O transporte público por um fio

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Rio de Janeiro e Medellín (Colômbia) têm mais coisas em comum do que se imagina:
tráfico de drogas, guerra entre quadrilhas e alto índice de criminalidade. Agora, a exemplo de lá, os cariocas contarão com um sistema aéreo de transporte público, o teleférico

Anunciado como uma solução para o transporte público no Complexo do Alemão, na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, o teleférico carioca tem data marcada para início de operação: setembro próximo. A obra, com recursos federais do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), faz parte de um conjunto de ações que visa recuperar o bairro, formado por cerca de doze favelas, e combater a violência e a acentuada interferência do narcotráfico. O total previsto de investimentos para todas as iniciativas governamentais, incluindo o teleférico, é de R$ 493 milhões.

O sistema de transporte foi baseado em projeto semelhante desenvolvido na cidade colombiana de Medellín. Lá o teleférico, conhecido como Metrocable ("metrô por cabo"), foi inaugurado em 2006 também com o objetivo de ajudar a diminuir a violência e a criminalidade decorrentes do tráfico de drogas, que cresceu significativamente nos anos 80 e 90.

As informações que se tem sobre o projeto na Colômbia dão conta de que os índices de violência e delinquência foram reduzidos sensivelmente. A aposta do governo do Rio de Janeiro é que o mesmo efeito seja obtido na capital fluminense. Para isso, é preciso que haja continuidade das ações governamentais complementares, envolvendo ocupação e pacificação das comunidades faveladas da cidade.

O governo do Estado e o Grupo Cultural Afroreggae formalizaram uma parceria visando a recuperação e inserção no mercado de trabalho de crianças e adolescentes da comunidade. Na estação final da Fazendinha – a mais alta de todo o complexo -, será reservado um espaço para que jovens do Afroreggae façam suas apresentações de dança e percussão.

Características
do teleférico

As obras do teleférico do Rio estão sendo realizadas pelo Consórcio Rio Melhor, que é formado pelas construtoras OAS, Odebrecht e Delta Construções. A Secretaria de Estado de Obras informa que a Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro (Emop) vem trabalhando dentro do cronograma estabelecido para que a viagem inaugural do teleférico do Complexo do Alemão realmente aconteça na data prevista (setembro).

A fase mais difícil, que ultrapassou o período de um ano, incluiu relocações e execução de fundações em terrenos de solo rochoso e com grande aclive. Na sequência veio a construção das estações e, na reta final, a instalação eletromecânica dos equipamentos, o que foi iniciado recentemente.

Essa modalidade de transporte vertical, não exclusivamente turístico (caso do bondinho do Pão de Açúcar), que visa o aprimoramento qualitativo das condições de acessibilidade de grandes comunidades, é inédita no Brasil. Junto com a construção de equipamentos sociais, melhoria habitacional e oferecimento de oportunidades de emprego e renda, o teleférico emprega soluções de engenharia para promover a inclusão social. Será utilizado não apenas pelos moradores do complexo (85 mil pessoas, aproximadamente), mas por turistas que têm interesse em conhecer as favelas e observar a paisagem do Rio de Janeiro, do alto do morro.

A tecnologia adotada é da empresa francesa Pomagalski (Poma), especializada em transporte por cabo, com mais de sete mil intervenções nesse segmento (em 73 países, nos cinco continentes), entre as quais, além de Medellín, também está o teleférico da Cordilheira do Alpes, na Europa.

O sistema do Complexo do Alemão é composto de seis estações, 24 pilares de sustentação e 152 gôndolas. Tem 3,6 km de extensão e sua capacidade de transporte é de 30 mil passageiros/dia. Todo o equipamento foi importado de Grenoble, na França, de onde foi transportado por navio, acondicionado em 170 containeres.

Segundo a Emop, a construção do teleférico considerou quatro aspectos principais, visando a análise dos custos inerentes à sua implantação:

Comparação com outros sistemas que operam em vias exclusivas, como um metrô enterrado ou em via elevada, porque não implica interferência nas vias de superfície, seja em termos de utilização de capacidade de tráfego, seja em termos de segurança para a circulação de veículos e pedestres, sem riscos de colisões e/ou atropelamentos;

Possibilidade de vencer desníveis acentuados que nenhum outro sistema poderia fazer, uma vez que rampas ascendentes com declividade longitudinal superior a 20% inviabilizariam a circulação de veículos de transporte público, mesmo de pequeno porte, como vans. Por outro lado, o trecho entre a Estação 1 e a Estação 2 do teleférico vence um desnível de 100 m, numa extensão de 200 m, só comparável com uma rampa de 50% de declividade, se o sistema fosse de superfície;

Uso de energia elétrica, de modo a privilegiar tecnologia limpa, não poluente. Essa vantagem se torna ainda mais expressiva em comparação com qualquer veículo que emprega combustível fóssil que, em trechos de rampa acentuada, são operam em marcha de força;

Capacidade de alterar completamente a referência atual de proximidade e acessibilidade, reduzindo os tempos necessários de deslocamentos para se alcançar importantes sistemas de transportes da cidade, como o trem e o ônibus, inclusive nos preceitos da acessibilidade universal, para idosos, crianças, gestantes, deficientes físicos e demais pessoas com mobilidade reduzida.

