O 1º Fórum de Infraestrutura Urbana, realizado pela revista O Empreiteiro no Riocentro, no espaço da Feira Construir 2013, mostrou como a parceria entre administração pública e empresas privadas pode resolver carências históricas das cidades do País
Marco Antonio Robalinho, representante da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp), falou sobre a operação urbana Porto Maravilha, que está possibilitando a reestruturação e renovação da zona portuária. O projeto abrange uma área de 5 milhões de m², cujos limites avançam até as avenidas Presidente Vargas, Rodrigues Alves, Rio Branco e Francisco Bicalho e prevê um conjunto de obras estruturantes, como a reurbanização de 70 km de vias e execução de 650 mil m² de calçamento.
As obras em curso resultam de uma das maiores parcerias público-privadas já articuladas no País: o contrato assinado entre a Cdurp e a concessionária vencedora de licitação pública Porto Novo S. A., formada pelas empresas Construtora Norberto Odebrecht, OAS e Carioca Engenharia. Dentre as principais obras, que deverão ser entregues até 2016, ano da Olimpíada, incluem-se a demolição do Elevado da Perimetral, já iniciada; a transformação da atual avenida Rodrigues Alves em via expressa; e a construção do Binário do Porto, que cortará toda a região, da altura da Praça Mauá até a Rodoviária Novo Rio. Prédios históricos estão sendo requalificados e os empreendimentos imobiliários novos deverão marcar a nova face urbana daquela região, há décadas deteriorada.
Francis Bogossian, presidente do Clube de Engenharia e da Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (Aeerj), fez, em sua palestra, um histórico pormenorizado da cidade em seus primórdios e disse que ela foi pioneira na implantação de transporte de massa, saneamento básico e iluminação pública.
O presidente do Clube de Engenharia destacou as obras de responsabilidade da prefeitura e aquelas da esfera estadual, enfatizando que a maior obra de infraestrutura é o Arco Metropolitano. “O Arco vai reestruturar toda a malha rodoviária da região metropolitana, por meio da conexão de três vias federais de grande movimento: a BR-101, em seus trechos norte e sul; a BR-116 e a BR-040”, afirmou.
Pedro da Luz Moreira, vice-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil – departamento do Rio de Janeiro, criticou as prioridades conferidas, hoje, a alguns modais de transporte — como a ampliação do metrô em direção à Barra do Tijuca —, considerando que eles deveriam ser planejados dentro de uma visão mais homogênea da cidade. Ele insistiu no entendimento de que uma obra de maior impacto no campo da mobilidade urbana seria a renovação completa da rede dos trens urbanos — maior do que a de São Paulo, por exemplo -, que deveria funcionar com menores intervalos. Acredita que os trechos que eles cobrem deveriam ainda estar providos de estações funcionais e confortáveis.
BRT Transoeste
O engenheiro Pedro Moreira de Souza e Silva, da Odebrecht, atualmente diretor de contrato das obras do corredor viário Transolímpica, foi diretor de contrato das obras do BRT Transoeste (lotes 1 e 2), que compreende o trecho entre o terminal Alvorada e a estrada da Matriz. O BRT, como um todo, começa no Terminal Alvorada, na Barra da Tijuca, e segue até as estações da Supervia, em Campo Grande, pela avenida Cesário de Melo e Santa Cruz e pela rua Felipe Cardoso. Opera com ônibus articulados com capacidade para até 205 passageiros.
O lote 1 segue pela avenida das Américas e inclui a construção de dois viadutos, um no cruzamento com a avenida Salvador Allende e, outro, na altura da Benvindo de Novaes. O lote 2, que começa no cruzamento da Estrada Benvindo de Novaes e segue até a Estrada da Matriz, em Guaratiba, inclui uma obra considerada muito importante, do ponto de vista da engenharia: o túnel da Grota Funda.
Pedro Moreira informou que houve inovações técnicas significativas. Por exemplo: o pavimento recebeu asfalto com pigmentação especial na cor vermelha. O material consiste da adição, na mistura asfáltica, de um pigmento vermelho em forma de grãos contendo polímero e aditivos de mistura morna. Tem efeito estético e se revela favorável à melhor orientação dos usuários. Até então, material do gênero nunca fora empregado no País, embora já tenha sido, antes, usado em obras de BRTs na França, Austrália, Inglaterra e Japão. A Odebrecht é apontada como pioneira na utilização do asfalto vermelho.
O chamado Túnel da Grota Funda foi construído pela Toniolo, Busnello, subcontratada para esse fim. São dois túneis paralelos, com 1.100 m de extensão, cada. A obra faz parte da duplicação da avenida das Américas e tem como finalidade desafogar o tráfego na saída da capital em direção ao litoral sul fluminense. Foram realizados serviços de escavação subterrânea pelo método NATM, compreendendo escavação em rocha sã, em seção plena, com utilização de explosivos e uso de jumbo eletro-hidráulico de três braços, e escavação em solo ou rocha alterada, com emprego de perfuratriz manual e brocas integrais (86 m x 13,40 m x 10,90 m). As galerias receberam, posteriormente, iluminação LED, semelhante à de teatro, e 56 câmeras para monitoramento da segurança.
Moradia e saneamento
José Domingos Corrêa Martins, superintendente regional da Caixa Econômica Federal Rio de Janeiro, falou do papel da CEF nos financiamentos para o programa habitacionalMinha Casa, Minha Vida,que no estado é dividido em duas fases: a primeira para quem ganha até R$ 1.600,00 mensais e, a segunda, para quem recebe até R$ 5.000,00. Ele disse que o programa é monitorado para se produzir uma habitação com qualidade.
