no leito da via, com impactos no trânsito local.

Figura 4. Fase (i) de pré-montagem da Passarela Cincuentenario: Estrutura montada e apoiada em blocos provisórios
Figura 4. Fase (i) de pré-montagem da Passarela Cincuentenario: Estrutura montada e apoiada em blocos provisórios
Figura 5. Fase (i) de pré-montagem da Passarela Cincuentenario: Estrutura na posição inicial, sobre blocos provisórios, prestes a ser movimentada.
Figura 5. Fase (i) de pré-montagem da Passarela Cincuentenario: Estrutura na posição inicial, sobre blocos provisórios, prestes a ser movimentada.
  • Durante a fase (ii) de transporte, a estrutura previamente montada da passarela é então movimentada desde a posição inicial (no canteiro de pré-montagem) até o local de instalação, onde esta será içada e colocada na sua posição final;

 

Esta movimentação/transporte foi realizada com a utilização de carretas hidráulicas modulares e auto-propelidas, conhecidas no meio técnico como “SPMTs” (Self-propelled Modular Transporters), na configuração “side-by-side” (Ver Figura 6). O uso de SPMTs permitiu a execução de manobras complexas com curvas muito fechadas, movimentando-se uma estrutura de grande porte e peso em espaços exíguos, o que tornou em última análise a operação viável. Além disso, esse equipamento distribui melhor a pressão aplicada pelos pneus sobre o plano de apoio, reduzindo-a a valores aceitáveis, tornando assim possível o transporte sem qualquer dano ao pavimento existente ou a necessidade da execução de reforços. A intervenção limitou-se à eliminação de interferências.

Informações adicionais sobre este importante recurso podem ser encontradas, por exemplo, em “The Art of Heavy Transport”, por Van DALL, M. J. (The Works International).

Figura 6 Fase (ii) de movimentação da passarela Cincuentenário: Estrutura já apoiada pelas carretas hidráulicas na posição ideal
Figura 6 Fase (ii) de movimentação da passarela Cincuentenário: Estrutura já apoiada pelas carretas hidráulicas na posição ideal
Figura 7. Fase (ii) de movimentação da Passarela Cincuentenario: Início da operação de transporte.
Figura 7. Fase (ii) de movimentação da Passarela Cincuentenario: Início da operação de transporte.
Figura 8. Fase (ii) de movimentação da Passarela Cincuentenario: Trecho inicial da operação de transporte, antes da curva sobre o viaduto (vista lateral).
Figura 8. Fase (ii) de movimentação da Passarela Cincuentenario: Trecho inicial da operação de transporte, antes da curva sobre o viaduto (vista lateral).
Figura 9. Fase (ii) de movimentação da Passarela Cincuentenario: Trecho inicial da operação de transporte, antes da curva sobre o viaduto (vista frontal).
Figura 9. Fase (ii) de movimentação da Passarela Cincuentenario: Trecho inicial da operação de transporte, antes da curva sobre o viaduto (vista frontal).
Figura 10. Fase (ii) de movimentação da Passarela Cincuentenario: Execução da curva sobre o viaduto, a fase mais delicada, viabilizada pelo uso de mesas de giro sob os apoios da passarela na plataforma das carretas.
Figura 10. Fase (ii) de movimentação da Passarela Cincuentenario: Execução da curva sobre o viaduto, a fase mais delicada, viabilizada pelo uso de mesas de giro sob os apoios da passarela na plataforma das carretas.
Figura 11. Detalhe que mostra como se dá o apoio da passarela nas carretas, por meio de mesas de giro.
Figura 11. Detalhe que mostra como se dá o apoio da passarela nas carretas, por meio de mesas de giro.
Figura 12. Fase (ii) de movimentação da Passarela Cincuentenario: Curva sobre o viaduto executada, com posterior giro da carreta para início do último trecho do transporte.
Figura 12. Fase (ii) de movimentação da Passarela Cincuentenario: Curva sobre o viaduto executada, com posterior giro da carreta para início do último trecho do transporte.
Figura 13. Fase (ii) de movimentação da Passarela Cincuentenario: Operação de giro de 90º das carretas hidráulicas, por meio das mesas de giro, para possibilitar a execução da curva sobre o viaduto.
Figura 13. Fase (ii) de movimentação da Passarela Cincuentenario: Operação de giro de 90º das carretas hidráulicas, por meio das mesas de giro, para possibilitar a execução da curva sobre o viaduto.
Figura 14. Fase (ii) de movimentação da Passarela Cincuentenario: Fim da operação de transporte, com a passarela na posição final, na posição previamente estabelecida para a execução da operação de içamento com dois guindastes de esteira e acessórios.
Figura 14. Fase (ii) de movimentação da Passarela Cincuentenario: Fim da operação de transporte, com a passarela na posição final, na posição previamente estabelecida para a execução da operação de içamento com dois guindastes de esteira e acessórios.
  • Durante a fase (iii) de içamento, a estrutura é retirada das carretas hidráulicas com o auxílio de dois guindastes e posteriormente conectada às estruturas de apoio. Trata-se de uma operação de içamento de uma estrutura de grande porte (314 t), com todos os preparativos, planejamento e acessórios que esta requer, para permitir sua instalação na posição final com segurança.

