Sempre se soube que o legado da Copa seria um blefe. O que se pretendia era uma justificativa, um pretexto, para a montagem do cenário em que seriam conduzidas as obras para esse evento, que hoje está aí, próximo. Alguma coisa seria deixada, mas nunca nas dimensões descritas e propaladas. E olhe o quanto se carregou nas tintas para se difundir a chamada mobilidade urbana, em especial nas cidades-sede do Mundial.
Veja-se o balanço trazido à luz pela imprensa: “Dos 56 projetos previstos em 2010, com investimentos de R$ 15,4 bilhões, restaram 39, orçados em R$ 7,9 bilhões”. E tais números não revelam tudo.
Estádios, que poderiam ter sido reformados, foram colocados a pique, para a construção das novas “arenas”, a custos na estratosfera. Quando apresentadas as dificuldades para a construção de acessos, acenava-se com a facilidade de recursos, buscados junto a governos e instituições financeiras. Haveria uma mexida completa na infraestrutura urbana; não faltariam metrôs; na falta deles, os monotrilhos estariam aí despontando e os diversos modais de transporte confluiriam para terminais de Primeiro Mundo. Hoje, se sabe que diversos desses projetos ficarão para depois; talvez para a Olimpíada ou para as calendas.
Um engenheiro me chamou a atenção para o blefe quando estive em Manaus, a fim de fazer matéria sobre a construção da arena, orçada por R$ 605 milhões. Perguntei-lhe sobre o legado. E, ele: “Legado? Você acredita em legado antes ou depois da Copa, mesmo depois do exemplo da África do Sul? Para mim, essa história de monotrilho aqui em Manaus, não pega”.
Acredito que alguns benefícios, esparsos, advirão. Mas o foco era a construção dos estádios, alguns dos quais já possuem lugar definido na memória urbana: imensos e caros elefantes brancos, num país potencialmente rico, mas cuja população é refém de tributos, taxas e multas. Em SP, somente as multas de trânsito no ano passado, por conta da trituração dos proprietários de veículos, podem gerar uma receita de R$ 21 milhões.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira