Apóa a guerra coreana (1950-1953) a Coréia do Sul
optou por investir em educação e tecnologiae tornou-se um dos tigres asiáticos
Seul, a capital, com sua avenida principal adornada por esculturas que lembram a Olimpíada de 1988, alguns mega-edifícios que lembram Nova York, é um símbolo do nível de tecnologia que a economia coreana atingiu. Saindo de lá pela rodovia que liga a Busan, no sul, o viajante nota o qualidade impecável dos pavimentos, encostas invariavelmente tratadas para evitar desmoronamento do solo ou rocha, pedágios que cobram a taxa dos usuários a ser reinvestida nas estradas. Mas é o verde dos arrozais que mais impressiona, além de outras culturas protegidas por estufas – porque não se vê nenhum pedacinho de terra não aproveitado pela lavoura, nem bois pastando no campo, a ponto de as plantações estarem encostadas no guard rail das rodovias.
O visitante sente intuitivamente queesta cena remete ao projeto de país que a Coreia do Sul pôs em curso há cerca de cinco décadas, transformando-se sua economia numa potencia. Novos desafios se desenham no horizonte. De um lado a alta tecnologia do Japão e seus produtos sofisticados que lhe dão uma vantagem competitiva no mercado global. Deoutro, a China com sua mão de obra barata que continua sendo uma vantagem mesmo quando a indústria local amplia sua pauta de produtos mais complexos.
A Coreia do Sul vem enfrentando essa dura concorrência com bravura, mesmo com a sua moeda – won – sendo a mais valorizada da região. É hoje o décimo país exportador no mundo, cravando crescimento de dois dígitos nos últimos cinco anos. A China superou os EUA como maior parceiro comercial da Coreia, que sustenta um superávit no comércio bilateral devido à exportação de bens de capital e de componentes industriais. Neste último item, o país elevou suas exportações para a China de 1% do total produzido em 1992 para 27% em 2004. Os investimentos sul-coreanos na China seguem uma curva ascendente similar.
A competitividade da indústria coreana tem avançado – a produtividade da mão de obra cresceu 10% ao ano desde 2002, beneficiada por aumentos modestos de salários, embora a valorização do won tenha corroído as margens de lucro das empresas. Os gastos em pesquisa e desenvolvimento equivalem a quase 3% do PIB anual, um dos maiores índices entre os países desenvolvidos. Produtos de maior valor agregado, como automóveis, eletrônicos e navios compõem a metade das exportações do país, quando representavam meros 25% em 1990.
Coreia do Sul é uma potência mundial em vários segmentos. Os três maiores estaleiros navais estão no país – Hyundai Heavy Industries, Samsung Heavy Industries e Daewoo Shipbuilding. É o maior fabricante global de flash memory – Samsung Electronics, e também um dos dois lideres em chip DRAM, telas LCD e telefone celular. Posco é a terceira maior siderúrgica mundial e Hyundai Motors é o quinto maior fabricante de automóveis.
A indústria pesada, como a naval, é a grande força da economia coreana. Com um detalhe: não existia estaleiro no país até os anos 60. Quando o presidente Park Chung-hee, então governando em regime ditatorial, chamou o fundador da Hyundai Heavy Industries, Chong Ju-yung, para que ele produzisse navios petroleiros para aproveitar uma demanda forte que surgia no mercado, ele não hesitou. Foi à Grécia e arrancou da Esso uma encomenda de dois petroleiros de 260 mil t, prometendo entregar em dois anos – um prazo menor que os concorrentes, com a cláusula de que não receberia nenhum pagamento caso atrasasse os navios. Negociou financiamento com a Barclays Bank para construir o estaleiro e mandou 60 engenheiros para Escócia aprender o know-how. Para espanto dos estaleiros concorrentes, Hyundai entregou os navios antes do prazo!
Os três estaleiros estão com suas carteiras de pedidos quase lotadas até 2013, concorrendo duramente entre si no mercado global – respeitando apenas um acordo informal de não roubar funcionários um do outro. Coreia do Sul responde por dois quintos do mercado mundial de navios novos – correspondendo a 8% de suas exportações, enquanto que a China e o Japão têm de se contentar com 15% cada.
Fonte: Estadão