Crise global reduz os preços das obras
de ampliação do Canal do Panamá
A crise econômica mundial não está impactando negativamente as obras de ampliação do Canal do Panamá, considerada uma das maiores da engenharia da atualidade. Segundo a gerente executiva de planejamento e controle de projetos da Autoridade Canal do Panamá (ACP), a engenheira Ilya de Marotta, a crise tem contribuído para a oferta de propostas mais competitivas para os diferentes contratos de ampliação. As obras, segundo a ACP, que administra a execução de todos os contratos, seguem sem atrasos no cronograma.
O projeto prevê um terceiro jogo de eclusas para duplicar a capacidade do Canal do Panamá a partir do ano de 2014, com investimentos previstos de US$ 5,2 bilhões. Por enquanto, nenhuma empresa brasileira está envolvida nos contratos de ampliação, que têm como participantes a Construtora Urbana S.A., o Consórcio Cilsa Panamá e a Construtora Meco. São parcerias que englobam empresas da Espanha, Alemanha, Holanda, Reino Unido, Japão, Estados Unidos, China, Itália, Bélgica e do próprio Panamá.
"A ACP tem monitorado todos os fatores que podem ter impacto para a execução das obras. Este monitoramento inclui os preços dos principais insumos e materiais para a ampliação, tais como combustíveis e aço. Apesar da gravidade da crise econômica mundial, o Programa de Ampliação não foi afetado. Prova disso são os contratos de financiamento que a ACP assinou com cinco agências multilaterais para financiar US$ 2,3 bilhões para as obras", afirma a engenheira.
A ampliação elevará o luxo de navios no canal que liga os oceanos Atlântico e Pacífico, que, atualmente, registra a passagem de cerca de 5% das exportações mundiais. Pelo projeto, duas novas eclusas serão construídas e uma terceira via no canal aberta. Cada uma dessas novas eclusas terá três câmaras e 60 m de largura.
Segundo Ilya de Marotta, o programa deve gerar quase 40 mil empregos diretos e indiretos. Tão logo as obras de ampliação sejam finalizadas, a expectativa do governo do Panamá é que entre 2015 e 2025 o Canal contribua com 2% do PIB anual do país.
O Canal tem 80 km de comprimento e, anualmente, cerca de 13 mil barcos passam pelo local. O objetivo é aumentar o porte dos navios, já que, pela estrutura vigente apenas os navios Panamax, com até 32 metros de largura e 294 metros de comprimentos, podem atravessar o Canal. Até 2014, data prevista para a conclusão das obras, os navios Post Panamax (com 49 metros de largura e 365 metros de comprimento) também utilizarão a rota considerada uma das mais importantes do mundo. Será uma mudança que significará o aumento do volume de cargo dos quase 300 milhões de toneladas atuais para 600 milhões de toneladas em 2014.
Essas obras, de acordo com Ilya serão importantes para manter a competitividade do Canal a longo prazo, além de dissuadir possíveis competidores de desenvolver alternativas mais atraentes à passagem pelo Panamá. Para a execução da ampliação, foram necessários mais de 120 projetos de estudos para a elaboração do plano de modernização.
Em março deste ano, foram entregues as propostas para o projeto e a construção das novas eclusas, que tiveram a pré-qualificação do Consórcio Canal, do Consórcio Bechtel, Taisei, Mitsubishi Corporation e o Grupo Unidos por El Canal. "Atualmente, o processo se encontra em fase de avaliação técnica das propostas. Toda a documentação está sendo analisada pela Junta Técnica de Avaliação da ACP, formada por 15 profissionais de diferentes entidades", explica a engenheira.
A expectativa é que até o final deste semestre este processo, que está cercado de polêmicas, seja finalizado. No início deste mês, a ACP fez um comunicado desmentindo o presidente da Impregilo SpA, Massimo Ponzellini, que havia airmado que o consórcio Grupo Unidos por El Canal havia obtido a mais alta avaliação em sua proposta técnica na licitação do contrato de projeto e construção do terceiro jogo de eclusas do Canal do Panamá.
Segundo nota da ACP, depois da avaliação técnica, a etapa seguinte será de auditorias interna e externa e somente então será estabelecida uma data para se divulgar, em ato público, o resultado das propostas técnicas. É depois desta publicação que serão abertos os envelopes com as propostas de preços que, no momento, estão selados e em custódia do Banco Nacional do Panamá.
Enquanto as empresas participantes esperam o desenrolar deste processo, a próximo passo para a licitação da dragagem do Atlântico será dado em 30 de julho, quando os interessados apresentarão suas propostas. Ainda em 2009, será licitado, também, o quarto contrato de escavação seca do Canal.
Atualmente, três contratos estão em execução. Segundo Ilya, o primeiro de escavação seca está a cargo da Construtora Urbana S.A. que já executou 89% dos trabalhos até maio deste ano. "Entre esses serviços, se inclui a finalização dos trabalhos de terraplenagem do Cerro Paraíso, localizado em frente às eclusas de Pedro Miguel. No local havia uma elevação de 136 m abaixo do nível do mar, o que foi reduzido para 46 m. A construtora também escavou 7,3 milhões m³ de material", afirma Ilya.
No segundo contrato de escavação a seco, executado pelo Consórcio Cilsa Panamá-Mínera Maria, o avanço das obras está estimado em 75% até maio deste ano. As empresas do consórcio haviam escavado 5,8 milhões m³ de material de um total previsto de 7,5 milhões m³ Já a Construtora Meco está responsável pelo terceiro contrato de escavação a seco que teve sua primeira atividade em março quando foi iniciada a limpeza de 190 hectares de terreno. Foi também neste primeiro semestre que as empresas responsáveis pela obra trouxeram os equipamentos pesados para remoção de 8 milhões de m³ de material. Dentre esses equipamentos, uma escavadeira Terex RH 120 e cinco caminhões Caterpillar 777F.
Atualmente os acessos do Canal também estão passando por dragagem. A primeira, na entrada do oceano Pacífico, está sendo executada pela companhia belga Dredging Internacional que até maio deste ano havia dragado 2,8 milhões m³ de material do fundo do mar, dos 9,1 milhões m³ contemplados no projeto. Em março deste ano, a empresa mobilizam equipamento adicional, incluindo uma enorme barcaça de perfuração Yuan Dong 007,com 10 torres.
A outra dragagem, do Corte Culebra e do Lago Gatún, está sendo executada pelo pessoal da ACP com a remoção de 5,1 mil
hões m³ de material até 31 de maio deste ano. No primeiro trimestre deste ano, também foram retomadas os trabalhos para aprofundar o canal de navegação do Corte Culebra, que é o ponto mais estreito do Canal, com a dragagem de 200 mil m³ de material até maio passado.
Paralelo ao programa de ampliação, a ACP está realizando uma série de melhorias na atual estrutura do Canal do Panamá, para aumentar sua capacidade. Segundo Ilya, os investimentos recentes somam US$ 320 milhões em projetos como a de iluminação das eclusas, compra de novos rebocadores, uma segunda estação de amarraduras e a substituição e modernização da frota de lanchas do canal.
Fonte: Estadão