O monstrengo urbano, de aço e concreto, colocado em funcionamento lá pelo ano de 1972, arruinou a paisagem de uma privilegiada área central paulistana e tentou compensar os estragos revelando-se útil para a circulação de veículos entre as zonas leste e oeste.
A ideia de que o seu fim estaria próximo começou a ser difundida imediatamente depois que ele foi inaugurado. Mas essa ideia continuou apenas como uma intenção, vez ou outra sacada do bolso do colete de algum político plantonista. Hoje, dizem que aquele fim está próximo: daqui a 15 anos.
Imagino o que ele, o monstrengo, produziu de malefícios, individuais e coletivos, ao longo de quase quatro décadas. Imóveis se desvalorizaram; famílias perderam seus bens ou viram como eles se deterioraram; a sujidade aplastou-se na face urbana; tornou-se impossível a convivência com o desespero ocasionado pelo fluxo contínuo de veículos ao alcance do nariz, ouvidos e garganta; e, sob as sombras do concreto, o espaço foi tomado pela miséria sem teto. A desfiguração, no traçado, foi selvagemente total. Mas, prevê-se uma mudança para isso. Daqui a 15 anos.
O fim não será fácil. Implica ampla revitalização e criação de opções para o trânsito que já conhece o caminho da roça. Requer investimentos pesados. Terão de ser enterrados 12 km de linha férrea, entre Lapa e Brás, para a construção de uma via expressa ligando o leste ao oeste. Sob ela, correriam os trilhos ferroviários. Para isso, será necessário construir um túnel que, a preços de hoje, não sairia por menos de R$ 3 bilhões.
Portanto, o anúncio de que será cravada uma estaca no coração do monstrengo, construído pelo então prefeito Paulo Maluf, soa como algo longínquo, só viável se, um dia, as condições econômicas forem favoráveis. É possível até que ele não tenha o fim merecido: a demolição total.
A ideia de que poderá ser demolido parcialmente e, o que restar, aproveitado para um parque suspenso, destinado a reunir a alegria das crianças do entorno e de outras regiões da cidade, talvez venha a ser assumida como a mais provável. No fundo, o que existe mesmo é o anúncio. O resto é paisagem urbana deteriorada.
Fonte: Estadão