Joseph Young
Asérie de preparativos para a comemoração dos 50 anos da revista O Empreiteiro levou à montagem da Linha do Tempo da Infraestrutura Brasileira, onde desponta como um marco raro a construção de Brasília, cujas obras o presidente Juscelino Kubitschek mobilizou um grupo de pioneiros como Israel Pinheiro, Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Bernardo Sayão, Marco Rabello, Joaquim Cardozo, Sérgio Marques de Souza, Mauro Ribeiro Viegas e outros, além de uma multidão de trabalhadores – os candangos – sem os quais a nova Capital não teria saído do desenho. |
Brasília marcou a rompimento do País com sua herança colonial e com as tradições e costumes do Rio de Janeiro, abrindo as portas do crescimento para além das fronteiras econômicas de São Paulo e de outros estados, reorientando-o para o interior brasileiro. Ela estimulou novas energias criadoras e ajudou na exploração de riquezas até então ainda intocadas no território continental.
Podemos, hoje, afirmar, com o conhecimento que a história nos permite, que JK retomou o caminho aberto por outro visionário – Getúlio Vargas. Este flertou com os gigantes da sua época e conseguiu recursos para fundar a Vale do Rio Doce e a Companhia Siderúrgica Nacional. A força da história levou-o, depois da experiência do Estado Novo, a deixar de lado suas preferências por um regime autoritário.
É importante lembrar aqueles períodos, no momento em que vemos políticos se engalfinharem disputando cargos do 2o e 3o escalão, em Brasília. Isso nos remete também a outro fato: a primeira eleição do sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. Naquela fase, seria difícil encontrar algum de seus leitores que duvidasse de que, enfim, as grandes promessas de ética na coisa pública não seriam concretizadas. A grande maioria acreditava que um novo ciclo político inaugurava-se para o País.
Nove anos e duas gestões petistas depois, apareceu a outra face da moeda: a política praticada no Planalto mostra que o ideário petista foi cooptado pelas práticas mais rasas e corruptas. Tanto é, que entre os grandes articulares do governo estão José Sarney, e pasmem, até o ex-presidente Fernando Collor, que fora defenestrado do poder por um impeachment.
O exemplo vem de cima, diz um ditado popular. Governadores são acusados de comprar votos; a mulher do prefeito de Campinas é presa pela Policia Federal e Gilberto Kassab, em São Paulo, dá isenção fiscal para a construção do Itaquerão, disponibilizando, portanto, para outros fins, recursos que seriam suficientes para construir dezenas de Centros Educacionais Unificados (Ceus) para crianças carentes.
Enquanto isso, um estudo sobre os problemas de drenagem urbana na capital paulista e suas soluções técnicas necessárias, que foi realizado na gestão Marta Suplicy, está esquecido em alguma gaveta da prefeitura. São Paulo aguarda ansiosamente pelas próximas chuvas de verão!
Os gestores da Copa do Mundo 2014 e da Olimpíada 2016 ainda não conseguiram dividir o bolo político — e nenhuma empresa de engenharia foi contratada para fazer a gestão dos numerosos projetos, empregando ferramentas e softwares conhecidos há longa data pelos empreendedores privados.
Brasília e as rodovias que a interliga a outras regiões do País foram construídas graças à vontade desenvolvimentista de JK. Com base em seu exemplo, vemos que hoje falta um estadista à frente da administração do Brasil. Sem um JK, que tipo de legado podemos aguardar desses dois eventos globais?
Fonte: Estadão