Finalmente alguém, com a projeção midiática do escritor Paulo Coelho, que tem mais de 20 milhões de seguidores nas redes sociais, disse com todas as letras: “O governo fez grandes promessas e não as cumpriu”. Disse mais: “Diante do caráter massivo e nacional dos protestos de rua, ele, ao invés de reconhecer aquilo que está errado e propor as medidas corretivas, continuou fazendo promessas que não serão cumpridas”.
O autor de O Alquimista, Brida e outras obras fez esse desabafo por considerar de pouca representatividade o grupo de escritores que o governo brasileiro levou à feira do livro de Frankfurt, na Alemanha, o maior evento do gênero no mundo. Ele afirmou que, além dos poucos autores de reconhecido valor literário, o restante era amigo do amigo do amigo. Resumindo: mais uma vez os “companheiros” é que foram os privilegiados. Em sinal de protesto, o escritor decidiu não comparecer àquela feira literária.
O testemunho de Paulo Coelho reforça o que O Empreiteiro tem alertado com insistência nos anos recentes: o governo federal está loteado entre os partidos da sua base de apoio. Virou, na prática, uma colcha de retalhos em que cada pedaço pensa e age apenas segundo os seus interesses. Interfere na gestão de projetos e programas, até naqueles corretamente estruturados, e que, por causa disso, não conseguem avançar. É que as decisões executivas esbarram na vontade político-partidária dos companheiros alocados em posições que deveriam ser ocupadas por técnicos concursados. A capacidade de gestão dos órgãos federais ficou, assim, inteiramente travada.
Essa paralisia gerencial ocorre inclusive em setores estratégicos, como os da infraestrutura, comércio exterior, política industrial, saúde, educação etc. Nesses 11 anos de governo petista, a única conquista a comemorar é a distribuição de renda entre as famílias mais pobres da população. Mesmo assim, a expansão da doação de renda tem ocorrido através de “bolsas” dos mais variados tipos, sem que isso implique orientação para que o beneficiário possa gerar a sua própria renda.
Para sustentar a escala dessa transferência de renda, a economia brasileira precisaria manter uma taxa de crescimento acima de 4% anual. Com a taxa de crescimeneto inferior a 1% registrada em 2012, e com a projeção para 2,5% este ano, fica mais uma vez evidente que estamos longe de poder contar com um Projeto de Nação.
Vejamos o exemplo da Índia, que escolheu se transformar numa plataforma global de serviços de TI décadas atrás, e vê agora esse modelo exaurir-se sem que tenha conseguido fazer as reformas estruturais necessárias. A infraestrutura continua precária, o sistema bancário estagnado e a justiça lenta.
O Brasil se encontra num impasse parecido, com a vantagem demográfica de ter menos de um sexto da população indiana. Mas o País carece de um projeto para o século 21, se quiser evoluir do superado modelo de produtor de commodities agrícolas e minerais, para o da era do conhecimento, que será a tônica do novo século.
A Índia lança mão de tecnologia para enfrentar os seus problemas. Um projeto nacional de identificação da população rural pela leitura do íris do olho vai finalmente possibilitar individualizar quem deve receber a “bolsa” destinada aos mais pobres. Por aqui, o INSS tem aplicado um software que permite reduzir o tempo de espera nas suas agencias, quantificando a demora das filas dos beneficiários em tempo real. São tecnologias de prateleira, facilmente disponíveis.
A Petrobras é a maior contratante de serviços de engenharia do País e utiliza as tecnologias mais avançadas na gestão dos seus empreendimentos. Essa expertise está à disposição dos demais órgãos contratantes do governo, que podem também utilizá-la, caso queiram deixar de lado a política de “criar dificuldades para oferecer facilidades”. Mas qual é o governante que se atreve a praticar essa transparência gerencial?
Fonte: Revista O Empreiteiro