Reestruturada, Azevedo & Travassos foca consórcios e mira obras de saneamento

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Com quase 100 anos, a construtora Azevedo & Travassos tem uma longa história em importantes obras no país. Dentre elas, as rodovias Anchieta e Imigrantes, a avenida 23 de maio na capital paulista, a Linha 1-Azul do Metrô de SP, inúmeros projetos de porte para Sabesp e Comgás, e por aí vai.

Nos últimos anos, no entanto, a crise do mercado de construção pesada e a Lava Jato, que não a envolveu na operação mas atingiu a Petrobras, onde mantinha boa parte de seus negócios, exigiu forte reestruturação da empresa. E diferente do que aconteceu com companhias de seu setor que enfrentam insolvência até hoje, conseguiu um investidor capaz de aportar recursos para seguir adiante saneada.

Ivan de Carvalho Junior, diretor-presidente da Azevedo & Travassos, explica que a construtora foi por muito tempo atuante em infraestrutura, na parte civil, em grandes obras. “No início dos anos 1980, ela passou atuar em óleo e gás. Isso foi crescendo e a gente se distanciando do setor público”, lembra Ivan, que desde 1984 trabalha na empresa.

Nos últimos dez anos, cerca de 80% do faturamento da construtora era proveniente do sistema Petrobras e estatais estaduais de gás. Em 2016, a empresa mantinha backlog de R$ 900 milhões, que “era muito bom, além de mais de 1 mil funcionários”.

O executivo lembra que imaginava até crescimento no segmento, por conta de problemas de outras empresas, só que o quadro foi diferente.  “A gente não contava era que a Lava Jato afetaria a própria Petrobras. Ela parou de investir. A gente tinha duas obras grandes com eles. Esses contratos foram cancelados”.

Daí, tiveram que reduzir o quadro de colaboradores e adequar a estrutura da empresa à nova realidade. “Felizmente, a Azevedo & Travassos tinha um patrimônio, que ela colocou à disposição para fazer frente às dívidas. Vendeu ativos e alongou a dívida”. O diretor-presidente explica que a empresa optou em não pedir recuperação judicial ou extrajudicial: “A gente entendia que isso não era adequado”.

Novo sócio

Até o começo de 2019, a construtora continuava com problema de capital de giro por conta da crise do mercado, até que o fundo de investimento Rocket Capital fez uma proposta aos controladores, adquirindo 65% da empresa. “A Rocket assumiu e colocou a especialização deles em prática, que é reestruturação de empresa. Aí, melhoraram muito o perfil da dívida da construtora, renegociando com os fornecedores mais críticos e bancos”. Foi também resolvido a questão do enorme passivo trabalhista, que girava em torno de R$ 40 milhões.

Seguindo a reestruturação com o novo sócio majoritário, diversos membros da diretoria foram substituídos e profissionais experientes do mercado entraram na gestão.

Assim, a Azevedo & Travassos retomou contatos com antigos clientes, como a Vale, e acabou assumindo, em consórcio, as obras do sistema de captação e adução de água do Rio Paraopeba, em Brumadinho (MG), com término previsto para janeiro próximo. Com a Petrobras, também retomou os trabalhos, como no Terminal de Campos Elísios, em Duque de Caxias (RJ).

“Ela é muito tradicional e conhecida, o que a permitiu voltar ao mercado”, afirma Ivan.  No entanto, a empresa que era vertical e executava qualquer tipo de obra, está mais cautelosa no mercado. “Hoje, a gente está atuando em parcerias, fazendo consórcios com outras empresas”.

Bolsa

Em outubro último, a Azevedo & Travassos aprovou um aumento de capital privado que busca alcançar captação de recursos de até R$ 43,2 milhões. A empresa tem o capital aberto desde 1984. Isso facilitou muito a entrada de investidores.  “Ela tem uma auditora externa há mais de 30 anos. Cumpre as regras da CVM (Comissão de Valore Mobiliários), com os balanços auditados. É raro esse tipo de empresa ter ações negociadas na Bolsa”, diz Ivan.

O enorme acervo de obras da empresa foi também uma referência. Calcula-se que Azevedo & Travassos já tenha participado de mais de 1.100 obras no país. Além de atrair o fundo Rocket Capital, influiu também o cenário promissor de obras em infraestrutura no país. Como esse movimento de adequação, subiu o seu número de acionistas – segundo a empresa, de 2.000 para 4.100, bem como forte valorização de suas ações na B3 – nos últimos doze meses, 86,4%.

Ivan de Carvalho Junior ressalta que quer levar a experiência adquirida no sistema Petrobras para outros segmentos. “É uma empresa que exige muito do fornecedor, não só em qualidade como cuidados do meio ambiente e segurança. Precisa de técnica e cumprir procedimentos internos”.

Assim como outras construtoras, ele vê como promissor o segmento de saneamento pós-novo marco regulatório. O diretor-presidente avalia, porém, que para atuar no segmento, é necessário além da técnica, braço financeiro, já que o financiamento dificilmente virá da área pública e dos grandes bancos.

“A gente quer aliar parte técnica, montagem, operação, manutenção e a parte financeira. Não estamos olhando grandes projetos, mas em cidades médias”, cita, projetando para 2022 uma provável incursão na área de concessões.

A empresa, baseada em sua experiência, vê oportunidades ainda em construção de dutos e montagem eletromecânica em processamento, armazenagem e transporte de óleo e gás.

“Vemos muita tomada de preço, preparação para investimento, com execução prevista para 2021, a partir do segundo trimestre. Em 2022, é possível que já haja até escassez de mão de obra especializada”, finaliza, em tom otimista.


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