Mudanças pelo país começam pela educação

As grandes mudanças da humanidade em geral, e das pessoas em particular, sempre ocorrem por dois motivos: pelo amor ou pela dor. Acredito que a dor causada pela crise que o País vem atravessando está antecipando um período de grandes alterações e quero, neste espaço da Revista O Empreiteiro, fazer um apelo.
O governo e a sociedade civil organizada precisam se sensibilizar com as perdas ocorridas no País, em especial, nos setores produtivos, que são geradores de empregos e riquezas. Precisamos de mudanças rápidas. Necessitamos de medidas que compensem as dificuldades que nos são impostas. No caso específico do segmento de bens de capital, temos investido tempo, energia e recursos financeiros para criar uma massa pensante capaz de sugerir medidas que possam, de certa forma, minimizar os danos às nossas empresas.
Precisamos fazer com que o governo nos ouça e viabilize algumas mudanças efetivas, pois um recente e importante estudo desenvolvido pelo grupo de competitividade da nossa entidade apresenta dados alarmantes referentes ao desempenho da indústria brasileira nas últimas décadas.
A participação da indústria brasileira no Produto Interno Bruto registra queda desde o início dos anos 80. E a participação da indústria de bens de capital no PIB passou de aproximadamente 45% para cerca de 23% em 2005. Na prática, esses números refletem o processo de desindustrialização imposto pela equivocada política econômica adotada no País, que continua, há décadas, prestigiando o mercado financeiro, em detrimento do setor produtivo.
O fato é que o Brasil parou no tempo em termos de investimentos em desenvolvimento tecnológico, inovação e capacitação da mão-de-obra, situação agravada pela pesada carga tributária que recai sobre o setor produtivo. E nunca é demais ressaltar que somos o único País que tributa investimentos e possua uma das maiores taxas de juros do mundo.
Segundo dados do IBGE, nos últimos dez anos, o investimento médio no setor de bens de capital no Brasil (Formação Bruta de Capital Fixo) foi de 16,9% do PIB, ficando atrás da média da América Latina (18,7%) e muito abaixo da média mundial (23,7%).
Em comparação aos demais países emergentes (Rússia, Índia e China), o Brasil investiu menos da metade, uma vez que esses países investiram, em média, 34% deseus PIB’s na industrialização. Não existe país desenvolvido que não tenha setor de bens e capital desenvolvido. E, na realidade, estamos indo na contramão de outros países, como por exemplo, a Coréia do Sul, Índia e China, que desenvolveram sua indústria e aumentaram a renda da população.
A realidade do empresário de bens de capital no Brasil é composta por juros altos, carga tributária excessiva, uma política cambial desfavorável e, o mais grave de todos os males, a falta de investimento em educação. Essa fórmula aplicada ao longo de décadas está conduzindo o País a uma desindustrialização que acaba com um parque instalado e desemprega milhares de pessoas.
É importante lembrar que no ano passado o Brasil pagou mais de R$ 168 bilhões de reais somente com juros da dívida, e menos de 5% desse valor com educação, e menos ainda com investimentos em infra-estrutura.
Como podemos ter um Brasil forte, um futuro digno para nossa população, com uma fórmula perversa como essa?
Mas temos alternativa. Ainda há tempo para isso. E é sobre esse aspecto que estamos nos debruçando, realizando estudos fundamentados e elaborando propostas factíveis para mudar o rumo do País.
Temos buscado alianças e precisamos que o governo se sensibilize e desonere o investimento produtivo. Ninguém compra máquina aleatoriamente. Compra porque precisa coloca-las para produzir, gerar emprego, riqueza e, mais do que tudo, promover o desenvolvimento.
Assim, se nesse momento de crise, não conseguirmos iniciar um processo de mudança na estrutura atual da política econômica brasileira, que vem nos condenando durante décadas a índices de desenvolvimento humanos abaixo de qualquer critica, continuaremos a ser o país das oportunidades perdidas.
Ainda há tempo!

Luiz Aubert Neto é presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos Sindicato Nacional da Indústria de Máquinas (Abimaq)


Fonte: Estadão

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