A construção do Trem de Alta Velocidade (TAV), ligando SP, Campinas, RJ, nasceu de uma ideia socialmente boa, mas está ficando economicamente injusta. O pecado é que, o que era, não continua sendo. Como se, no início, o governo tivesse soltado ao vento um balão de ensaio, cujas cores apreenderam a atenção de todos. Depois, tratou de recolhê-lo para exibir outro, mas de cores diferentes, eventualmente contrastantes com aquelas do primeiro balão.
A primeira ideia conferia ao projeto a possibilidade de construir o trem-bala para a Olimpíada de 2016, a custos que chegariam a R$ 9 bilhões. A tarifa seria da ordem de R$ 103,00. E, a velocidade seria tal, que o paulistano mais ousado poderia, se o quisesse, tomar o trem às 8 da manhã em SP, banhar-se um pouco nas águas de Copacabana e, somente depois, enfrentar o batente de reuniões ou outros compromissos cariocas, para o retorno à tarde.
No fundo, o trem seria um sucedâneo vantajoso da ponte-aérea Congonhas-Santos Dumont, sem os inconvenientes das incertezas provocadas continuamente pelos congestionamentos em terra e no ar. Além do mais, ele venceria a distância dos 400 km entre as duas grandes metrópoles, sem estações intermediárias, o que justificaria o epíteto de trem de alta velocidade.
Mas as coisas mudaram. E, conforme salienta o colunista Elio Gaspari, surgiu um novo projeto apontando um custo de R$ 34,6 bilhões. Haverá estações intermediárias, que já se tornaram objeto de disputas acirradas no Vale do Paraíba. A essa altura, a possibilidade de financiamento privado tornou-se algo já um pouco distante. Tanto é, que o BNDES arcaria com 70% dos custos. E tem mais: somente a construção dos túneis custaria R$ 11 bilhões, um valor maior do que aquele previsto para toda a construção do projeto inicial.
Há outro pormenor. Aquela tarifa de R$ 103,00 já dobrou. Passou para R$ 206,00, antes mesmo da ideia adquirir as feições práticas de viabilidade. Questões de balão de ensaio. Enfim, o que era, já não é. Como é comum acontecer por aqui.
Fonte: Estadão