 

Entre estes preparativos, citam-se, por exemplo: a elaboração de Planos de Rigging, cálculos para determinação do centro de gravidade da estrutura a ser içada, verificação da pressão aplicada sobre o terreno, efeitos da ação do vento na operação, dimensionamento dos acessórios de içamento, reforço de solo para resistir às altas pressões aplicadas pelas esteiras dos guindastes (2 349 m² de área reforçada), montagem de guindastes de esteiras de porte em espaço e prazos exíguos. A movimentação de cargas pesadas exige, portanto, procedimentos e critérios próprios para garantir a segurança da operação que não serão abordados neste artigo.

 

Os apoios de extremidade eram constituídos por um trecho previamente executado da passarela (sob a estação), com conexões ou “esperas” de um lado; e a Edícula (ou torre de acesso) provida de consoles de apoio do outro.

A estrutura permaneceu içada pelos guindastes até a conexão da mesma com os trechos previamente montados.

Figura 15. Fase (iii) de içamento da Passarela Cincuentenario: Remoção da estrutura das carretas.
Figura 15. Fase (iii) de içamento da Passarela Cincuentenario: Remoção da estrutura das carretas.
Figura 16. Fase (iii) de içamento da Passarela Cincuentenario: Fase intermediária da operação de içamento.
Figura 16. Fase (iii) de içamento da Passarela Cincuentenario: Fase intermediária da operação de içamento.
Figura 17. Fase (iii) de içamento da Passarela Cincuentenario: Fase final da operação de içamento, antes da execução das conexões, para liberação dos guindastes.
Figura 17. Fase (iii) de içamento da Passarela Cincuentenario: Fase final da operação de içamento, antes da execução das conexões, para liberação dos guindastes.
Figura 18. Fase (iii) de içamento da Passarela Cincuentenario: Estrutura da passarela na sua configuração final.
Figura 18. Fase (iii) de içamento da Passarela Cincuentenario: Estrutura da passarela na sua configuração final.

Principais preparativos para permitir a realização da operação

Como medidas preparatórias, além dos procedimentos normais sempre associados ao planejamento de operações de movimentação de cargas seguras referidos no item anterior, destacam-se: (i) o fechamento da Avenida Domingo Díaz ao tráfego de veículos durante a operação, por medida de segurança; (ii) a marcação da pista para sincronização do movimento das carretas hidráulicas; (iii) a eliminação de potenciais interferências ao movimento da estrutura ao longo do percurso; (iv) reforço de solo (755 m² de área reforçada); (v) a programação horária e plano de emergência.

As figuras apresentadas na sequência ilustram estas providências que, somadas aos demais procedimentos de praxe já referidos anteriormente, permitiram (às vezes com medidas muito simples) a realização de uma operação complexa, que envolve a movimentação de uma estrutura de grande porte e peso em ambiente urbano, em total segurança.

Figura 19. Planejamento do fechamento da Avenida Domingo Díaz para o trânsito de veículos, para a realização da operação. (Fonte: METRO de Panamá, www.elmetrodepanama.com).
Figura 19. Planejamento do fechamento da Avenida Domingo Díaz para o trânsito de veículos, para a realização da operação. (Fonte: METRO de Panamá, www.elmetrodepanama.com).
Figura 20. Marcação da pista visando-se a sincronização do movimento das carretas durante a execução da curva sobre o viaduto.
Figura 20. Marcação da pista visando-se a sincronização do movimento das carretas durante a execução da curva sobre o viaduto.
Figura 21. Eliminação de interferências ao transporte da passarela, do canteiro à posição final, para içamento e instalação, contemplando-se os seguintes obstáculos: postes de iluminação, fiação elétrica, passeios, guarda-corpos do viaduto e árvores.
Figura 21. Eliminação de interferências ao transporte da passarela, do canteiro à posição final, para içamento e instalação, contemplando-se os seguintes obstáculos: postes de iluminação, fiação elétrica, passeios, guarda-corpos do viaduto e árvores.

