A arena cearense foi a primeira, dentre as demais previstas para o Mundial de 2014, entregue pronta para a Copa das Confederações, em junho próximo
Nildo Carlos Oliveira
Oengenheiro Cid Gomes e o secretário especial da Copa do governo do Ceará, Ferrucio Feitosa, prometeram: “Entregaremos o estádio Castelão completamente pronto e preparado não só para os jogos da Copa de 2014, mas para os jogos da Copa das Confederações, em junho de 2013.”
Promessa feita, promessa cumprida. O estádio, com capacidade para 64 mil espectadores, foi inaugurado no dia 16 de dezembro de 2012. Embora as obras de mobilidade urbana ainda não estejam prontas, existe o compromisso de que, com o envolvimento das secretarias de estado, da prefeitura de Fortaleza e de órgãos públicos mobilizados para aquele fim, elas também deverão ser entregues no prazo.
Para que o cronograma de reforma, ampliação e modernização do Estádio Plácido Castelo, o Castelão, ficasse concluído segundo o cronograma, foi preciso muita articulação das equipes envolvidas. Sobretudo, a elaboração de um bom projeto de arquitetura, o emprego de técnicas avançadas de engenharia e a montagem de um planejamento financeiro baseado na modalidade de contratação PPP (parceria público-privada). A engenharia financeira ali aplicada eliminou barreiras burocráticas e contribuiu para que o consórcio, formado pelas empresas Galvão Engenharia e Construtora Andrade Mendonça, pudesse cumprir o cronograma.
O engenheiro Waldemar Biselli Jr., gerente de contratos, lista algumas das iniciativas adotadas pelo consórcio que levaram a obra a ser concluída segundo as previsões: “Tivemos cuidado e critério na escolha de uma equipe multidisciplinar, que centrou o foco no perfil de cada profissional. Fazíamos reuniões semanais, quando eram analisados os estágios de cada frente de serviço”.
Ele enfatiza que o consórcio adotou o programa ERP (Enterprise Resource Planning) de gestão, pelo qual todos os dados e processos são unificados e utilizados como apoio às decisões que deveriam ser tomadas. E todas as gerências das frentes de serviços recebiam comunicado alinhando os resultados dessas reuniões.
Mas há um aspecto que ele considera fundamental: a modalidade da contratação das obras. “Posso afirmar que essa modalidade contratual nos permitiu uma maior desenvoltura na estratégia da engenharia do projeto. Pudemos fazer a melhor opção quanto às medidas para a melhoria da qualidade do solo e nos permitiu escolher a técnica dos pré-moldados e o uso da laje tipo steel deck, dentre outras”.
Teve peso considerável no andamento das obras uma decisão adotada antes que elas fossem iniciadas. Desde os seus primórdios, a Copa de 2014 começou as ser chamada de Copa Verde. É que se tinha em vista as exigências para que fosse buscada, com a empresa Otimização Energética para a Construção (OTEC), a certificação Leed em construção verde.
Ficou previsto, com aquele fim, que todo o material da demolição da parte da estrutura deveria ser reciclado para reaproveitamento e que a terraplenagem seria mínima. E que o material excedente com a movimentação de terra teria também uma finalidade ajustada ao propósito da sustentabilidade: seria usado no aterro para a construção da arquibancada inferior.
Houve a opção por fundações diretas, favorecidas pelas condições geológicas locais. Mas, até nessa fase, o consórcio encontrou uma solução criativa que ajudou a apressar os trabalhos: em vez de utilizar bate-estacas convencionais, que têm capacidade para a cravação de dez ou 12 estacas/dia, cada um, empregou uma máquina finlandesa que, acoplada a uma escavadeira, cravou até 100 estacas/dia. Ao todo, ali foram cravadas 4 mil estacas.
Embora as obras tenham sido iniciadas em dezembro de 2010, o consórcio só pôde efetivamente entrar no estádio no dia 31 de março do ano seguinte. É que o governador Cid Gomes fizera um acordo com as empresas construtoras para que o estádio continuasse a ser usado para os jogos do campeonato cearense, até aquela data. Nesse período, as equipes trabalharam no entorno, construindo obras do conjunto, dentre elas, a Secretaria dos Esportes, edificação de 6 mil m² iniciada em dezembro de 2010 e entregue, concluída, em agosto de 2011.
Além dos serviços de reciclagem, do uso de material da terraplenagem para construir a arquibancada inferior e o processo para acelerar o estaqueamento, o consórcio apressou os trabalhos da estrutura da cobertura, que se apoia em 60 pilares.
Para construir o estacionamento com capacidade para cerca de 2 mil vagas, o consórcio utilizou pilares pré-moldados produzidos no canteiro e vigas metálicas. O sistema steel deck foi empregado na execução das lajes da cobertura do estacionamento, sobre a qual se construiu uma praça de 70 mil m² destinada a múltiplos usos. Foram produzidos, no canteiro, 2.133 pilares pré-moldados e 4.551 vigas metálicas.
