Com o lançamento, este mês (novembro), no Rio de Janeiro, da obra O passado presente — um exercício de coerência —o engenheiro e escritor Jaime Rotstein dá testemunho do pensador que tem sido, sem rotas de fuga, ao longo dos anos. Durante todo o tempo vem mantendo-se coerente com o que faz e com o que pensa. Eu o conheci assim, no começo dos anos 1970, quando recebia as suas colaborações – artigos e ensaios — para publicação na revista O Empreiteiro.
O livro, dentre mais de uma dezena que já publicou, reúne trabalhos, conferências, algumas memórias, e não deixa de ser um depoimento, uma espécie de prestação de contas de posições assumidas e defendidas. Esteve, por exemplo, conforme ele próprio confessa, alinhado à luta de Horta Barbosa, na defesa do monopólio estatal do petróleo. Foi um homem do seu tempo e soube distinguir os valores daquela luta que então sintetizava o ideário de esquerda resultante das mudanças que iam pelo mundo.
Embora não tenha continuado dentro da linha partidária de então, prosseguiu identificando as políticas que deveriam ser a base do desenvolvimento nacional, atuando na defesa da engenharia do País, sem marginalizar a inteligência que pudesse ser acessada lá fora. Daí, sua anuência ao decreto presidencial, elaborado a partir de trabalho produzido no Clube de Engenharia, segundo o qual órgãos da administração federal só poderiam contratar a prestação de serviços de consultoria técnica e de engenharia com empresas estrangeiras, nos casos em que não houvesse empresa nacional devidamente capacitada e qualificada para o desempenho dos trabalhos previstos.
Com o mesmo entusiasmo com que defendeu o monopólio estatal do petróleo, Jaime Rotstein entrou na briga em favor do álcool combustível, inclusive financiando estudos, para consolidar convicções, custeados pela empresa de consultoria que ele fundou, a Sondotécnica. Não foi por outro motivo que, com o professor Ernesto Stumpf, recebeu em 1983 o título de “Pioneiro do Álcool’, no Instituto de Engenharia de São Paulo.
Dentre muitas outras manifestações de coerência com o seu passado e o seu presente, ele adotou posição crítica em relação ao Programa Nuclear Brasileiro. No fundo, o programa esboçava uma contradição: era assunto de segurança nacional, mas derivava de um acordo Brasil-Alemanha.
O livro trata também da política brasileira de contenção das cheias; da importância da trilogia ciência-técnica-educação e de algumas curiosidades que demonstram o nível de pesquisa em que mergulhou. Ele apurou, por exemplo, que São Paulo foi alvo de um meteoro a apenas 35 km do centro da cidade. “Se fosse hoje, a cidade viraria pó em segundos”.
Ele expõe o perfil do engenheiro mas, sobretudo, do pensador. Foi publicado pela Topbooks e traz o seguinte depoimento de Eliezer Batista: “O conhecimento do engenheiro Jaime Rotstein foi um dos fatos mais relevantes em minha trajetória de vida”.
(Nildo Carlos Oliveira)
Fonte: Revista O Empreiteiro