O Governo Federal anunciou no mês passado, o Programa de Aceleração do Crescimento – PAC. Com a finalidade de garantir as bases para propiciar o crescimento da economia aos níveis propostos pelo Governo Federal, o PAC destaca uma série de ações em várias áreas. Entre os investimentos previstos estão os destinados à infra-estrutura energética são R$ 274,8 bilhões para o quadriênio 2007-2010. Um dos destaques é a distribuição na área Geração de Energia Elétrica, R$ 65,9 bilhões, que tem como uma de suas prioridades colocar em operação os projetos do Programa Alternativo de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), como forma de diversificar a matriz energética brasileira. Desde os apagões, os players do setor elétrico e o próprio governo federal passaram a incentivar a construção de usinas de menor porte. Por isso, há destaque para as Pequenas Centrais Hidrelétricas, ou PCHs, nos investimentos previstos. Esses investimentos são necessários já que segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), se o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) se configurar numa taxa média de 5% ao ano nos próximos quatro anos, o resultado seria uma falta de 600 MW médios, ou 1% da demanda de energia em 2010. Essa projeção está no Plano Decenal de Energia Elétrica (PDEE) 2007-2016, em elaboração pela autarquia do Ministério de Minas e Energia (MME). Atualmente, há, segundo dados do Centro Nacional de Desenvolvimento de PCH, 253 pequenas centrais em operação, 39 em construção e 206 no que são chamados de outorga, com autorização para operar e obras a começar. O coordenador geral de Fontes Alternativas do Ministério das Minas e Energias, Augusto Machado, explica que o Proinfa significou uma maior dinamização no mercado de PCHs. Até a criação do Programa, em 2002, o mercado de PCHs no país tinha uma potência de 1.200 MW. Com os contratos celebrados pelo Proinfa com empresas entre 2004 e início de 2005, que irão gerar mais 1.200 MW, o objetivo é dobrar essa potência até o final de 2008. Segundo o coordenador, hoje no Proinfa há 8 empreendimentos de PCHs que estão operando comercialmente, uma já está concluída esperando licenciamento e 31 em construção. “A aposta nessas fontes alternativas de energia está aumentando porque é estratégico diversificar a matriz energética brasileira, com investimentos em empreendimentos de menor porte. As PCHs vão continuar tendo uma participação pequena, mas necessária no setor de energia”, afirma. Machado afirma que o anúncio do PAC, vai significar uma cobrança maior e uma aceleração dos projetos que estão em andamento. No caso das PCHs, o PAC significa um monitoramento mais próximo do Proinfa. Na prática, o governo estará mais próximo do empreendedor, buscando agilizar os processos ao máximo”, destaca o coordenador geral de Fontes Alternativas. As PCHs estão se transformando, segundo especialistas, em uma das melhores alternativas para complementar a oferta do sistema energético. Por suas características, com potência instalada entre 1.000 kW e 30.000 Kw, com reservatórios de área não superior a 3 km², elas podem atender necessidades de cargas de pequenos centros urbanos e regiões rurais, complementando o fornecimento realizado pelo sistema interligado. Empresas que têm apostado nas PCHs não têm se arrependido das possibilidades que o setor pode trazer ao país. 400 MW em quatro anos Esse é o caso da Engevix, empresa de engenharia, com mais de 40 anos de atuação, que está expandindo sua atuação setorial. A empresa atua em áreas como construção de rodovias, hospitais, sistema de saneamento, de gás e petróleo, além da área de energia. Agora, acaba de anunciar que pretende separar a área de energia das demais atividades. O vice-presidente da companhia, José Antunes Sobrinho, afirma que a constituição de uma empresa só para energia permitirá formas de financiamento diferentes e abrirá espaço para uma alavancagem maior. Nos últimos dois anos, a divisão de energia começou a ganhar maior importância dentro do grupo. Em 2006, a Engevix iniciou os primeiros projetos próprios de geração de energia elétrica. Dezembro passado foi o período em que colocou em funcionamento a PCH Esmeralda, construída no rio Bernardo José, entre Pinhal da