Agora que já se procura o caminho correto para a reconstrução de Porto Príncipe e de outras cidades do Haiti devastadas pelo terremoto, buscam-se na História exemplos de esforço econômico, político, social e de engenharia e arquitetura, que contribuam como ensinamentos para aquela finalidade. Nesse empenho, não há como se deixar de recompor, na memória histórica, a imagem de um homem: Sebastião José de Carvalho e Melo.
No dia 1º de novembro de 1755, às 9h30 da manhã, um terremoto, acompanhado de maremoto e de incêndios que se propagaram continuamente, destruíram a grande capital européia onde Sebastião José de Carvalho e Mello iniciara sua carreira social e política. Palácios, templos religiosos, edifícios públicos, estabelecimentos de ensino, hotéis, bibliotecas, milhares de residências, lojas, prédios de instituições bancárias, e espaços tradicionais da arte e cultura, viraram montanhas de escombros, legando aos sobreviventes a visão de uma terra arrasada.
Há historiadores que calculam em 30 mil o número de mortos, enquanto outros registram cerca de 100 mil. De qualquer forma, o número era extremamente elevado, considerando-se uma população local da ordem de 260 mil pessoas.
Sebastião José de Carvalho e Melo, nomeado primeiro-ministro do governo imperial, assumiu, já no dia seguinte à catástrofe, a tarefa de dar uma direção aos trabalhos para reorganizar a população e ver o que ainda poderia ser feito do que restara da cidade. Ele escancarou as portas de sua casa aos auxiliares e determinou: "Socorram os feridos, enterrem os mortos e alimentem os vivos". Falou com voz pausada, sem recorrer a emocionalismos, convencido de que o momento estava a exigir o uso da razão; só depois, muito depois, o da emoção.
Nos dias e semanas que se seguiram, ele convocou a inteligência do país e da Europa para a tarefa da reconstrução. Não demorou muito para ter em mãos propostas factíveis prevendo um plano urbanístico inovador. A idéia era proporcionar à velha capital um traçado geométrico ortogonal com uma racional hierarquização de ruas e avenidas, definidas considerando as amplas praças e jardins, os centros destinados às atividades políticas e econômicas, os corredores de tráfego, as áreas para habitação e outros espaços para a organização da expansão urbana futura.
Todo esse trabalho esteve calcado em cima de levantamento minucioso do mapa anterior da cidade, buscando-se a experiência da engenharia e da arquitetura adotada no passado, a fim de que a cidade nova, que iria "ressurgir das cinzas", nascesse com a mesma identidade, valorizada pelas inovações recomendadas.
O brasilianista Kenneth Maxwell faz referências a algumas providências que Sebastião José de Carvalho e Mello adotou imediatamente depois da catástrofe: remover e sepultar os mortos para evitar propagação de doenças; combater a fome e a sede; tratar dos feridos; cuidar dos sobreviventes e convencer os que deixaram a capital a retornar; enforcar ladrões e saqueadores e partir para a tarefa da reconstrução.
A cidade europeia a que me refiro é Lisboa e Sebastião José de Carvalho e Mello não é outro senão o Marquês de Pombal, de quem dizem tudo: centralizador, autoritário. Enfim, figura humana controversa.
Hoje, no entanto, quem passe pela Praça Marquês de Pombal, que dá vista para a Avenida da Liberdade, o Rocio e o Terreiro do Paço, às margens do Tejo, vê ali o monumento com o qual é prestada homenagem ao homem que, em um momento da tragédia mais extrema que pode acontecer a um país, conseguiu mobilizar corações e mentes e reconstruir Lisboa.
A arte de Bruno Torfs
O geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos me chama a atenção para a arte de Bruno Torfs, que imediatamente passo a conferir. Artista melhor dentre os melhores, impressiona pelo que faz em jardins, sobretudo esculpindo com sutileza e requinte peças em terracota. O artista, nascido aqui na América do Sul, mora na Austrália, na aldeia de Marrysville Vitoriana, onde vem colocando a sua arte acima de tudo.
Frase da coluna
"A capacitação de um país na exportação de serviços de engenharia significa ser reconhecido, nos mercados internacionais desses serviços, como gerador de conhecimento técnico de excelência."
Do economista Luciano Coutinho,
presidente do BNDES.
Fonte: Estadão