Na amplitude do mundo

José Roberto Cardoso*

Reitero, nessa mesa-redonda virtual, o que disse ao editor da revista O Empreiteiro, o jornalista Nildo Carlos Oliveira, em edição anterior: A internacionalização vem sendo amplamente praticada no exterior. Não tem fronteiras. Os engenheiros europeus, americanos, chineses, são internacionais. Não são locais. Não têm a visão voltada apenas para os seus países de origem. Não atuam mais numa determinada localidade. Atuam na amplitude do mundo. Não há sentido no raciocínio de que se deve pensar, hoje, numa engenharia regional, local. Nos próximos 50 anos não haverá mais espaço ou condições para se pensar desta forma.

Gostaria de salientar também o seguinte: se há alguém aqui no Brasil conquistando obras de engenharia em nosso mercado, avançando sobre obras que teoricamente de “nossa reserva de mercado”, é lógico que teremos de nos habilitar para concorrer com eles no mercado externo. Concorrer e vencer. É com essa finalidade que temos cada vez mais de nos conectarmos com essa rede de mercados internacionais e absorver tecnologias cada vez mais importantes e sofisticadas. Mas, para isso, temos que nos preparar. Precisamos contar com mão de obra qualificada, que saiba fazer o que precisa ser feito. Aqui e no mercado externo.

Para isso, para habilitar e capacitar mão de obra de engenheiros, as escolas de engenharia brasileiras precisam se transformar em escolas internacionais. Lembro que o jornalista me perguntou: “Como fazer isso?” – E eu respondo de novo: Praticando programas de cooperação técnica com escolas de engenharia internacionais de primeira linha. Nós contamos, no caso da Escola Politécnica, que formou grandes lideranças nacionais, com acordos firmados com escolas desse nível lá fora. Já encaminhamos cerca de 250 de nossos alunos para cursos na França, Alemanha, Itália, Inglaterra, Ásia e Portugal. Temos alunos fazendo programa duplo e saindo até com dois diplomas. Eles fazem pequeno estágio de seis meses a um ano com validação de créditos na École Polytechnique da França, no Instituto Superior Técnico de Lisboa e em outras escolas de igual categoria em Turim, Milão e Palermo, na Itália. E atualmente estamos reformulando a estrutura curricular na Politécnica para nos aproximarmos ainda mais desses centros avançados de ensino da engenharia.

Outro dado para o qual chamo a atenção: o jovem que pretenda seguir uma carreira internacional na engenharia, precisa se organizar, se estruturar, para ingressar no mercado de obras globalizado. No processo de internacionalização, não é de modo algum suficiente que ele conheça e adquira fluência numa ou em mais idiomas. Ele precisa ter mais do que isso: identificar-se com usos e costumes locais, apropriar-se da cultura local mediante a integração que a prática profissional lhe possibilite. O caminho da internacionalização será difícil, áspero, mas é importante que nos convençamos do seguinte: não haverá outro.

*O professor José Roberto Cardoso é diretor da Escola Politécnica da USP.

Fonte: Estadão

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