Seis meses antes do prazo estabelecido em contrato, no final de abril, as obras do trecho norte do Rodoanel Mario Covas (SP-021), na região metropolitana de São Paulo, foram reiniciadas e devem estar concluídas em setembro de 2026, afirma a Via Appia, empresa que assumiu o ramal. A construção dessa última etapa do anel viário começou em 2013 e estava paralisada desde 2018.
O fundo de investimento Via Appia Infraestrutura foi o vencedor do leilão para a concessão do trecho norte do rodoanel, realizado há um ano na B3, em São Paulo. O valor estimado dos investimentos é de R$ 3,5 bilhões, sendo que a concessionária irá aplicar R$ 2,5 bilhões e o governo paulista arcará com o restante, conforme a Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp). Via Appia, por meio da concessionária Via SP Serra, será responsável por concluir as obras do Rodoanel Norte e pela operação e manutenção da rodovia por 31 anos.
Com 44 km de extensão, o Rodoanel Norte vai completar o anel viário em torno da capital, ligando a rodovia Presidente Dutra, em Arujá, à Rodovia dos Bandeirantes, próximo à avenida Raimundo Pereira de Magalhães, na zona oeste da capital. Com a obra, os quatro trechos estarão interligados, fechando o anel viário de 176 quilômetros.
O trecho norte cortará os municípios de Arujá, Guarulhos e São Paulo, com previsão de trânsito de 65 mil veículos por dia, quando estiver totalmente concluído. Seu trajeto é fundamental para operação do rodoanel, ligando importantes rodovias e proporcionando uma alternativa que reduzirá os congestionamentos e o tráfego de veículos pesados nas marginais Tietê e Pinheiros. Segundo estimativa do governo estadual, apenas com o trecho norte serão retirados da malha urbana da capital cerca de 18 mil caminhões.
Além disso, segundo o governo paulista, o ramal vai impactar na infraestrutura viária e logística de toda a Região Metropolitana, reduzindo o tempo das viagens na cidade de São Paulo, bem como facilitará o acesso ao Porto de Santos, ampliando a capacidade de tráfego e o escoamento de produtos.
De acordo com a concessionária, para garantir o cumprimento dos prazos e a qualidade da execução das intervenções, as obras foram divididas em dois trechos: o primeiro entre as rodovias Presidente Dutra e Fernão Dias e o segundo, da Fernão Dias até a avenida Raimundo Pereira de Magalhães.
“Iniciamos as intervenções no entroncamento com a rodovia Presidente Dutra, realizando serviços de limpeza da faixa de domínio, drenagem, terraplenagem, pavimentação e abertura de acessos, além de construir e complementar quatro viadutos que interligarão a Dutra ao início do trecho norte do rodoanel”, revela Brendon Ramos, CEO da Via Appia. “Temos como meta entregar o trecho da Dutra até a Rodovia Fernão Dias no segundo semestre de 2025 e concluir o rodoanel da Fernão Dias até a Raimundo Pereira de Magalhães em setembro de 2026”, completa.
No total, o trecho assumido pela Via Appia terá 107 obras de arte especiais, incluindo pontes, viadutos e sete túneis duplos (com 11 km de extensão). As vias terão entre três e quatro faixas de rolamento, com acostamento. O ramal terá, ainda, 20 passagens de fauna (sendo seis na rodovia e 14 em estradas do entorno), quatro baias para cargas de produtos perigosos e quatro para cargas especiais. Serão instaladas duas bases do Serviço de Atendimento aos Usuários (SAU), duas balanças, um Centro de Controle de Operações (CCO) e um posto da Polícia Militar Rodoviária.
O trecho norte possui túneis que partem de 250 m de comprimento (próximo à divisa São Paulo-Guarulhos) até 1.700 m (necessários para vencer a Serra da Cantareira). Segundo a concessionária, todo o sistema de iluminação dos túneis será em LED de última geração, atendendo aos requisitos de luminescência conforme normativos do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-SP) e da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
“Optamos pelas soluções de engenharia mais seguras, pensando na construção e futura operação da via e também na segurança dos usuários”, garante Ramos. Os túneis já se encontram em sua maioria escavados, revela o CEO, e passarão por limpeza e remoção de entulhos. Na sequência, receberão novas estruturas de revestimento interno.
