O governo federal precisa deixar de lado o marketing político (e a obsessão com eleições futuras) e acelerar a implementação de medidas práticas para a retomada econômica, privilegiando as que estão ao seu alcance e podem ser efetivadas com urgência para que 2016 produza alguns resultados positivos.
Apesar de toda pressão política que lhe seja adversa, ele tem de levar o programa de ajuste fiscal adiante para restaurar as condições macroeconômicas necessárias à retomada. Do empresário de grande porte ao comerciante da esquina, a opinião unânime é de que a dinâmica da economia brasileira foi dilapidada em sua maior parte nos anos recentes, quando o governo manteve a política distributivista de renda sem se preocupar com a geração de receita; praticou a desoneração fiscal, que custou bilhões de reais em arrecadação de impostos, e elevou o dispêndio com a máquina administrativa em prejuízo dos investimentos, inclusive na infraestrutura.
As atividades de construção e os empreendimentos de infraestrutura têm potencial para ser reativados com maior rapidez. As concessionárias de rodovias, ferrovias, saneamento, portos e energia — notadamente eólica — dispõem de bilhões de investimentos programados para atendimento dos contratos vigentes. Obras adicionais poderão ser executadas por elas em troca de prazos maiores de concessão, como ocorreu recentemente na rodovia Dutra para a construção de nova descida da Serra das Araras (RJ).
A operadora logística Rumo ALL, do grupo Cosan, no setor ferroviário, e a Arteris, no segmento rodoviário, aguardam das autoridades a aprovação necessária para substanciais investimentos adicionais extracontrato. A nova etapa de concessões federais poderia ser agilizada com a contratação de empresas de consultoria para acelerar os estudos. O governo ainda não assimilou que é preciso abrir mão de uma parte do que considera seu poder, e mobilizar a competência da iniciativa privada para colher resultados mais rápidos e duradouros na frente.
A revista O Empreiteiro vem se dedicando a divulgar a pujança das fronteiras econômicas regionais e a dinâmica dos empreendedores locais. O governo federal poderia chamar as administrações estaduais para repassar as obras de infraestrutura que estão sendo anunciadas há décadas, o que destravaria o salto para frente desses mercados. Mais uma vez, é necessário ceder para obter ganhos em menos tempo, em favor do País.
Os governos estaduais também carecem de injetar mais energia nos seus programas de concessões, além de ampliar a captação de recursos financeiros junto a entidades multilaterais no exterior. O Estado de São Paulo, por exemplo, poderia passar à iniciativa privada as linhas de metrô, na capital, cujas obras foram adiadas por conta do cenário econômico.
E quanto aos prefeitos das 100 maiores cidades brasileiras, como um extrato representativo dos 5 mil e tantos municípios, precisariam ser mais ambiciosos e ousados. Enquanto a prefeitura paulistana braceja para abrir corredores de ônibus e ciclovias, deixando de lado obras prioritárias contra as enchentes deste verão, Nova York está substituindo telefones públicos por pontos de acesso de internet de alta velocidade. Lançamos aqui um desafio para os senhores prefeitos: quem se habilita a montar um programa suficientemente ambicioso que venha a colocar a sua cidade entre as metrópoles globais em 10 anos?
Setor privado investe na nova descida da Serra das Araras (RJ) para atender antiga demanda do transporte rodoviário
Fonte: Revista O Empreiteiro