Serra e Barracão (RS). Para os próximos quatro anos, o grupo da Engevix, que faturou em 2006 R$ 556 milhões, planeja contar com um parque gerador de 400 MW. A primeira PCH da Engevix , a Esmeralda, consumiu investimentos da ordem de R$ 71 milhões e integra a primeira parte do Proinfa. A PCH recebeu financiamento de R$ 55 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES). As obras, que duraram 18 meses, geraram na fase de construção 450 empregos diretos e 600 indiretos. A Empresa, em regime de contrato EPC, turn-key, se responsabilizou pela engenharia, fornecimento de equipamentos e construção. Dentre as estruturas principais, a Esmeralda conta com uma barragem do tipo CCR (concreto compactado a rolo), com altura máxima de 12 m, um vertedouro incorporado de lâmina livre, um túnel de adução com 1,1 mil metros de comprimento e uma casa de força para abrigar as duas unidades geradoras com 11,1 mW cada. “Nossa história de 42 anos é calcada na hidroeletricidade. As usinas hidrelétricas representam nosso principal atividade e pretendemos continuar investindo no setor, especialmente por se tratar de uma energia renovável e fundamental para o Brasil”, afirma Antunes. Atualmente, duas PCHs estão em construção. A Santa Laura, em Santa Catarina, começou a ser construída em 2006 e deve ficar pronta no segundo semestre deste ano. Orçado em R$ 60 milhões e com capacidade de 15MW, o projeto tem, também, investimento de R$ 40,8 milhões do BNDES e integra o Proinfa. Localizada no rio Chapecozinho, entre Ouro Verde e Faxinal dos Guedes, as obras devem gerar 350 empregos diretos e 600 indiretos durante a construção da barragem. As obras de implantação da PCH Santa Laura seguem a programação para geração comercial em 30 de setembro próximo. Os trabalhos se concentram nas escavações em solo e rocha para implantação da tomada de água e para a implantação da barragem em solo na margem esquerda. No local de implantação da casa de força, os trabalhos de escavação comum e em rocha na região do canal de fuga estão praticamente concluídos. Foram concluídos os serviços de concretagem do poço de drenagem da casa de força com a colocação das tubulações embutidas, sendo iniciadas as concretagens nas Unidades de Geração. Os trabalhos de escavação subterrânea do túnel de adução apontam um avanço de cerca de 335 metros estando concluído, portanto, mais de 30% dos trabalhos. Na barragem na margem dir
eita e no canal de desvio, os trabalhos de escavação e limpeza da fundação estão concluídos. Em meados de janeiro foram iniciados os trabalhos de concretagem das adufas, da fundação e da parede hidráulica. No caso da PCH Santa Laura, a Engevix Engenharia é a empresa responsável por todo o fornecimento de projetos, obras e montagens, bem como o fornecimento de todos os equipamentos eletromecânicos. A contratação é em regime de EPC a preço global. As turbinas, geradores e seus equipamentos periféricos serão fornecidos pela HISA e WEG, respectivamente, ambas estabelecidas em Santa Catarina A outra PCH em construção pela Engevix é a Santa Rosa, entre Bom Jardim e Cordeiro (RJ), com potência de 30 MW, R$ 105 milhões de investimentos e financiamento de R$ 80 milhões do BNDES. Baixo impacto ambiental A holding Energias do Brasil está finalizando, no primeiro semestre deste ano, a PCH São João, com capacidade instalada de 25MW e investimento de R$ 88,4 milhões. Localizada no rio Castelo, entre os municípios de Castelo e Conceição do Castelo, o empreendimento terá duas turbinas/geradores, volume de reservatório de 1.950.000 m³ e queda líquida de 259,4m. A usina contará com casa de força subterrânea, sendo a única no Estado com essa característica. Para este ano, a Energias do Brasil vai investir R$ 105 milhões na construção da PCH Santa Fé, que reúne ativos nas áreas de geração, comercialização e distribuição de energia elétrica e será erguida em Alegre, no Espírito Santo. As obras devem ficar prontas em 2008 e a potência da PCH será de 29 MW. O diretor vice-presidente de geração da Energias do Brasil, Custódio MIguens, explica que a Santa Fé reflete a estratégia da holding de expandir suas atividades na área de geração de forma consistente, a fim de minimizar riscos para os acionistas. “O baixo impacto ambiental