“Os túneis que faltam ser perfurados seguirão a metodologia já empregada de New Austrian Tunneling Method (NATM), devido às grandes aberturas para comportar as três faixas de rolamento e o acostamento. Até o momento, identificamos que a maioria do material a ser escavado é em rocha. A cada avanço na escavação, haverá uma equipe especializada para confirmar o tipo de material, bem como as soluções de escavação, revestimento e reforço a serem adotadas”, esclarece Ramos.
Já os sistemas de ventilação e combate a incêndios a serem implantados nos túneis atenderão aos mais recentes regramentos do Corpo de Bombeiros, permitindo que a rodovia inicie a sua operação já com todas as autorizações pertinentes (AVCB), relata Ramos, lembrando que os túneis terão eletrocentros (pelo menos um em cada túnel e nos mais longos, um em cada emboque), que poderão ser controlados remotamente por meio do CCO da concessionária.
De acordo com o CEO da Via Appia, um dos grandes desafios da retomada das obras do trecho norte é adaptar o planejamento de trabalho aos diferentes estágios em que as obras se encontram. “As obras de arte especiais (OAE), em sua grande maioria, já foram construídas. Cada OAE possui sua particularidade e, por isso, estão sendo analisadas de forma individualizada”, assinala.
“Com o apoio técnico do relator independente, avaliaremos a qualidade de execução por meio de inspeções especiais com base nos normativos técnicos da Artesp, bem como as possíveis avarias oriundas do processo da ação do tempo durante o período de paralisação das obras”, salienta Ramos, revelando que, após a assinatura do contrato e transferência da concessão, a empresa contratou a Intertechne como relator independente, para realizar ensaios, discussões técnicas e elaborar um relatório de vistoria com todos os vícios de engenharia encontrados ao longo do trecho norte. Para a execução das obras foi contratado o Consórcio Cantareira, formado pela OEC Engenharia e Construção e Renea Infraestrutura.
Como resultado desse trabalho – continua o executivo – na abertura ao tráfego, as obras estarão adequadas “às atualizações das normas técnicas e com um padrão mais moderno, seguro e sustentável, tanto do ponto de vista estrutural quanto funcional e de durabilidade”. Nesse sentido, ele destaca a construção de duas OAE de altura elevada – uma na divisa com o trecho oeste e outra na travessia da rodovia Presidente Dutra, com a construção de uma alça para acesso sentido Rio de Janeiro. “Nessas obras usaremos metodologias de vigas pré-moldadas em concreto e vigas metálicas”.
Fora do escopo do contrato de concessão, está sendo estudada uma conexão do Rodoanel Norte com o Aeroporto Internacional de Guarulhos. Segundo a Artesp, ela poderá ser realizada por meio de um termo aditivo entre o governo e a concessionária. A obra prevê uma ligação de 3,6 km entre o rodoanel e o terminal aeroviário – a ideia é ter uma alça entre as rodovias Fernão Dias e Dutra, que daria acesso também a Guarulhos. Atualmente, a principal conexão rodoviária ao aeroporto é pela Rodovia Hélio Smidt, que se interliga às rodovias Dutra e Ayrton Senna.
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Rodoanel promete aliviar trânsito na capital
Rodoanel Mário Covas também conhecido como Rodoanel Metropolitano de São Paulo é um anel viário com 176 km de extensão, duas pistas e seis faixas de rodagem em torno da Grande São Paulo, com a finalidade de aliviar o intenso tráfego especialmente de caminhões oriundos do interior do Estado e das diversas regiões do País e que cruzam as duas vias urbanas marginais da cidade – Marginal Pinheiros e Marginal Tietê –, provocando intenso congestionamento urbano.
Construído ao longo de duas décadas, o anel viário teve sua execução dividida em quatro trechos – Oeste, Sul, Leste e Norte. Os três primeiros – Oeste, Sul e Leste – já estão operando e foram inaugurados em 2001, 2010 e 2014, respectivamente. O rodoanel interliga as rodovias Bandeirantes, Anhanguera, Castelo Branco, Raposo Tavares, Régis Bittencourt, Imigrantes, Anchieta, Jacu Pêssego, Henrique Eroles, Ayrton Senna e Dutra, além da Hélio Smidt e Fernão Dias, quando o trecho norte estiver concluído.
Além de São Paulo, o anel viário cruza os municípios de Santana de Parnaíba, Barueri, Carapicuíba, Osasco, Cotia, Embu das Artes, Itapecerica da Serra, São Bernardo do Campo, Santo André, Ribeirão Pires, Mauá, Poá, Suzano, Itaquaquecetuba e Arujá, além de Guarulhos – quando o Rodoanel Norte estiver operando.