Mônica Alves, Mato Grosso
Motoristas acostumados a trafegar pela BR-163 estão na expectativa da pavimentação integral do trecho entre Cuiabá e Santarém,
que permitirá novo salto na economia agrícola mato-grossense
Concluir a pavimentação da rodovia BR-163, que corta os mais importantes estados produtores de grãos do País – Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Pará -, tem sido um dos grandes desafios nos últimos dois anos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) que, por meio dos recursos federais do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – R$ 1,4 bilhão -, garante finalizar as obras até dezembro de 2011. No momento, os 744 km de Cuiabá a Guarantã do Norte (MT) já estão concluídos e os 1.287 km da estrada ente Sinop (MT) e Santarém (PA), caracterizados por serem verdadeiros atoleiros nos dias de chuva, passam por obras de pavimentação. Já há trechos concluídos e outros em etapas diferentes.
Em quatro lotes,que perfazem 421 km da rodovia, as obras não haviam começado no final de maio, quando Luiz Antônio Pagot, diretor-geral do Dnit, inspecionou as obras. Mas, segundo ele, "já estão licitados e as empresas mobilizadas, com canteiros de obras demarcados". Devem começar os trabalhos muito em breve. A previsão é que a pavimentação de todo o trecho em território mato-grossense e de mais 500 km no Pará estará concluída até o final de 2010.
São quase quatro décadas de vida da rodovia, até há pouco com pavimentação integral apenas no segmento que vai do Sul para o Norte até Cuiabá. Dali em diante, alguns trechos com pavimentação e terra, buracos, arapucas para veículos e motoristas até Santarém (PA), dificultando a vida de produtores e exportadores, pois a rodovia é o principal meio de escoamento do agronegócio mato-grossense.
No Pará, o estágio atual das obras executadas entre os km 676 e 788, no início de junho era de 20 km com sub-base, 19 km de terraplenagem e 24% das obras de arte especiais. Nesse segmento, são aplicados R$ 141,3 milhões. Entre as construtoras envolvidas nas obras estão CGR, Técnica Viária, JG, Equipe, Rodocon e Tema Terra.
Expectativa
Os agricultores mato-grossenses convivem há anos com grandes congestionamentos nas serras cortadas pela BR-163 e esperam uma efetiva melhoria na logística da região com as obras. "A conclusão da pavimentação vai representar um marco para a produção local, já que poderemos escoar os grãos pelo porto fluvial de Santarém. Esta possibilidade de logística valorizará muito as commodities agrícolas do Estado, pois não precisaremos mais abater do valor de mercado do grão o alto custo do transporte para portos mais distantes, como Paranaguá (PR) e Santos (SP)", afirma Vicente José Beculle, proprietário de armazéns de grãos e pecuarista do município de Sorriso, 420 km ao norte de Cuiabá.
Para ele, as obras de conservação na rodovia já minimizaram as reclamações das empresas de transporte de grãos, que antes precisavam repassar aos produtores o prejuízo com manutenção e acidentes causados por buracos. "Há aproximadamente 15 anos, o trecho que passa pelos principais municípios produtores do norte mato-grossense, como Sinop e Sorriso, ainda não era pavimentado, o que causava constantes atolamentos e grandes prejuízos aos produtores. Depois da pavimentação, com o passar do tempo, no entanto, os buracos e a falta de estrutura da rodovia continuaram custando caro. Estes prejuízos só foram amenizados em 2009, com o projeto do PAC, quando o trecho da BR-163 que liga o norte do Estado ao Pará foi repavimentado e duplicado, ampliando o acesso à rodovia", acrescenta.
A atual obra de duplicação do trecho da BR-163 que passa entre Rosário Oeste e Jangada, a 128 km e 70 km ao norte, respectivamente, de Cuiabá, também pode representar segurança para comerciantes e moradores. "Aqui em Jangada é difícil encontrar um morador que não teve um familiar ou amigo vítima de acidente na rodovia". O casal de pecuaristas da cidade de Jangada, Fabiana e Gilmar Meira, conta que "há dois anos o trecho que cruza Jangada era cheio de buracos e com poucas áreas de acostamento, o que atrapalhava tanto o transporte da produção quanto o deslocamento dos moradores da cidade, que constantemente vão à capital".
Para Demir Santos Leme, comerciante de lanches e bebidas de Rosário Oeste, a redução da poeira da estrada em seu estabelecimento e a melhoria no acesso ao município são a principal expectativa com a duplicação do trecho, iniciada há algumas semanas. "Acreditamos que os investimentos irão valorizar as propriedades rurais e, conseqüentemente, dar um novo impulso ao comércio da região".
De acordo com estudos realizados no início deste ano pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT), a conclusão da pavimentação da rodovia Cuiabá- Santarém é considerada fundamental para reduzir o custo do escoamento da soja para os mercados externos. Cálculos da associação revelam que a rota Cuiabá-Santarém vai reduzir em até US$ 40 o custo do frete/t de soja transportada, em comparação com o que se paga atualmente pelo escoamento do produto via portos de São Paulo ou Paraná – US$ 140/t. Pelo porto de Santarém este custo pode ser reduzido em até 28,58%, dando muito mais competitividade à produção agrícola de Mato Grosso.
Ainda segundo os estudos da Aprosoja, Mato Grosso deverá exportar, dentro de dois anos, 10 milhões t de soja via porto de Santarém (PA). Com este volume, o incremento em relação ao movimento atual seria de 1.150%, em relação às atuais 800 mil t. Se for considerada apenas a projeção da safra de soja mato-grossense deste ano, de cerca 18 milhões t, Santarém estaria exportando 55% da produção total da oleaginosas de Mato Grosso.
Fonte: Estadão