Obras de abastecimento não acompanham expansão demográfica da RMSP

Não houve investimentos em obras no tempo certo, acompanhando o crescimento populacional. Com a crise hídrica, somada ao maior consumo ao longo dos anos, que esgotou o sistema Cantareira, a empresa acabou surpreendida e pega no contrapé

Nildo Carlos Oliveira

 

A realidade repudia factoides. Costuma colocar à mostra as falhas de governos que alardeiam planos de obras e investimentos como soluções para problemas imediatos para, depois, protelá-los para anos vindouros ou por tempo indeterminado. O resultado é o que se está vendo hoje na Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
 

Técnicos têm sido unânimes na afirmação de que há muitos anos a companhia deveria ter colocado em prática programas de obras para aliviar ou complementar a capacidade de abastecimento do sistema Cantareira, cuja construção foi iniciada pela antiga Companhia Metropolitana de Águas e Esgotos (Comasp) em 1966. O sistema é composto de seis grandes represas que acumulavam 1,5 bilhão de m³ de água; 48 km de túneis e canais e uma estação elevatória de 80 mil HP, além da maior estação de tratamento de água da América Latina, a Guaraú, com capacidade instalada para 33 m³/s.

Mas, inaugurada a obra, o tempo foi passando e os diversos governos paulistas que se seguiram talvez imaginassem que ela fosse suficiente para garantir o suprimento de água para a região metropolitana para sempre. Não foi. E a seca, que extenuou mananciais na Região Sudeste, revelou-se a mais duradoura dos últimos decênios.

Por conta da crise hídrica, a companhia se mexeu em diversas áreas. Informou que iria reduzir os investimentos previstos para este ano para esgoto sanitário a fim de dar-lhes outra destinação. Por exemplo: redirecionar recursos da ordem de R$ 13,5 bilhões para obras de abastecimento de água.

A mudança de rumo, contudo, já começa a provocar manifestações de descontentamento. São várias as prefeituras do Litoral Norte que reclamam do corte de investimentos para obras de coleta e tratamento de esgoto. A imprensa dos municípios que se consideram afetados dá conta de que, se efetivado o corte de recursos, moradores e turistas perderão qualidade de vida. Anteriormente, a companhia havia difundido que sua intenção era ampliar de 35% para 85% a coleta de esgoto no Litoral Norte, num período de oito anos: entre 2008 e 2016. Com a mudança de plano, essa perspectiva ficará para depois. Mas não se sabe até quando.

Na tentativa de proteger os moradores, a Câmara Municipal de Ubatuba aprovou lei a fim de obrigar a Sabesp a tratar 95% do esgoto local.

Obras atrasadas

Mas mesmo as obras de abastecimento, que são prioritárias, registram atraso. É o caso da adutora de 9 km e de uma estação de bombeamento para levar 1.000 l/s do rio Guaió para a represa Taiaçupeba, em Suzano. Orçada em R$ 28,9 milhões, foi iniciada em fevereiro deste ano, com mão de obra da própria companhia. Deveria estar operando em maio último, mas até fins de junho ainda não estava pronta. O rio Guaió nasce em Mauá, imediações do rio Tamanduateí, na região do Parque Ecológico Santa Luzia, e se prolonga por 20 km. É tributário do rio Tietê, na divisa de Poá com Suzano.

Outra obra, com finalidade semelhante à da transposição das águas do rio Guaió, está em curso no sistema Rio Grande, braço limpo da represa Billings, cuja água será transposta para Taiaçupeba. Mas também estava atrasada. As duas obras deverão aumentar em 5 mil l/s a chegada de água ao sistema Alto Tietê. Hoje, este sistema atende a cerca de 4,5 milhões de pessoas na Zona Leste de São Paulo e nas cidades de Suzano, Mogi das Cruzes, Ferraz de Vasconcelos, Poá, Itaquaquecetuba, Arujá e parte de Guarulhos.

A Sabesp tenta apressar a transposição das águas do rio Paraíba do Sul, que permitirá a captação das águas na represa Jaguari e a transferência delas para a represa Atibainha. Com vazão média de 5.130 l/s e máxima de 8.500 l/s, o sistema permitirá a transposição também no sentido inverso. Contudo, essas obras só deverão ficar prontas no segundo semestre de 2016.

A obra principal, no contexto da normalização do abastecimento de água, é aquela do sistema produtor São Lourenço (SPSL – ver edição OE 541), viabilizada via Parceria Público-Privada (PPP). Ela está avançando em diversas frentes, conforme o contrato de concessão de R$ 6,46 bilhões. Com cronograma de conclusão previsto para 2018, ela poderá ser antecipada para 2017.

No conjunto, o que se demonstra é que planos, quando cuidadosamente elaborados, não podem ficar no papel como factoides; têm de se transformar em projetos executivos e colocados em prática no tempo certo. Senão, os atrasos reverterão em prejuízo para a sociedade.

Fonte: Redação OE

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