O número pode ser considerado surpreendente. E, surpreendente, pela ênfase que se dava à capacidade dos estaleiros nacionais, depois que foram revitalizados pelo governo Lula da Silva. Dizia-se que eles voltaram a funcionar. Que estavam construindo plataformas e navios. Que vinham mobilizando mão de obra especializada aqui e nos demais quatro cantos do mundo. Que, enfim, estavam reestruturando a construção naval brasileira como "nunca acontecera, antes, na história deste País".
Pois bem. É em meio a esse cenário que vem a notícia: 90% das plataformas de petróleo ainda são compradas no exterior. E, na linha introdutória da matéria, a informação acachapante: nos últimos quatro anos foram encomendadas 22 plataformas; dessas, apenas três serão totalmente construídas no Brasil. Atenção para o tempo verbal: serão.
Pelo que se deduz, a indústria naval brasileira, apesar do esforço para se revitalizar, continua acanhada, sem fôlego para uma produção ampla de plataformas. Eis algumas das explicações para isso: enquanto os estaleiros nacionais afundavam no sucateamento, na paralisação, na falta de recursos mínimos para aquisição de equipamentos, contratação de mão de obra especializada e, sobretudo, sem encomendas, a Coreia do Sul, Cingapura e China tratavam de ampliar a infraestrutura nessa área e se tornavam aptas a produzir plataformas para quem as contratasse. Além do que, por mais revitalizados que estivessem, os estaleiros nacionais tinham de enfrentar uma burocracia extrema para o repasse dos financiamentos acaso obtidos junto ao BNDES, CEF e Banco do Brasil, para o Fundo da Marinha Mercante.
Há outro dado para o qual é preciso chamar atenção. Em uma entrevista concedida à revista O Empreiteiro, edição de maio último, o professor José Roberto Cardoso, diretor da Escola Politécnica da USP, afirma que o Brasil, caso pretenda adquirir autonomia no emprego de tecnologia na produção de plataformas e navios, terá, primeiro, que se capacitar para elaborar projetos nessa área. Por ora, ele até constrói alguns navios e plataformas, mas não tem domínio sobre a elaboração de projetos, que são feitos no exterior.
Pelos informação que nos chega, portanto, o Brasil está andando devagar, mais devagar do que pensávamos, nessa área sensível de tecnologia de ponta.
Fonte: Estadão