Carlos Henrique da Cruz Lima, diretor de tecnologia e qualidade do Sindcon, que no fórum representou a Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), destacou a capacidade das empresas do segmento para construir, operar e gerir esses serviços. “Já demos mostra”, disse ele, “de competência em várias concessões, inclusive aqui no Rio de Janeiro, e queremos ampliar nossa presença no saneamento. Hoje estamos atuando em 271 municípios, dentro de um universo de 5 mil cidades. É muito pouco ainda, diante de nossa capacidade de realizar novos investimentos”.
Fábio Orteza, atualmente assessor de gerenciamento de projetos da concessionária Ecovias dos Imigrantes, concessionário do sistema Anchieta-Imigrantes em São Paulo, lembrou o fenômeno climático ocorrido no dia 22 de fevereiro último em razão das chuvas de alta intensidade que atingiram a região da Serra do Mar, num curto prazo de tempo. Devido ao grande volume de material e detritos de grandes dimensões que foram carregados durante as chuvas, a estrutura de drenagem foi superada abruptamente, determinando o transbordo de água e material para a pista de rolamento norte da Imigrantes, altura do km 52.
Ele destacou os aspectos operacionais e os recursos, equipamentos e equipes mobilizados para reparar os danos, além da realização de vistoria, para liberação do tráfego em menos de uma dia e meio de intensos trabalhos, graças a uma equipe treinada para intervenção em emergências da própria concessionária, além de subcontratadas que foram mobilizadas em pouco tempo para fornecimento de veículos e máquinas.
Sílvio José Rosa, da diretoria da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), fez uma explanação sobre o Sistema Integrado da Região Metropolitana da Baixada Santista (SIM). Trata-se de uma rede de transporte coletivo metropolitano estruturada por meio de uma linha principal de média capacidade, que será operada com a tecnologia VLT – Veículo Leve sobre Trilhos. Esse sistema estruturador encontra-se em construção e compreende a ligação entre São Vicente (Terminal Barreiros) e Santos (Terminal Porto), além de sua extensão de Conselheiro Nébias até o Valongo.
Eleusis Di Creddo, da Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (ABLP), falou das dificuldades que as municipalidades brasileiras terão de enfrentar, nos próximos anos, por conta das novas “premissas estabelecidas pela Política Nacional dos Resíduos Sólidos”. Ele apontou várias das deficiências do setor público para a gestão adequada dos resíduos sólidos e relatou soluções possíveis.
Fábio Zorzi, gerente operacional de aterros da Essencis, tratou da experiência de sua empresa na operação dos aterros sanitários e das exigências da legislação ambiental no Brasil. Zorzi lembrou que o País, em termos de reciclagem e compostagem, ainda está muito atrás dos Estados Unidos e da Europa, por exemplo, e citou a existência numerosa de lixões e aterros controlados por aqui, o que é proibido pela legislação norte-americana e europeia.
O gerente da Essencis frisou que “aterro sanitário é uma obra de engenharia complexa”, porque precisa observar todos os procedimentos para a mitigação de impactos ambientais. A preparação de um aterro seguro obedece a uma série de medidas preparatórias: drenagem de nascentes, impermeabilização inferior e drenagem de percolado, no quesito águas subterrâneas; impermeabilização superior, drenagem superficial e tratamento de lixiviado, como cuidado com águas superficiais; drenagem de gases e tratamento de odor e poeira, com relação à atmosfera; e monitoramento geotécnico e ambiental, no entorno.
Água limpa, luz sustentável
Marco Antônio de Oliveira, diretor da H2Life Brasil, apresentou no fórum o equipamento Super H2Life, capaz de transformar a água poluída de rios e lagos em água potável. Ele mostrou a operação do sistema com o caso da forte chuva em Xerém, distrito de Duque de Caxias (RJ), no começo do ano, que inundou e ilhou casas e desabrigou centenas de pessoas.
O Super H2Life é estação móvel de tratamento de água, montada dentro de um gabinete, com um conjunto de ultrapurificação de água bruta, sem reagentes químicos. É capaz de purificar até 6 m3de água por hora. Além de servir a situações emergenciais, contra desastres naturais, o equipamento também pode ser utilizado para o tratamento de águas de rios, lagos e poços artesianos com fins de consumo humano e para reaproveitamento de águas de empreendimentos, comoshopping centers, parques aquáticos, condomínios, fábricas e hospitais.
Tecnologias sustentáveis para a iluminação pública foi o assunto da palestra do engenheiro Eduardo C. Moreira Neto, da Philips. Ele defendeu, em linhas gerais, a adoção em larga escala do sistema de iluminação LED como alternativa viável e econômica para as cidades.
O engenheiro de iluminação da Philips identificou ainda tendências para o futuro da área, com transição do sistema analógico para o digital, o surgimento de novos modelos de gestão da iluminação pública, com crescente participação do provedor do serviço, e o estabelecimento de redes de iluminação inteligente. Na formação desse novo contexto energético, apresentou a plataforma de integração de serviço CityTouch, desenvolvida pela Philips, que também funciona com equipamentos concorrentes e tecnologias futuras. Segundo Moreira Neto, o CityTouch garante flexibilidade na escolha da tecnologia e gerenciamento de controles diversos em uma só interface, entre outros recursos.
Fonte: Revista O Empreiteiro