Do projeto à obra pronta
Há algum tempo, o arquiteto Héctor Vigliecca (Vigliecca & Associados Arquitetura e Urbanismo), em entrevista à revista O Empreiteiro (OE 506), disse que um dado muito positivo favoreceu o empreendimento: a obra seria construída na intersecção das avenidas Deputado Paulino Rocha e Alberto Craveiro, a 15 minutos do centro de Fortaleza e a dez minutos do Aeroporto Internacional Pinto Martins. Beneficiavam-na a proximidade com o Parque Ecológico do Cocó, que é uma reserva natural dentro de Fortaleza cortada pelo rio Cocó; o funcionamento do zoológico e de outros equipamentos de infraestrutura de serviços, tudo numa região privilegiada pela presença de áreas verdes, que se revela um novo vetor de crescimento da capital cearense.
Além do reconhecimento dessas variáveis, havia outro ponto que diferenciaria o Castelão de outros estádios: a demolição não deveria ser colocada como a solução mais fácil. O estádio existente, que compõe o imaginário do cidadão de Fortaleza, poderia ser preservado. E a vida útil da obra poderia ser estendida por mais 80 anos.
Por conta daquelas possibilidades, o projeto de arquitetura previu que o estádio deveria receber cobertura para proteger simultaneamente o público e a própria estrutura. Seria dotado de uma infraestrutura de serviços, incluindo restaurantes, para a manutenção de atividades pe
rmanentes. E estas não deveriam se esgotar com o final dos jogos da Copa, mas até deveriam se prolongar, como uma consequência da animação urbana local.
Os problemas de acesso e de segurança foram equacionados, a partir do projeto, com a construção de uma praça com 70 mil m² de área em volta do estádio. Sob a praça foi concebido estacionamento que disponibiliza cerca de 2 mil vagas e cujo pé-direito permite até a circulação de ônibus. A praça é aberta e foi desenhada para proporcionar múltiplas atividades, incluindo festas e outras manifestações da população. Escadarias monumentais, calculadas segundo projeto específico de fluxo, dão acesso aos diversos pontos do estádio. A praça pode conectar-se futuramente a outros empreendimentos na mesma gleba. Serão iniciativas potenciais que podem se beneficiar do uso do estacionamento e ajudar a conferir, ao conjunto, a presença contínua do público.
A solução estrutural
O projeto do cálculo estrutural ficou a cargo do engenheiro Flávio d´Alembert, que anteriormente calculara a estrutura do estádio João Havelange, em Engenho de Dentro, Rio de Janeiro. Ele informa que, como o Castelão era uma edificação antiga, projetada segundo outros conceitos de desempenho estático e dinâmico, foi preciso pensar numa intervenção estrutural para corrigir problemas de desconforto dos usuários durante os jogos.
Lembrou, o calculista, que o consórcio construtor formou uma equipe de engenheiros estruturais na qual ele ficou responsável pelo cálculo das estruturas de aço; o engenheiro Marcelo Silveira respondeu pelas estruturas de concreto e o engenheiro Sérgio Stolovas cuidou da análise dinâmica.
O projeto estrutural considerou a necessidade de favorecer a agilização da construção; o uso de materiais e técnicas existentes no Brasil tanto para a estrutura como para a cobertura; as possibilidades de ajustes da obra, já que haverá grande interação com as estruturas existentes; e a correção do comportamento dinâmico dos pórticos atuais. Os novos pilares da cobertura, em estrutura tubular, têm vínculo com os pórticos existentes e promovem a amortização dinâmica quando necessário. Os pórticos de concreto dão apoio lateral aos pilares metálicos, ampliando a margem de segurança.
Flávio D´Alambert, ao explicar a técnica empregada na montagem da estrutura, diz: “Primeiro foram levantados 60 pilares treliçados e apoiados com pinos nas bases inferiores e nos apoios laterais dos pórticos de concreto. Depois, houve a montagem das treliças com mais de 50 m e seus travamentos, permitindo, logo em seguida, a colocação do sistema de cobertura. Nessa sequência, a montagem foi executada no prazo previsto”.
Ao analisar atualmente a conclusão do estádio, Waldemar Biselli afirma: “O que houve mesmo foi um esforço coletivo. Desde o começo das obras tinha a convicção de que seríamos o primeiro estádio a ficar pronto. A obra está aí, para esta e para as próximas gerações”.
Ficha técnica
Estádio: Castelão
Proprietário: Governo do Estado do Ceará
Início das obras: dezembro de 2010
Término das obras: dezembro de 2012
Custo total: R$ 518,6 milhões
Projeto de arquitetura: Vigliecca & Associados
Consórcio construtor: Galvão Engenharia e Construtora Andrade Mendonça
Estrutura da cobertura: Projeto Alpha
Estrutura de concreto: MD Engenharia
Fonte: Padrão