Está se aproximando o momento em que o brasileiro, no geral, deixará de falar em obras atrasadas, em investimentos curtos e em outros problemas que o afetam direta ou indiretamente, para se concentrar naquilo que será do interesse praticamente de todos: a participação e o eventual êxito do Brasil na Copa do Mundo.
Mas, antes que isso aconteça, é bom lembrar que chega em boa hora a informação de um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) – que reforça outros estudos e dados de analistas – de que só o atraso em seis obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ocasionou prejuízos da ordem de R$ 28 bilhões, quase o valor equivalente àquele que seria gasto com as obras e com outras despesas da Copa do Mundo.
As obras atrasadas são as correspondentes aos trabalhos para modernização do Aeroporto de Vitória (ES); o projeto de saneamento na Bacia do Cocó, em Fortaleza (CE), a transposição do Rio São Francisco; a duplicação da BR-101 em Santa Catarina e as linhas de transmissão das usinas do rio Madeira (duas obras).
Independentemente da discussão sobre a importância local ou regional dessas obras, o que se observa é o tempo e o dinheiro já aplicado nos projetos e nos trabalhos de execução que elas ensejaram. Há uma asserção generalizada de que obra cara é obra paralisada. Paralisada ou atrasada, ela constitui um desserviço para a população e uma falta de respeito para com todos que arcam com os recursos para colocar o País em andamento. Haja vista o exemplo de uma dessas obras, a transposição do rio São Francisco: amplos trechos dos canais abertos e já concretados foram deixados às moscas, inconclusos. Como se os prejuízos para as populações que há anos vinham contando com a transposição não representassem nada.
Lelé
Apenas para lembrar: a morte do arquiteto Lelé, o João Filgueiras Lima, ocorrida dia 21 último, é um duro golpe na inteligência e na memória da arquitetura brasileira. Ele não foi apenas um arquiteto e um ser humanos admirável, mas um profissional identificado com as urgências do País e cuja criatividade considerava essas urgências. Basta falar da fábrica de equipamentos urbanos que ele criou, para favorecer as populações das remotas periferias. E das obras que projetou e construiu, com a mesma preocupação.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira