Pré-sal demanda planejamento de décadas (e menos politicagem)

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A nova fronteira petrolífera, na área do pré-sal que vai do litoral de Santa Catarina até o Espírito Santo, a uma profundidade da ordem de 7 mil m, constituindo reserva possivelmente superior a 50 bilhões de barris de óleo, projeta para o País o mais importante cenário de crescimento, desde o advento da criação da Petrobras.

E é exatamente pela importância dessa nova fronteira petrolífera, que vem polarizando as atenções daqui e do mundo, que os cérebros mais conscientes da história econômica, social e política brasileira chamam a atenção para a necessidade de austeridade e reflexão em todos os passos que sejam dados relativamente à exploração dessa riqueza submersa.

Ainda numa fase em que o domínio da engenharia mais sofisticada deve ser priorizado, a fim de que se busquem as opções mais corretas e econômicas com aquele objetivo, o que se vê é uma sucessão de ingerências e manifestações políticas, numa espécie de corrida prévia para a divisão do butim.

O país tem de caminhar com calma, pois não se pode deixar que os interesses imediatamente acionados por conta do petróleo, façam o governo perder a visão do que é preciso fazer para o aproveitamento daquele bem em favor do crescimento industrial e da melhoria da qualidade de vida de cada cidadão.

A reserva continua intacta, distante do olho e da capacidade do manuseio das máquinas do homem, mas já se fala em modelo norueguês e na criação de uma nova estatal do petróleo, como se os campos sob o pré-sal já estivessem em processo de produção.

Esquece-se de que tudo ainda está na dependência de um cronograma a ser estabelecido sob a égide da experiência técnica e dos recursos necessários à exploração desse novo ciclo petrolífero.

O pré-sal pressupõe, de saída, a ampliação da base industrial voltada para as atividades no fundo do mar; a fabricação de mais de duas dezenas de sondas a custos provavelmente superiores a US$ 700 milhões cada uma; a montagem de modernos estaleiros e a contratação e preparação de equipes técnicas articuladas sob gerenciamento altamente capacitado; e criação de condições para preparar a engenharia nacional, sobretudo a de montagem industrial, para cumprimento do cronograma a ser elaborado.

O empresário Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), diz à imprensa, que a indústria naval, até recentemente desmantelada, experimenta, hoje, uma espécie de ressurreição e que, nesse momento, não há nenhuma empresa instalada no Brasil que tenha experiência de desenvolvimento dos projetos para essa nova fronteira petrolífera, dada a complexidade que lhes é inerente.

Contudo, “como temos a maior empresa de off shore do mundo, a Petrobras, nada mais adequado do que ter a maior indústria de off shore instalada no Brasil”, afirma o empresário. Nessa perspectiva, todas as providências com aquele fim vão exigir muita sabedoria e espírito público para uma correta e eficiente mobilização de capital interno e externo e parcerias em diversas áreas.

O novo cenário do crescimento brasileiro tem que ter em vista a melhoria de nossa condição de vida em todos os segmentos, e não, mais uma vez, os interesses dos grupos que usam o poder em benefício próprio.

Esta é a grande oportunidade que se nos apresenta para valorizar a tecnologia e a ampla experiência até aqui acumulada pela Petrobras. E, no caso de uma nova empresa petrolífera, há que se ter em conta a necessidade de uma discussão madura envolvendo o
Congresso Nacional e a sociedade. Além disso, há que se ter em vista que as licitações para a exploração daquela reserva não devem significar barreiras capazes de afastar ou minimizar a possibilidade de participação dos investidores privados internacionais. Veja-se, nesse sentido, o exemplo da Noruega.

Fonte: Estadão


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