País investe em diversificação e expansão do setor elétrico e
BNDES é principal agente de fomento
Apesar de a água ser o principal recurso para a geração de energia elétrica brasileira, o planejamento de expansão do setor, produzido pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), destaca a necessidade de se diversificar a fonte, a fim de reduzir a relação de dependência existente entre volume produzido e condições no nível pluviométrico na cabeceira dos rios que abrigam tais usinas. O que vem sendo feito: de alguns anos para cá, 16% da capacidade geradora do País provinda de hidrelétricas foi transferida para outras fontes, principalmente, em consequência da construção de termelétricas movidas a gás natural e a biomassa, em vez do carvão mineral.
"O Brasil é um País em desenvolvimento e é preciso tomar medidas eficientes para que se tenha a elevação do Produto Interno Bruto (PIB) com disponibilidade de energia suficiente necessária", afirma o engenheiro Miracyr Assis Marcato. Ele cita a conciliação de três agendas: segurança no abastecimento, custo da energia e preservação do meio ambiente, o que seriam "desenvolvimento econômico e erradicação da miséria com preocupação ambiental", explica.
Para o presidente da EPE, Mauricio Tolmasquim, as térmicas têm papel importante como complemento à matriz energética brasileira. Mas, devido à combustão de carvão mineral e petróleo, as movidas por energias não-renováveis emitem gases poluentes na atmosfera. Assim, a biomassa, fonte de energia com maior potencial de crescimento nos próximos anos, é considerada nacional e internacionalmente a principal fonte. Em 2007, essa matriz energética alcançou o segundo lugar em produção elétrica no Brasil, responsável pela oferta de 18TWh, de acordo com o Balanço Energético Nacional (BEN).
Qualquer matéria orgânica que possa ser transformada em energia mecânica, térmica ou elétrica é classificada como biomassa. Pode ser de origem florestal (madeira), agrícola (arroz, cana de açúcar, soja etc) e rejeitos urbanos e industriais (como o lixo). Segundo estimativas da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), de São Paulo, em 2020, a eletricidade produzida pelo setor poderá representar 15% da matriz brasileira, com produção média de 14,4 mil MW.
Incentivo às energias alternativas
Em novembro de 2008, dos 19 empreendimentos termelétricos em construção relacionados no BIG, da Aneel, cinco eram movidos a biomassa, sendo um a bagaço de cana-deaçúcar. Para as 163 unidades já outorgadas, com construção ainda não iniciada, 55 serão movidas a biomassa, sendo quase metade (30) a cana-de-açúcar. As demais serão abastecidas por madeira, carvão vegetal, licor negro, casca de arroz e biogás.
O Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) tem contribuído para a expansão e diversificação do setor elétrico brasileiro. Principal agente provedor de recursos de longo prazo, de 2003 a meados de 2008, o banco apoiou 210 projetos, com R$ 32,2 bilhões em financiamentos, para investimentos de R$ 54,5 bilhões entre as atividades de geração (hidrelétricas, termelétricas, PCHs, biomassa, eólicas), além de transmissão, distribuição e racionalização de energia. Para o professor e economista Tharcísio Bierrenbach de Souza Santos, diretor do MBA da Fundação Álvares Penteado (FAAP), em São Paulo, todas opções de termelétricas têm custo alto, em comparação às hidrelétricas. Por aproveitarem o resíduo disponível da produção do etanol pela cana-de-açúcar, aquelas que usam essa biomassa para esquentar a água e movimentar as turbinas ganham em rentabilidade. "O kW é um pouco mais caro, mas compensa", diz. "As movidas a átomos elétricos (nucleares)", completa o economista, "aproveitam-se de uraino e também são válidas, uma vez que o País é produtor do minério."
Bons ventos
Paralelamente aos projetos de biomassa, no último mês de maio, o BNDES aprovou financiar R$ 72 milhões para a implantação da usina Eólica Pedra do Sal, no município de Parnaíba (PI). O empreendimento está incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e tem potência instalada de 18 MW. Os recursos do BNDES correspondem a 69,47% do investimento total e a operação ocorre no âmbito do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA).
O parque eólico teve licenças de Instalação e Operação concedidas pela Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (SEMAR) e ajudará a minimizar a emissão de gases de efe
ito estufa na diversificação da matriz energética nacional. Sua capacidade de geração também contribuirá para a segurança energética do nordeste, já que o período de chuvas na região (fonte da geração hidrelétrica) é inverso ao regime dos melhores ventos.
Biocombustíveis na ordem do dia
No mercado internacional, o Brasil se destaca como o segundo maior produtor de etanol que, obtido a partir da cana-de-açúcar, apresenta potencial energético similar e custos menores ao etanol dos EUA (milho), por exemplo. Segundo o BEN, em 2007 a produção brasileira alcançou 8.612 mil toneladas equivalentes de petróleo.
O biocombustível tem se expandido no rastro do aumento da atividade agroindústria canavieira e dos investimentos, superior a R$ 17 bilhões, em combustíveis renováveis previsto no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Até 2010, devem ser destinados R$ 13,3 bilhões à construção de mais de 100 usinas de etanol e biodiesel e outros R$ 4,1 bilhões à construção de dois alcooldutos: um entre Senador Canedo (GO) e São Sebastião (SP) e outro entre Cuiabá (MT) e Paranaguá (PR).
Fonte: Estadão