Equipe técnica envolvida na operação

  • Gerente de Contrato:      Sergio Bezerra
  • Gerente de Produção: Antonio Peronico Souza Filho
  • Gerente de Montagem: Winston Bold
  • Coordenador de Montagem: Gilmar Batista (Técnico Montagem)
  • Engenharia de Campo: Jacques Raigorodsky

                               Eng. Flavio Rubin

                               Eng. Thiago Makoto Oishi

  • Movimentação de cargas: Willian Gomes da Silva (Técnico Rigging)

                               Jean Paulo Matias (Supervisor Rigging)

  • Operações de içamento com guindastes: Empresa Equiser
  • Operações de transporte com carretas: Empresas MAXO e R&L

Equipamentos empregados na movimentação / transporte / içamento da estrutura

  • Guindaste sobre esteiras (02 unidades):

Modelo:                DEMAG CC 2800

Capacidade nominal:    600 t

Configurações utilizadas:

  • Guindaste 01: Configuração SH, Lança principal de 42 m;
  • Guindaste 02: Configuração SSL, Lança principal de 36 m e contrapeso suspenso de 170 t.

Subcontratado:          EQUISER Panamá

  • SPMT – Carretas hidráulicas:

Modelo:           Scheuerle Gen 3

Configuração:     6 linhas / dupla, com mesa de giro;

Número de eixos:  12

Capacidade:       60 t/eixo

 

Subcontratados:   R&L e MAXO

Duração

Tempo de operação, incluindo reposição da infraestrutura da avenida e restituição do tráfego: 24 h

Considerações finais

Operações de movimentação de cargas com estruturas de grande porte, como aquela aqui abordada para a instalação da Passarela Cincuentenario – a qual compõe o sistema de acesso à estação de mesmo nome da Linha 2 do Metro do Panamá – representam sempre um grande desafio para a Engenharia de Montagem. Isto se deve não somente às dificuldades técnicas inerentes ao processo, em virtude das grandes dimensões e do peso elevado, mas também aos riscos envolvidos na operação, já que uma eventual falha traz normalmente consequências catastróficas e grandes perdas. A margem de risco deve ser, portanto, controlada, por meio de um planejamento adequado, pelo uso de equipamentos certificados e pela capacitação da equipe técnica envolvida.

A dedicação, a responsabilidade e o preparo da equipe técnica do Consórcio envolvida na operação, bem como a aplicação da boa prática de Engenharia na montagem da estrutura, permitiram à Construtora Norberto Odebrecht superar mais este desafio com muita segurança e competência; um esforço que resultou na entrega antecipada do primeiro trecho da Linha 2 do Metro, gerando os ganhos correspondentes. O uso de “know-how” brasileiro e de técnicas já consagradas em outros segmentos da indústria, mas ainda inovadoras no setor de Construção Civil, além de otimizarem o processo, permitiram reduzir o impacto no entorno ao mínimo necessário, trazendo vantagens para o cliente e benefícios para toda a comunidade do entorno.

 

Thiago Henrique Makoto Oishi

é Engenheiro Civil formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo.
Trabalha como Engenheiro Civil no Setor de Processos Construtivos da ODEBRECHT Engenharia & Construção Internacional desde 2013, na área de montagem e Heavy Lift, sob a liderança do Eng. Jacques Raigorodsky. Este setor provê apoio técnico capacitado de Engenharia aos diversos segmentos do grupo ODEBRECHT.

Daniel Lepikson Oliveira

é Engenheiro Mecânico e Civil, Mestre e Doutor em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP).
Especializado em Engenharia de Estruturas, trabalhou como Engenheiro Civil no Setor de Processos Construtivos da ODEBRECHT Engenharia & Construção Internacional de 2008 a 2017. Posteriormente, integrou a equipe de engenheiros calculistas da empresa alemã sbp – schlaich bergermann partner, em Stuttgart, Alemanha durante o ano de 2018.
Atualmente está no Setor de Engenharia da ODEBRECHT Engenharia & Construção e é responsável pela implementação de um programa de inovação na empresa.

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