Pilares

Cada pilar possui uma parte de concreto, com 5 m de altura, e outra metálica, que é variável, podendo chegar a 35 m de altura;

Na cabeça de cada pilar há uma estrutura metálica (mênsula) e uma estrutura de roldana (balancim);

O cabo que passa pelos balancins tem 52 mm de diâmetro;

Em cada pilar há um

a estrutura metálica de passarela para profissionais executarem a manutenção nos balancins e mênsulas;

Todo pilar possui aterramento;

O pilar sustenta um cabo de aço e tem um cabo de comunicação ligando todas as estações e torres. Portanto, o sistema é todo interligado.

Estações

Todo o movimento do teleférico é feito por um sistema de motores situado na Estação Baiana;

Possui um sistema mecânico de emergência com a finalidade de – em caso de ausência de energia – permitir rápida e segura retirada dos usuários;

Cada estação tem sistema de geradores de emergência;

A Estação Baiana tem dupla alimentação de energia elétrica;

As seis estações são: Bonsucesso, Adeus, Baiana, Alemão, Itararé e Fazendinha.

Lançamento do cabo

O cabo de aço definitivo (52 mm de diâmetro) será puxado por um cabo de aço de ¾";

O cabo guia poderá ser lançado manualmente, utilizando-se a mesma técnica de lançamentos de cabos de linha em alta tensão ou por helicóptero;

Na Estação Baiana será usado um guindaste com capacidade nominal de 300 t para execução da montagem eletromecânica da estação;

Nas demais estações e nos pilares serão utilizados guindastes com a capacidade de 90 t;

As velocidades de deslocamento das gôndolas são de 5 m/seg e, na área de embarque e desembarque, essa velocidade é reduzida para 2 m/seg, possibilitando total conforto para os passageiros, inclusive portadores de necessidades especiais;

Cada gôndola transporta dez pessoas e o tempo total do percurso é de aproximadamente 20 minutos.

Pilares circulares exigiram emprego de fôrmas especiais

A execução dos pilares circulares que compõem a superestrutura do Teleférico do Complexo do Alemão exigiu a utilização de conjunto especial de fôrmas para concreto, desenvolvido pela Locguel, empresa do Grupo Orguel, e o emprego de escoramentos multidirecionais da Mecan (outra empresa do grupo), para facilitar a mobilização e as operações de fôrma e desfôrma dos equipamentos no entorno dos pilares.

As fôrmas foram confeccionadas integralmente com chapas metálicas, com espessura de 2 mm até 4,5 mm, para garantir a integridade da estrutura mesmo após sucessivas concretagens. Com revestimentointerno também metálico, esse tipo de fôrma proporciona o efeito de concreto aparente.

Os módulos foram divididos em1/4 da circunferência e alturas limitadas, proporcionando levezaàs peças componentes e foram montado manualmente, sem a ajuda de equipamentos mecânicos.

Os anéis metálicos, que fazem parte do conjunto de fôrmas, acoplam-se acada etapa de concretagem e apóiam-se umas nas outras, garantindo sustentação, prumo e alinhamento vertical.O escoramento é composto por sua própria estrutura metálica e barras de ancoragens, atravessando a circunferência em dois sentidos. Ele foi realizado de maneira inovadora, com o sistema Mecanflex, que tem andaimes multidirecionais, sistema de encaixe autobasculante para travamento imediato das suas peças (podendo ser montado por apenas uma pessoa).

Entre as principais características dessa solução, pode-se destacar: segurança, versatilidade, velocidade de montagem e desmontagem (que chega a ser três vezes mais rápida) e reduzido número de componentes, gerando economia na obra, ocupando menor área de armazenamento e reduzindo o número de fretes.

No sistema Mecanflex, as áreas de contato entre a pinça e o estribo (componentes de encaixe rápido do sistema) são maiores que as convencionais, possibilitando maior estabilidade no conjunto, que fica imune a oscilações e movimentação das torres. Essa solução usa do piso antiderrapante, com rodapés metálicos e acesso interno e mais seguro para os trabalhadores.

O aço utilizado, desenvolvido especialmente para o Mecanflex, confere maior resistência e leveza na composição. Por possuir peças integradas ao sistema, não há a necessidade de monitoramento de peças menores como braçadeiras ou luvas de encaixe. Galvanizado a fogo, o sistema permite utilização nas mais diversas circunstâncias, inclusive em regiões litorâneas, onde a maresia é um forte componente de desgaste.

Fonte: Estadão


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