e o prazo curto de construção de uma PCH são alguns dos fatores que motivaram o investimento da empresa na construção da nova central hidrelétrica”, afirma. Novos 14 contratos Outra empresa que está apostando nessa fonte de energia renovável é a Koblitz. Especializada em geração de energia, a empresa fechou 14 contratos para a implantação de novas PCHs no Sul e Sudeste do País. Somadas, as instalações terão uma potência total de 305 MW e devem começar a funcionar em 2008. No ano passado, entraram em operação três PCHs, construídas pela Atiaia Energia S/A – holding entre Grupo Cornélio Brennand (90%) e a Koblitz (10%) – nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Uma quarta unidade, também no Mato Grosso, está prevista para funcionar em meados de 2007. Somados, os quatro projetos têm potência instalada de aproximadamente 120 MW. A PCH Garganta da Jararaca, localizada em Nova Maringá (MT), está operando desde novembro com potência instalada de 29,3 MW e uma subestação de 40 MVA, 13,8/138 kv. Em dezembro começou a operar a PCH Canoa Quebrada, localizada em Lucas do Rio Verde (MT), com 28 MW e subestação de 45 MVA, 13,8/69 kV. Em janeiro foi a vez de Buriti, situada em Água Clara (MS), com 30 MW e subestação de 40 MVA, 13,8/138 kV. A usina de Paranatinga II, em Campinápolis (MT), funcionará também a partir deste ano, com potência de 29 MW e subestação de 45MVA, 13,8/138kV. As PCHs de Canoa Quebrada e Buriti fornecerão energia à Eletrobrás através do PROINFA, enquanto que as PCHs de Garganta da Jararaca e Paranatinga II abastecerão localidades pelo sistema elétrico isolado da CEMAT (Centrais Elétricas Mato-Grossenses S.A.). “A energia gerada por essas duas PCHs irá abastecer cinco cidades do Mato Grosso que hoje são atendidas, de forma parcial, por usinas térmicas que queimam óleo diesel”, explica o presidente da Koblitz, Luiz Otávio Koblitz. As quatro usinas consumiram investimentos de R$ 520 milhões, sendo 75% provenientes de financiamento com o BNDES e 25% de recursos dos acionistas. Outras unidades em projeto Há cerca de três anos, a Construtora Triunfo construiu a PCH Salto de Natal, na cidade de Mourão (PR). Com uma potência instalada de 15 MW e queda líquida de 89 m, a PCH está localizada no rio Mourão. Segundo a empresa, este ano está em andamento o planejamento de duas UHE no Estado de Goiás, próximo à divisa de Minas Gerais. Cada UHE terá uma PCH na barragem para gerar energia a partir da água destinada a vazão mínima do curso original do Rio. Outra empresa que está no ramo das PCHs é a Cat-Leo Cise, do Sistema Cataguazes-Leopoldina, de Minas Gerais, que concluiu em 2006 a construção de duas PCHs no Mato Grosso e, no momento, não está construindo nenhuma central hidrelétrica. A Cat-Leo anunciou no final do ano passado que tem 15 projetos em carteira, que estão em desenvolvimento, mas que ainda não tiveram a construção iniciada. Somados, eles terão capacidade instalada de aproximadamente 200 MW. A empresa já executou sete PCHs de sua propriedade e duas para terceiros. Em 2007, há planos de construir centrais hidrelétricas no rio Pomba, na Zona da Mata (MG) e na região próxima à Nova Friburgo, no Rio de Janeiro. Entre esses projetos, alguns já estão em andamento. Em maio do ano passado, a Cat-Leo Cise obteve licença prévia da Fundação estadual do Meio Ambiente (Feema) para quatro PCHs: a de Caju, nos municípios de Santa Madalena e São Sebastião do Alto, de 12,3 MW e capacidade de geração anula de 59.261 MWh; a de São Sebastião do Alto, nos municípios de Santa Madalena e São Sebastião do Alto, de 11 MW e capacidade de 53.480 MWh; a de Santo Antônio, no município de Bom Jardim, de 8 MW e capacidade de geração anual de 33.726 MWh e a de Capim, nos municípios de Teresópolis e São José do Vale do Rio Preto, de 1,6 MW e capacidade de geração anual de 7.709 MWh. Também em novembro, a Cat-Leo solicitou licença prévia ao Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM) para a construção da PCH Conceição do Formoso, localizada no rio Formoso, entre os municípios de Santos Dumont e Aracitaba, com capacidade de geração de 8 MW. Esta PCH fica próxima às usinas Guary e Anna Maria, pertencentes à Brascan Energética e operadas pela Cat-Leo Cise.
Fonte: Estadão