O estudante de teologia Darío Gaspar Nepomuceno teve uma visão. Usar a carnaúba, fibra vegetal abundante no Nordeste, para ajudar as centenas de trabalhadores dos assentamentos rurais da região de Assu, no centro do estado. Criada por ele, a ONG Carnaúba Viva passou nos últimos anos por uma revolução a partir de uma idéia inovadora e criativa. A confecção de palha de carnaúba, aprendida com os índios e até então vendida como artesanato, passou a ser usada como revestimento nos dutos da Petrobras que conduzem o vapor – e injetam pressão nos poços de petróleo – no lugar das tradicionais lâminas de alumínio.
Mais de 400 artesãos estão agora empregados tecendo palha de carnaúba para a Petrobras, um caso inédito de ONG fornecendo “equipamento” para a multinacional do petróleo, que só tem que impermeabilizar tudo.
“Além de alimentar muitas famílias pobres que vivem na roça, a carnaúba é vantajosa para a indústria, por ser mais barata e não ser visada por ladrões, que viviam roubando alumínio dos dutos”, explica Darío.
A criatividade tecnológica da ONG Carnaúba Viva faz parte da Rede Petro-RN, uma das ações do convênio firmado entre Petrobras e Sebrae. No total, 6,3 mil empresas já participaram de seminários, treinamentos e consultorias, um investimento de R$ 12 milhões no desenvolvimento de todo tipo de apetrecho tecnológico para o setor industrial que mais cresce no país.
A hora e a vez das micro
Com as pesquisas no pré-sal bombando, empreendedores como Darío vislumbram mar de almirante para seus negócios. As 31 rodadas de negócios feitas nos últimos três anos entre pequenos fornecedores nacionais e grandes empresas tiveram negócios anuais estimados em R$ 1,5 milhão. Não por acaso, Sebrae e Petrobras decidiram renovar sua próspera união até 2011.
Com 1.200 expositores, a Rio Oil&Gas revelou que, entre estandes suntuosos de multinacionais de 23 países, repletos de máquinas pesadas e modelos esbeltas, emergiram, em bom número, bandeiras do Brasil, num mar de produtos cada vez mais sofisticados e competitivos, em áreas como metalmecânica, refrigeração e tecnologia da informação.
Custo baixo
Na feira, 197 micro e pequenas empresas marcaram posição. Um negócio que não deve ser julgado à primeira vista. Pequena empresa mineira, a Hydroclean desenvolveu um absorvente de óleo feito de silicato, batizado de Oil Sorb. Um quilo do produto absorve até seis quilos de óleo, graxas e outros compostos orgânicos, essencial no tratamento de vazamentos de pequenas a grandes proporções, inclusive os que envolvem risco ambiental.
Similares importados do Canadá absorvem cinco vezes menos que o Oil Sorb e custam mais. “Normalmente se relaciona vazamento de óleo a acidentes catastróficos, mas toda indústria causa algum vazamento de óleo, no dia-a-dia”, explica o professor e doutor em engenharia química da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) Jader Martins, há sete anos à frente da Hydroclean. O produto, que parece uma ração, é um dos sucessos da parceria Petrobras/Sebrae. “Eu brinco dizendo que fornecemos comida macrobiótica para a indústria do petróleo”, diz Jader, que agora luta para conseguir colocar o produto em escala no mercado.
Fonte: Estadão