O diálogo das cidades com as pontes

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Alguns engenheiros dizem que as cidades dialogam com as suas obras de arte. Refiro-me, no caso, às pontes e aos viadutos. Esse diálogo com certeza acontece. Vem acontecendo ao longo dos séculos. Não fora assim, essas obras não estariam tão entrelaçadamente identificadas com a história das cidades ou de outros locais em que, construídas, estabeleceram a ligação entre uma comunidade e outra, permitindo que elas se juntassem e, unidas, se desenvolvessem.

Pena que milhares dessas obras tenham desaparecido, por conta de demolições, bombardeios, deterioração e envelhecimento, ou por causa de fenômenos naturais. Como aconteceu com a ponte de Herval, calculada por Emílio Baumgart, construída sobre o rio do Peixe, em Santa Catarina.

A ponte de Herval ganhou notoriedade internacional em sua época – 1930 – porque, segundo documentação histórica, foi a primeira do mundo feita com concreto e em balanços sucessivos, com vão livre então muito arrojado: 68,5 m. Contudo, não resistiu às enchentes ocorridas naquela região em 1984 e acabou levada pelas águas.

Poderia falar também da ponte pênsil de São Vicente, considerada a primeira, desse tipo, construída no Brasil. Inaugurada há quase 100 anos, está lá, olímpica, a essa altura tombada pelo patrimônio histórico, a testemunhar o desenvolvimento da Baixada Santista.

E a Ponte da Amizade? Esta, em Foz do Iguaçu, sobre o rio Paraná, não só estabeleceu diálogo entre duas cidades, como continua a ser canal de relacionamento direto entre dois países. Conta o professor Augusto Carlos de Vasconcelos que na época em que ela foi inaugurada – 1965 – possuía o maior vão do mundo em arco engastado de concreto armado: 290 m.

E as pontes Hercílio Luz e a Colombo Salles, em Florianópolis? E a própria Rio-Niterói? São obras que marcam diálogo continuado com as gerações que vão se sucedendo, cada uma refletindo as nuanças da evolução da engenharia de cálculo, da identificação dessas obras com o desenho urbano e com a evolução da tecnologia dos materiais. E todas preservam, ao lado desses aspectos, o seu conteúdo histórico e, eventualmente, trágico ou romântico.

Quando uma vez conversei com o engenheiro que cuidava da construção da ponte estaiada sobre o rio Negro, em Manaus, ele confidenciou: “Essa ponte conversa com as águas”. Nunca duvidei de que isso estaria acontecendo. Acho que ainda acontece.

Claro que as pontes, diversificadas, seculares, algumas abandonadas e sacrificadas pela falta de manutenção, em São Paulo, mereceriam comentário à parte. Da mesma forma como é inegável que deveria fazer o mesmo com aquelas pontes que favorecem as travessias pelos quatro cantos do Recife, desde a administração Maurício de Nassau.

E aquelas internacionais? A ponte de Waterloo ficou na memória dos cinéfilos e de outros interessados em dramas como aquele vivido por Vivien Leigh e Robert Taylor, no filme homônimo.

Contudo, uma das pontes, além da Pont Neuf, em Paris, que mais tem dialogado com a história e o povo de sua e de outras cidades, tem sido a do Brooklyn, sobre o rio East. Ela conecta os distritos de ­Manhattan e Brooklyn, em Nova York, sendo apontada como a primeira ponte de aço suspensa do mundo. Possui uma longa história técnica e humana, desde que, com seus 1.834 m de extensão, foi aberta ao tráfego em maio de 1883. Concebida pelo arquiteto John Augustus Roebling, que morreu antes da conclusão da obra, ela reflete a alma dinâmica de Nova York.

Algumas pessoas dizem – e naturalmente não disponho de meios para constatar isso – que a Ponte do Brooklyn dialoga não apenas com a cidade, mas também com o seu criador.

Impressionismo
na Pauliceia

Surpreendeu, sensibilizou e atendeu aos gostos mais variados a exposição, em São Paulo (4 de setembro a 7 de outubro), “Paris e a modernidade: obras-primas do acerto do Museu d’Orsay”. Foi grande o público que passou pelo Centro Cultural Banco do Brasil para apreciar pinturas de Claude Monet, Renoir, Camille Pissaro, Degas e Van Gogh.

Frase da coluna

“É preciso acabar com essa lógica perversa pela qual os mais pobres são exatamente os que pagam mais impostos.”
Do economista Márcio Pochmann, que deixou a presidência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) a fim de concorrer à prefeitura de Campinas (SP).

Fonte: Padrão


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