Apontado como um dos maiores do mundo, o complexo do Parque Eólico de Osório, o primeiro em fase final de comissionamento no Rio Grande do Sul, está se tornando um marco na geração de energia eólica no Brasil, além de servir de modelo para futuras implantações de parques similares no País. Instalado em Osório, a 100 km de Porto Alegre, litoral norte do Estado, o parque (que entrou em operação recentemente), já é considerado um dos projetos mais ambiciosos e importantes na América Latina do gênero. A energia produzida será adquirida por um período de 20 anos pelas Centrais Elétricas Brasileiras (Eletrobrás), que firmou um contrato de compra do tipo Power Purchase Agreement (PPA). Para se ter uma idéia, a potência instalada do parque de Osório é de 150 MW, cinco vezes a potência instalada atual do Brasil em energia eólica – que é 28,5 MW. O complexo é composto por três parques: Parque Eólico dos Índios, de Osório e do Sangradouro. Cada um com capacidade de 50 MW, possuem 25 aerogeradores de 2 MW, equipados com três pás de 37 m de comprimento, instaladas em torres de 98 m de altura. Interligado ao Sistema Interligado Nacional (SIN) em 230 kV, o parque eólico foi um importante formador de mão-de-obra de construção, operação e manutenção de parques eólicos. A implantação e administração do complexo é da empresa Ventos do Sul, resultado de uma sociedade entre a CIP Brasil, Enerfin Enervento – do Grupo Elecnor – e a alemã Wobben – Enercon. De acordo com João Junqueira, gerente de Projeto da Elecnor do Brasil S.A., empresa responsável pela construção do parque eólico, os proprietários de terras serão igualmente beneficiados pela energia produzida pelos aerogeradores. Eles receberão por contrato, em média, 1% de energia limpa, renovável e variável, em função do consumo em kWh/ano. Os reflexos positivos alcançam a comunidade local, com o incremento ao turismo regional, e com a geração de empregos decorrente da operação e manutenção do parque eólico. A perspectiva de novos empreendimentos similares é promissora, e escolas formadoras de mão-de-obra especializada estão sendo implantadas na região. Quinze meses foram necessários para a execução da obra, desde a primeira estaca de fundação até a montagem da última torre, considerando inclusive o comissionamento dos aerogeradores. “Foram investidos R$ 650 milhões na construção do parque, incluindo o custo da infra-estrutura de vias de acesso, fundações, torres, equipamentos dos aerogeradores e linha de transmissão, além da subestação, redes enterradas, aterramento e obras civis complementares”, revela Junqueira. 69% dos investimentos foram financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Desses R$ 465 milhões, R$ 105 milhões foram aportados pelo BNDES e R$ 360 milhões por um consórcio formado pelo Banco do Brasil, Santander, ABN Amro Real, BRDE, Caixa RS e Banrisul. O conjunto de pás dos aerogeradores, impulsionado pela força dos ventos, aciona um gerador que gera 400 V de energia em corrente contínua, convertida em energia alternada trifásica e elevada à tensão de 34,5 kV. A energia gerada é transmitida por cabos subterrâneos a uma subestação elevadora de 34,5 kV para 230 kV. A subestação possui quatro transformadores de 50 MVA, com sistema completo de medição, proteção e controle da energia gerada, que é transmitida ao sistema elétrico através de linha de transmissão de 8 km em 230 kV, interligado ao SIN.
Faltaram máquinas de hélice contínua
A execução do Parque Eólico de Osório enfrentou certa dificuldade no início, que foi o reduzido número de máquinas de hélice contínua, com capacidade para executar furos a profundidade superior a 25 m. Em virtude das fundações terem 35 m de profundidade, foram utilizadas estacas metálicas para a execução de sete bases dos aerogeradores. A relativa escassez de máquinas de hélice contínua disponíveis no mercado na ocasião foi provocada por obras simultâneas no País, principalmente no metrô de São Paulo e na rodovia BR-101, no trecho localizado no Rio Grande do Sul. Segundo Junqueira, os trabalhos de engenharia de detalhamento para a construção do parque eólico foram iniciados através de um projeto básico elaborado por uma equipe da Elecnor. Os trabalhos tiveram seqüência a partir de levantamentos executivos, envolvendo topografia, sondagens, drenagens, interface com a equipe de estudos ambientais para locação dos aerogeradores, e interface com a prefeitura, órgãos regionais e estaduais. O passo seguinte foi a realização dos projetos civis e elétricos compreendendo a subestação e a linha de transmissão, passando pela identificação, qualificação e aprovação dos fornecedores regionais; elaboração de cartas convites; análise das propostas; contratação e gerenciamento das obras; controle de qualidade; orçamento, custos e cronograma do empreendimento. Quatro guindastes de grande porte, sendo três com capacidade de 750 t e um para 500 t, modelos LR1750 sobre rodas e LG 1750 sobre esteiras, da marca Liebheer, foram mobilizados no içamento das peças para a montagem das torres. Um outro guindaste de 300 t também foi utilizado para montagem das torres e no apoio aos outros guindastes. Com lança de 120 m, eles foram locados pela Zandoná Guindastes de Transportes.
Infra-estrutura do parque
O complexo do Parque Eólico de Osório foi implantado numa área de 13 mil ha, considerando um alinhamento de 12 km entre o primeiro aerogerador e o último, sendo que os parques de Osório e Índios apresentam dois alinhamentos de aerogeradores. A terraplanagem foi executada com aterro de areia, saibro e base de brita graduada devido às características do terreno plano, úmido e alagado em áreas de várzea, com lençol freático elevado. Foi necessária a execução de uma macrodrenagem dos canais existentes, a limpeza e rebaixamento das valas e de canais secundários. Além de ter contribuído para o rebaixamento do lençol freático, isso permitiu o acesso das máquinas para a execução das estacas, bases, vias de serviço e plataformas de apoio dos guindastes. Nas fundações, após rebaixamento do lençol freático foram colocadas as formas internas e realizada a montagem da armadura, com 57 t de peso. As fundações são constituídas por 32 estacas de 50 cm de diâmetro e profundidade média de 22 m, em virtude do solo arenoso. As estacas são ensaiadas para verificação de sua integridade e capacidade de carga. Após os ensaios, as estacas foram arrasadas e montou-se a armação da laje de subpressão, que recebeu 403 m3 de concreto magro
. Os 24 segmentos de cada torre, em concreto pré-moldado, foram fornecidos pela Wobben Windpower Indústria e Comércio, complementados por um segmento metálico no topo. Para o parque eólico a companhia forneceu 75 aerogeradores modelo E-70/2000 kW, totalizando 150 MW de capacidade instalada. A empresa é certificada pelo ISO 9001 versão 2000 e ISO 14001, pelo instituto alemão Germanischer Lloyd, para a fabricação de aerogeradores, bem como para projeto, instalação, operação e manutenção de parques eólicos. A Enercon, no Brasil, Wobben Windpower é líder no mercado alemão (maior mercado mundial dessa fonte energética), com 33% de participação e 14% de participação no mercado mundial. Com sede e fábrica em Sorocaba (SP) e um complexo industrial e portuário em Pecém (CE), é a única fabricante de aerogeradores – turbinas eólicas – de grande porte da América do Sul. A fábrica paulista tem cerca de 450 funcionários e a cearense 300 empregados. Além das duas fábricas no Brasil, o grupo possui plantas industriais na Alemanha, Índia, Suécia e Turquia.
Fonte: Estadão