O valor da informação na engenharia e na sociedade

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Embora este seja um assunto que poderia estar há séculos superado, uma vez que se encontra na raiz do pensamento e das iniciativas que visam ao aperfeiçoamento do conceito e prática da cidadania, e da relação de empresas e governo com a sociedade, vez ou outra está voltando à tona, mesmo na era da internet. E temos de bater na tecla de que a informação é um bem de todos e de que o esforço para blindá-la ou escamoteá-la constitui um dos maiores retrocessos de nossos tempos. E de todos os tempos.

Pois ainda há quem pense que a informação é algo particular, privativo, que precisa ser colocada numa caixa-preta, se possível, acessível apenas a alguns privilegiados e jamais amplamente extensiva a quem efetivamente interessa: o público.

Grave, se analisado do ponto de vista geral, o tema relativo à restrição à informação continua grave, no que diz respeito a algumas áreas, dentre elas, à da engenharia. Ainda não foi possível, em especial no universo dos grandes conglomerados, tomando-se por exemplo algumas grandes empresas, consolidar a consciência de que as informações sobre o andamento de obras, considerando projetos, cronograma, valor de contrato, soluções técnicas inéditas, e outros itens, precisam e devem ser divulgados. Fazer parte, enfim, de uma rotina diária, de modo a não ser subtraída aos interessados como se fosse um segredo de Estado. E ser divulgada apenas quando é da conveniência das empresas que as detêm

A evolução se faz com informação, troca de experiências, debate de ideias, divulgação das inovações em todos os campos. E a engenharia não é exceção.

Várias dessas empresas, que consideram a informação um bem particular e exclusivo, recorrem à assessorias de imprensa para filtrar o questionamento dos veículos de imprensa interessados em divulgá-la e acabam invertendo os valores: interrogam os interessados, em vez de lhes fornecer a informação solicitada.

Ao mesmo tempo, dificultam o acesso aos engenheiros de suas equipes técnicas, exatamente aqueles que teriam condições de diálogo com veículos especializados, imaginando, talvez, que os seus melhores porta-vozes seriam aqueles mais afinados com as questões políticas internas ou externas.

Na montagem da série de matérias desta edição, sobre obras da Petrobras, houve dificuldades do gênero. E tivemos de recorrer às informações do mercado, porque a fonte natural negligenciou a importância dos dados que deveria colocar à disposição da revista O Empreiteiro. Chegou-se até a invocar a falta de tempo para prestar as informações solicitadas, como se a divulgação de obras que mexem com amplos segmentos da população e com toda a economia, não fosse merecedora de atenção prioritária.

Lamentamos que a essa altura da evolução do País e do mundo ainda haja empresas que não criem condições, as mais favoráveis, para a ampla divulgação das informações até de áreas específicas, como as de engenharia. A arrogância é um extremo desserviço à sociedade e leva à constatação de que a cada dia é necessário que se intensifique a luta – que já julgávamos vencida há muito tempo – contra a caixa-preta das informações.

Outro dado que gostaríamos de levantar se refere àqueles itens contratuais pelos quais a contratante coloca, de antemão, uma rolha na boca do contratado, a fim de que ele também não divulgue as suas experiências técnicas, muitas das quais inovadoras e que constituem o cerne de sua evolução no mercado da engenharia.

A caixa-preta não interessa a ninguém; apenas àqueles que se julgam mais reais do que o rei. E, apenas para corroborar editorial de um grande jornal brasileiro, queremos enfatizar que o status econômico seja da Petrobras ou de outra eventual grande empresa, não deve, jamais, lhe conferir o direito "de se considerar acima do bem e do mal, infensa a críticas e correções de rumo".

Fonte: Estadão


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