A tendência do mercado é substituir minas de maior custo por operações novas e mais eficientes, como o projeto S11D da Vale
Augusto Diniz
“Recuperação mesmo somente em 2017. Trata-se de uma contribuição importante (o comissionamento do projeto S11D), já que o minério de ferro responde por boa parte das exportações no setor”, explica Marcelo Ribeiro Tunes, diretor de Assuntos Minerários do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Segundo a instituição, em 2014, o minério de ferro representou US$ 25,1 bilhões em exportações, num total de US$ 34,2 bilhões de produtos de origem mineral.
De acordo com Tunes, as dificuldades para a recuperação do setor se centram no preço da energia e a necessidade de melhoria da infraestrutura no País. Ele cita que há empresas reduzindo a produção total por conta dos altos custos de operação.
Com relação à infraestrutura, ele menciona a Bahia Mineração (Bamin), que tem projeto no Sul da Bahia, mas aguarda a conclusão da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), que prevê a ligação do Estado do Tocantins ao porto de Ilhéus (BA). “A infraestrutura é fundamental para a movimentação de carga do setor”, afirma Tunes.
De acordo com o diretor do Ibram, vive-se hoje um período de turbulência. “Vai passar, mas o que estamos sentindo é forte. Os preços caíram muito. É verdade que eles estavam artificialmente altos em 2011”, avalia.
Com relação ao cenário internacional, ele explica que era sabido que a alta demanda de minerais pela China, fruto da intensa urbanização naquele país, não iria persistir por muito tempo, fazendo com que o mercado se adequasse à nova realidade.
“Acredita-se que a Índia possa desempenhar esse papel da China na compra de minérios, mas de forma menos vigorosa”, informa. O governo reformista de Narendra Modi, que assumiu o poder no país ano passado, trabalha em várias frentes para alavancar a economia – a previsão de crescimento do PIB este ano é de 7,5%.
“Em breve, a Índia será mais populosa que a China e precisará atender a essa população”, diz Tunes. Ele citou também a recuperação da economia norte-americana como aspecto importante para a retomada do setor de mineração em novo ciclo de expansão.
Uma questão que preocupa o Ibram é a ambiental. “O licenciamento tem ficado agudo, mais difícil. A legislação está anacrônica”, analisa. O diretor conta que há mineradoras que levam dez anos para obter todas as licenças ambientais para operar uma mina. “Existe ainda o problema de que as regras ambientais diferem em cada Estado, também atrapalhando o mercado”, lembra.
A preocupação tem a ver com o potencial de exploração mineral no País. “Apenas 30% do território brasileiro tem mapeamento mineral”, afirma.
Foco no S11D
O projeto Ferro Carajás S11D, localizado na Serra Sul de Carajás, no Pará, tornou-se foco absoluto da Vale. A iniciativa, que se destaca pelo baixo impacto ambiental, tem firme avanço nas obras, para que a operação comece até o final 2016.
Com a expectativa de produção anual da ordem de 90 milhões de t, a exploração de minério de ferro se dará por meio de lavra a céu aberto, bem como o beneficiamento do minério com umidade natural (sem a necessidade de adicionar água no processo).
As obras se dividem em três grandes frentes e, no total, há pelo menos 14 mil operários trabalhando no projeto hoje. Uma está relacionada às obras do empreendimento, em área de 1.400 ha. As outras duas, ao âmbito logístico. Juntas, elas somam investimentos de cerca de US$ 17 bilhões.
Para transporte do minério, está sendo feita a construção da Ferrovia Sudeste do Pará, de 101 km e quatro túneis, que ligará a planta à ferrovia de Carajás – que se encontra em expansão em trecho de 504 km e reestruturação de 206 km das linhas existentes. O porto Ponta da Madeira, no Maranhão, também está em obras para escoamento desta produção.
Alguns módulos da usina de beneficiamento estão sendo posicionados. Recentemente, foi colocado na base de sustentação um módulo de 1.200 t, 22 m de comprimento e 25 m de altura. Para instalá-lo, foi preciso erguê-lo a 10 m de altura e movimentá-lo por mais de 40 m.
A operação foi quase de guerra. Métodos inéditos de jacking (suspensão) e skidding (deslizamento) foram usados. A técnica de jacking permitiu a sincronização entre as nove torres de “macaqueamento” para içar e baixar o módulo. Já a técnica de skidding foi usada para movimentar o módulo até a base.
Fonte: Redação OE