Os presidentes do Mercosul reiteram nesta terça-feira (16) a importância da integração socioeconômica do bloco como proteção diante da crise financeira mundial, em declarações feitas durante 36ª Cúpula dos Chefes de Estado do Mercosul, realizada na Costa do Sauípe, Bahia.
“A voz do Mercosul começa a ser ouvida nos fóruns internacionais”, declarou o Luiz Inácio Lula da Silva, que atualmente exerce a presidência rotativa do grupo, na abertura dos discursos.
“Vejo com satisfação que nossos países estão dando respostas muito contundentes e a nossa preocupação central deve ser de proteger o emprego e a renda dos trabalhadores e continuar a reforma da inclusão social¿, acrescentou o presidente brasileiro.
Ao comentar a posição do Mercosul diante da crise, Lula destacou a importância de aumentar a oferta de crédito na região. ¿Com acesso ao crédito, nossos empresários estarão com mais confiança para vender do outro lado do Atlântico. O Brasil tem consciência de sua responsabilidade com os países mais pobres, mas não podemos perder a dimensão comercial¿, afirmou o presidente brasileiro.
Por sua vez, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, pediu que o Mercosul seja “revitalizado” para que sejam assinados mais acordos comerciais com outros mercados, como forma de enfrentar o novo cenário de crise financeira mundial.
“Devemos revitalizar nossos instrumentos para que possamos nos relacionar com outros mercados, com visão diferente do que se fazia antes da crise, quando nos impusemos paradigmas que pareciam intocáveis”, disse a chefe de governo argentina.
Nesse sentido, Cristina Kirchner acusou as potências de terem causado a crise mundial e solicitou “às economias centrais uma intervenção de políticas proativas, porque são eles os responsáveis por essa situação”.
Fernando Lugo, chefe de governo do Paraguai e responsável pela presidência do Mercosul durante o próximo semestre, pediu ao bloco mais clareza e compromisso com temas sociais.
“Necessitamos um Mercosul com um rosto social mais nítido, que reflita a integração dos povos e não apenas dos governos”, disse Lugo, acrescentando que o bloco “deve aprofundar sua diversidade cultural para a integração real e efetiva”.
O presidente paraguaio também argumentou que o Mercosul, em meio à crise global, “é um grande espaço de integração que abre portas para outros mercados”.
Já o presidente do Equador, Rafael Correa, que participa da cúpula como convidado, defendeu uma “nova arquitetura financeira regional”, que inclua a criação do Banco do Sul, de um fundo de reservas e de uma moeda regional.
“A resposta à crise é uma integração que se traduza em fatos concretos. Se tivéssemos conseguido avançar mais com o Banco do Sul, estaríamos mais bem preparados contra a crise”, afirmou Correa, argumentando que tal instrumento ofereceria “mais recursos para compensar” os efeitos das instabilidades financeiras.
O presidente equatoriano ressaltou a necessidade de “juntar reservas, para que sirvam de respaldo contra a balança de pagamentos e a crise de pagamentos, e com as reservas se financia o investimento público com maior economia”.
Também como presidente convidado, o cubano Raúl Castro afirmou que “o propósito da integração de complementação econômica e a defesa do espaço regional demanda esforços e tem pelo caminho obstáculos nada fáceis: os efeitos de uma ordem internacional injusta e egoísta que favorece os países desenvolvidos e aos interesses das corporações transnacionais”.
“A vontade de integração regional na América Latina se depara também com a desigualdade, a insuficiente infraestrutura e as grandes injustiças sociais”, acrescentou o presidente cubano.
Raúl Castro disse ainda que o Mercosul, o grupo comercial caribenho Caricom e a Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba) “têm a possibilidade de servir de base e referência para tudo aquilo que possamos construir depois da cúpula, se tivermos vontade de seguir avançando e não nos limitarmos ao prazer de termos nos reunido”.