Poder

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A gente tenta, mas dificilmente consegue esquecer o Lord Acton, naquela carta que ele encaminhou ao bispo M. Creighton, lá naquele longínquo final de 1880: "Todo o poder corrompe; o poder absoluto corrompe absolutamente." É uma frase feita, banalizada pelo tempo e pelo uso, encontrada em pronunciamentos de maior ou menor importância.

Qualquer um (eu inclusive) se julga no direito de empregá-la, tal a coerência que ela resume quando referida nas questões da moral e dos bons costumes. Da mesma forma, dificilmente a gente esquece aquela frase retórica, gorda, pesadona, de Rui Barbosa, comumente ouvida em discursos escolares: "De tanto ver triunfar as nulidades…"

Poder é poder. E outra frase que o coloca em evidência é aquela, célebre: "Manda quem pode; obedece quem tem juízo." Ela me faz lembrar o personagem de O coronel e o lobisomem, do José Cândido de Carvalho, e o Paulo Honório, do São Bernardo, do mestre Graça, que entra em uma redação de jornal de rebenque em punho para fazer o autor de uma alegada aleivosia engoli-la com página e tudo.

O poder encanta e induz, quem dele se investe, a imaginar que dura para sempre, quando sua eternidade é efêmera: é eterno apenas enquanto dure, como no verso de Vinicius.

Diria que ele cega. Somente assim explicaria alguns escândalos, dia sim, dia não, identificados junto aos que dele podem ou puderam privar. É o caso do ex-governador do Distrito Federal e dos mais recentes, descobertos e em processo de apuração no Amapá, como o que envolve o ex-governador Waldez Góes, acusado de receber propina de R$ 500 mil para manter um contrato de fornecimento de alimentos aos presos daquele Estado (FSP/17/09/10).

Agora, surge esse problema (mais um), na Casa Civil da Presidência da República, de onde a ministra Erenice Guerra acaba de ser defenestrada.

Não tenham dúvidas. Todos aqueles que estão tentando reduzir esse problema a uma questão de somenos, vão acabar culpando a imprensa como a mãe de todos os males.

Fonte: Estadão


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