O governo entre a ficção e a realidade

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O governo tem um plano. É bom nisso. E é melhor ainda na técnica de anunciá-lo. O plano é duplicar 5.700 km de rodovias, construir 8 mil km de ferrovias e fazer concessões pelo menos de três portos. Tudo somado, isso geraria obras calculadas  em mais de R$ 100 bilhões.

O lançamento desse pacote de ficção, a ser transformado, queremos acreditar, em realidade, vem na expectativa de substituir as notícias ruins pelas notícias boas e, com isso, criar um clima de otimismo que agite e dê novos patamares de perspectivas para a  economia.

O que se deduz, da necessidade  dessa geração de notícias positivas, é que o PAC 2 não está conseguindo provocar os efeitos que se esperaria dele.  As obras vêm sendo tocadas devagar, algumas sequer andam e outras, a exemplo da famigerada transposição do rio São Francisco, secam ao sol. Por conta disso, nada melhor do que o lançamento de um novo pacote de obras.

E, se o governo pretende olhar com tanta delicada atenção para o problema da infraestrutura rodoviária, por que deixa que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) fique tanto tempo – ao menos desde junho do ano passado – com obras importantes paralisadas?

A mesma pergunta pode ser feita em relação à malha ferroviária, cuja tradição foi interrompida nos anos 1960, nada se fazendo, de lá para cá, com raras exceções, para retomá-la. Trens e equipamentos ferroviários acabaram abandonados pelo País afora.

Foi um rico patrimônio que o tempo e o vandalismo continuam dilapidando. E o governo, num passe de mágica, quer de um momento para outro construir nada menos que 8 mil km de ferrovias. Naturalmente ele estaria incluindo aí as ferrovias em curso e cujas obras, conforme se verá na edição da revista O Empreiteiro de julho último, que publica o Ranking da Engenharia Brasileira, vão acumulando atrasos em cima de atrasos, de dormente em dormente, de estação em estação.

Diz, a notícia sobre o lançamento do plano, previsto para quarta-feira da semana que vem, que desta vez o governo “vai criar mecanismos para evitar atrasos”. Quais mecanismos? Com certeza ele estará se referindo, enfim, a algum modelo de gestão. Esperemos que ele haja acordado para isso, pois, até agora, pelo que se tem visto nas obras do PAC, aqui e alhures, a gestão dos serviços tem sido de uma deficiência, no mínimo, federal.    

 

Fonte: Nildo Carlos Oliveira


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